(Astronomia On Line - Portugal) Se sair para a rua e olhar atentamente para o céu perto do anoitecer ou do amanhecer, e se tiver acesso a uma esfera celeste relativamente escura, é provável que não tenha que esperar mais do que 15 minutos para ver um dos mais de 35.000 satélites agora em órbita da Terra.
A maioria destes "satélites" são na realidade "lixo espacial" que varia entre os 9 metros e o tamanho de uma bola de ténis. O JSpOC (Joint Space Operations Center), com sede em Vandenberg AFB na Califórnia, EUA, monitoriza constantemente todos os detritos orbitais.
E, de facto, a maioria dos satélites -- especialmente os pequenos bocados de detritos -- são demasiado ténues para serem observados à vista desarmada. Mas dependendo de quem está a contar, podem ser avistados a olho nu algumas centenas. Estes são os satélites grandes o suficiente (regularmente com mais de 6 metros) e baixos o suficiente (160 a 640 km por cima da Terra) para serem observados quando reflectem luz solar.
A Estação Espacial Internacional (ou ISS) é de longe o maior e o mais brilhante de todos os objectos feitos pelo Homem em órbita da Terra.
A construção orbital da estação começou em 1998, tem acabamento previsto para 2011, e as operações irão continuar até por volta de 2015. Com mais de quatro vezes o tamanho da defunta Estação Espacial Mir, a ISS, quando terminada, terá uma massa de aproximadamente 520 toneladas e medirá 109 metros de comprimento por 88 de largura, com quase 4000 metros quadrados de painéis solares a providenciar energia eléctrica para seis laboratórios científicos topo-de-gama.
Actualmente em órbita da Terra a uma altitude média de 348 km e a uma velocidade de 27.700 km/h, completa 15,7 órbitas por dia e pode parecer mover-se tão depressa como um avião a jacto a alta altitude, por vezes demorando entre 4-5 minutos para percorrer o céu. Devido ao seu tamanho e à configuração dos seus painéis solares altamente reflectivos, a estação espacial é agora, e de longe, o mais brilhante objecto construído pelo Homem em órbita da Terra.
Em passagens favoráveis, pode parecer até mais brilhante que o planeta Vénus, com magnitude -4,5, e umas 16 vezes mais brilhante que Sirius, a estrela mais brilhante do céu nocturno. Há quem estime que atinja magnitude -5 ou -6 (números mais pequenos representam objectos mais brilhantes, nesta escala astronómica).
E como um bónus, a luz solar que é reflectida directamente dos seus painéis solares pode por vezes fazer com que a ISS pareça aumentar repentinamente de brilho, até magnitude -8: mais de 16 vezes o brilho de Vénus!
Além da ISS, também podemos tentar observar o vaivém espacial naquelas missões em que um se aproxima ou se afasta da estação espacial.
Também visível a olho nu, o recém-actualizado Telescópio Espacial Hubble.
E com bons binóculos, poderá também tentar avistar a infame "mala de ferramentas da ISS" que escapou acidentalmente para o espaço quando a veterana astronauta Heide Stefanyshyn-Piper fazia um passeio espacial a 18 de Novembro do ano passado.
Entre estes dias e o final de Julho, nós Europeus (e também os Norte-Americanos) teremos muitas oportunidades de ver a ISS passar por cima de nossas casas, graças principalmente a uma circunstância sazonal.
As noites são curtas e o tempo em que um satélite numa órbita terrestre baixa (como a ISS) pode permanecer iluminado pelo Sol pode prolongar-se pela noite dentro, uma situação que nunca pode ser alcançada durante outras alturas do ano. Dado que a ISS orbita a Terra a uma média de 90 minutos, isto significa que é possível vê-la não apenas uma única vez, mas em várias passagens consecutivas.
Mais: a ISS roda em torno da Terra numa órbita inclinada 51,6º em relação ao equador, o que torna possível a observação de dois tipos de passagens.
No primeiro caso (chamemos-lhe de passagem "Tipo I"), a ISS aparece inicialmente na parte Sudoeste do céu e desloca-se para Nordeste.
Cerca de sete ou oito horas depois, torna-se possível observar um segundo tipo de passagem (a que chamaremos de "Tipo II"), mas desta vez com a ISS inicialmente a aparecer na porção Noroeste do céu e a deslocar-se para Sudeste.
Durante esta e a próxima semana, serão inicialmente visíveis passagens do Tipo I, às primeiras horas da manhã, antes do nascer-do-Sol. No início de Julho, as passagens de Tipo I serão visíveis à noite, mesmo depois do pôr-do-Sol, enquanto as passagens de Tipo II terão lugar ao início da manhã. No final de Julho, a visibilidade das passagens de Tipo II terá mudado para as horas nocturnas.
Então qual é o calendário de observação para a sua cidade? Pode facilmente descobrir visitando os links no final do artigo.
Cada perguntará a sua localização ou a cidade que pretende, e mostrará uma lista de alturas boas para observação. As previsões calculadas com alguns dias de antecedência têm normalmente um erro de poucos minutos. No entanto, podem mudar devido ao lento decaímento da órbita da estação espacial e às correcções periódicas para altitudes maiores. Verifique frequentemente as actualizações.
Algumas passagens são melhores que outras. Se a ISS não passar mais que 20 graus acima do seu horizonte local, é provável que não fique muito mais brilhante que segunda ou terceira magnitude (10 graus é o equivalente ao tamanho do seu punho à distância do braço esticado). Em adição, com passagens tão baixas, a ISS provavelmente será visível apenas durante um minuto ou dois. Reciprocamente, as passagens mais altas no céu - especialmente aquelas acima dos 45 graus - duram mais tempo e são bem mais brilhantes.
As melhores circunstâncias de observação são aquelas que levam a ISS num arco alto pelo céu cerca de 45 a 60 minutos após o pôr-do-Sol, ou 45 a 60 minutos antes do nascer-do-Sol. Em tais casos, a ISS demorará entre 4 e 5 minutos a atravessar o céu; provavelmente ficará muito brilhante e a probabilidade de entrar na sombra da Terra é muito baixa ou nula.
Embora a ISS pareça uma estrela errante à vista desarmada, aqueles capazes de treinar um telescópio para a observar terão a felicidade de detectar a sua forma de T à medida que viaja pelo seu campo de visão. Há até quem tenha conseguido acompanhar a ISS com o seu telescópio ao movê-lo pelo seu percurso previsto. Quem o conseguiu, descreve o corpo da Estação Espacial Internacional como tendo uma cor esbranquiçada e brilhante, enquanto os painéis solares têm um avermelhado tipo-cobre.
Durante as passagens nocturnas, a ISS começa razoavelmente ténue e depois tende a aumentar de brilho à medida que se move pelo céu. Em contraste, durante as passagens da manhã, a ISS já estará bem brilhante quando aparece e tenderá a diminuir de brilho para o fim da sua passagem prevista. Isto é devido à mudança no ângulo de luz solar atingindo a estação.
Por fim, lembre-se que em certos casos, a ISS ou desaparecerá rapidamente quando passar pela sombra da Terra (durante as passagens nocturnas) ou aparecerá repentinamente quando saír dessa zona (durante as passagens da manhã). Isto torna-se cada vez mais provável para as passagens que ocorrem mais de 90 minutos após o pôr-do-Sol ou mais de 90 minutos antes do nascer-do-Sol.
Links:
Sites com tabelas de observação de satélites:
Estação Espacial Internacional (ISS):
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