(Inovação Tecnológica) Há 40 anos, ficava estampada cuidadosamente na Lua a primeira pegada de um ser humano fora da Terra.
Armstrong não passou à história pelos rastros que deixou - as pegadas da foto famosa foram feitas por Aldrin - mas pelas suas palavras "Um pequeno passo para um homem, mas um salto gigantesco para a humanidade".
Talvez ele estivesse errado. Por mais que desejemos, nos milênios de história registrada nos passos de nossos antepassados, aqui na Terra ou fora dela, a humanidade nunca deu saltos.
Sempre prosseguimos dando passos, alguns vigorosos, é verdade, mas a maioria deles sempre foram passos de gueixa. Muitos foram dados para a frente, e o presente, contraposto a um passado mesmo recente, nos mostra isso, mas muitos passos foram dados para trás.
A exploração espacial representou vários passos vigorosos em nossa história, mesmo que ela não tenha sido inspirada pelo anseio de progresso humano ou pelo interesse científico - Kennedy não estava interessado em descobertas ou mesmo na ciência, o único objetivo dos políticos norte-americanos da década de 60 era superar os soviéticos.
Mas, uma ação qualquer, uma vez libertada pela vontade, cria vida própria e passa a gerar seus próprios frutos, a maioria deles não pensados por aquele que agiu inicialmente. E a colheita daquilo que vem sendo plantado desde o início da exploração espacial, e que o foi na ida à Lua em particular, tem sido proveitosa. Se o homem tivesse que fazer tudo novamente, estou certo de que deveria fazê-lo.
A necessidade que temos de épicos, e de seus heróis, contudo, frequentemente atrapalha o registro histórico. A escala de importância dos fatos, quando contados pela história, não obedece ao benefício real que tais fatos trazem para a humanidade, obedece antes à sua possibilidade de personificação - a possibilidade de que cada humano coloque-se naquele lugar e sinta como se ele mesmo fosse o motor da história, o grande ator, o criador daquele momento.
As palavras e os passos de Armstrong, as pegadas de Aldrin, e até o retiro sereno de Collins em órbita, servem bem ao épico, à história e às comemorações. E devem ser de fato brindados, porque coroam o épico.
Mas, como muitos sábios já disseram, o grande valor da jornada está no próprio caminhar. E as grandes estrofes da missão Apollo, que já lhe garantiriam a história, ainda que o pouso nunca tivesse acontecido, haviam sido escritas três apollos antes, quando a Apollo 8 fez a foto da Terra crescente, quando o desconhecido Bill Anders fotografou o nascer da Terra. Foi na véspera de Natal daquele ano que não poderia ser mais propício, 1968, que o quadro maravilhoso desenhou-se na janela da espaçonave. Uma cena que deixou estupefatos os astronautas, e deixaria bilhões de outros terráqueos igualmente admirados.
Foi esta a primeira vez que os humanos vimos a Terra em toda a sua fragilidade, contraposta à superfície de um outro corpo celeste. Em toda a sua magnificência e beleza, é verdade, mas apenas um planetinha, aquele "pálido ponto azul na imensidão do cosmos," como o chamaria Carl Sagan.
Esta foto do nascer da Terra marcou outro nascimento, o da consciência ecológica, o início do importar-se com nosso planeta. Até 1968, preocupar-se com o meio ambiente era coisa de hippies. Agora, pela primeira vez, víamos nosso lar à distância, e o víamos solitário, contrastando com toda a imensidão do espaço. Talvez pela primeira vez, tenhamos nos sentido como humanidade, como conjunto, como se fôssemos um só. Tivemos que ir ao espaço para descobrir nosso próprio planeta.
Mas não demos um salto, não nos transformamos numa nova humanidade e tampouco demos um salto evolutivo que pudesse nos irmanar de vez. Tudo foi apenas um passo. O primeiro de uma longa caminhada que se iniciou então, rumo à preservação do nosso planeta.
Navegar é mesmo preciso. Navegar pelo espaço pode ter-nos salvo do extermínio.
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