21 de out. de 2009

Acelerador de partículas LHC voltará a funcionar a meia potência na Europa


(Folha) O maior acelerador de partículas já construído deve voltar a funcionar logo, mas os físicos que dirigem o projeto decidiram, com o perdão da piada, pôr um pé no freio. O LHC (Grande Colisor de Hádrons), experimento de física mais esperado da década, deve reiniciar entre o meio de novembro e o início de dezembro, mas durante o primeiro ano de funcionamento a máquina vai operar com metade de seu potencial de energia, por precaução.

O LHC chegou a ser inaugurado em setembro do ano passado, mas parou na semana seguinte após uma pane. Instalado num túnel circular de 27 km na fronteira da Suíça com a França, o experimento promoverá a colisão de partículas em alta energia para investigar a natureza dos átomos e de seus subcomponentes. Entre os principais objetivos do projeto está a detecção do chamado bóson de Higgs, partícula que, segundo teorias, é a responsável por conferir massa à matéria.

De acordo com o Cern (Organização Europeia para Pesquisa Nuclear), centro que abriga o LHC, o acidente do ano passado ocorreu porque os subsistemas do acelerador foram testados quase em seu potencial máximo. Isso acabou exigindo um desempenho muito grande e sobrecarregando a máquina.

Após uma análise delicada da pane, os cientistas descobriram um problema de soldagem no acelerador, em seu sistema de imãs supercondutores --os componentes que fazem as partículas andarem. A sobrecarga gerou uma faísca que fez vazar e explodir um reservatório de hélio liquido, usado para resfriar a estrutura. O acidente danificou 29 dos superímãs.

O LHC foi projetado para rodar com 7 TeV (teraelétron-volts, uma medida de energia). Isso significa que cada núcleo de átomo voando no acelerador chega quase à velocidade da luz.

Após o acidente, porém, engenheiros concluíram que o atual sistema de soldas não dá conta de manter os ímãs funcionando numa potência suficiente para tal. Para isso seria preciso reprojetá-lo, o que levaria mais tempo. A direção do projeto, então, decidiu não pisar muito fundo, por enquanto.

"Escolhemos manter as coisas em 3,5 TeV para os primeiros meses rodando", diz James Gillies, porta-voz do Cern. A reforma necessária para atingir o nível máximo de energia com segurança deve ser feita só na passagem de 2010 para 2011, no inverno, quando o laboratório costuma entrar em recesso.

Cautela otimista
Partículas colidindo a 3,5 TeV, porém, deverão ser suficientes para criar o bóson de Higgs, diz o Cern. E, com um ano de atraso, sobram motivos para ter pressa agora.

Um outro acelerador de partículas, o Tevatron, do Fermilab, perto de Chicago, tem uma pequena chance de detectar o bóson rodando a cerca de 2 TeV --o que seria um tremendo anticlímax no Cern. A pressão para iniciar logo o LHC, que antes partia de políticos que ajudaram a aprovar fundos para o projeto e da diretoria do Cern, agora sai dos próprios físicos.

"Muitos estudantes que estavam esperando dados importantes para tentar terminar suas teses aqui viajaram neste ano para o Fermilab para tentar obtê-los lá", diz Gillies.

O Fermilab é visto mais como parceiro do Cern do que como concorrente, e até agora pouca gente acha que ele ainda tem chance de achar a partícula de Higgs. Alguns físicos do LHC, porém, estão mudando essa visão sobre os americanos.

"Eles têm a vantagem de já conhecerem bem o detector deles, que está funcionando há muitos anos", diz Denis Damázio, cientista brasileiro no Atlas, um dos detectores de partículas do LHC. Ele e seus colegas estão trabalhando agora 24 horas por dia, revezando-se em turnos, para adiantar a calibragem dos instrumentos.

A sintonia fina, porém, só começará quando o acelerador for religado. Segundo Damázio, alguns físicos avaliam que houve erro de estratégia. Se o LHC tivesse rodado por alguns meses em energias mais baixas após ser ligado em 2008, mesmo que a pane acontecesse depois, o início da etapa do experimento que de fato produz ciência nova demoraria menos.

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