
(Giselle Soares - Agência FUNCAP) Como conceituar divulgação científica? A tarefa parece difícil mesmo para grandes nomes da ciência no Brasil. Se tomarmos como exemplo a definição do cientista, jornalista e divulgador científico José Reis, falecido aos 94 anos em 2002, veremos quão complicado é o conceito. Segundo o professor José Reis, a divulgação científica não se cristaliza em uma definição, pois isso representaria a redução do próprio movimento de se divulgar ciência e tecnologia. Na opinião do cientista, cabe à divulgação científica realizar duas funções que se complementam: ensinar, suprindo ou ampliando o papel da própria escola e fomentar o ensino.
Infelizmente, a maioria das escolas ainda utiliza métodos defasados no ensino de ciências. Os alunos aprendem ou decoram conteúdos distantes de seu cotidiano. Falta experimentação e vontade de demonstrar aos estudantes a importância da ciência. No entanto, nos últimos anos, essa situação parece estar mudando. Surgem revistas sobre ciência dedicadas a crianças e aumenta o número de clubes de ciência e de astronomia que estimulam a elaboração de experimentos em feiras escolares. Além disso, o trabalho dos museus científicos, como a Seara da Ciência, com as escolas tem se intensificado.
No Ceará, essa mudança já pode ser percebida inclusive no interior do estado. Exemplo disso é a Feira de Ciências das Escolas Públicas Municipais de Limoeiro do Norte, que em 2009 entrou em sua quarta edição, com participação direta de aproximadamente 1.200 estudantes, integrantes de equipes de vinte escolas municipais, e exposição de 363 experimentos.
A feira, que acontece desde 2006, é uma iniciativa da Secretaria de Educação do município. Segundo o coordenador de ciências da prefeitura de Limoeiro, Edgardo de Sousa Bessa, quarenta professores do ensino básico das escolas públicas da cidade são capacitados mensalmente. “Nossa idéia é intensificar a experimentação no ensino de ciências. Durante essas capacitações, abordamos tanto conteúdos teóricos quanto tópicos relacionados à filosofia da educação”, afirma Edgardo.
Além dos 1.200 alunos participantes da feira, outros 156 alunos, membros dos núcleos
de ciências do município, realizaram experiências mais complexas, resultados de pesquisas desenvolvidas durante o ano letivo de 2009. Os núcleos são grupos formados em treze escolas por estudantes que dedicam mais tempo à investigação científica. Esses alunos são responsáveis pelo mural da ciência das escolas, que contém matérias de jornais e outros textos escritos por estudantes, e pelo jornal da ciência, que circula nas comunidades onde a escola está situada. Eles também elaboram projetos interdisciplinares, abordando temas relacionados a ciências, história e geografia, e participam de montagens teatrais com roteiros elaborados pela Seara da Ciência ou construídos localmente.
De acordo com Edgardo, a seleção para os trabalhos expostos no evento é feita durante as feiras de ciências de cada escola, que contam com a participação de todos os estudantes do 4º ao 9º ano. Os melhores experimentos receberam trinta computadores, trinta bicicletas e trinta aparelhos de DVDs para os alunos classificados em primeiro, segundo e terceiro lugar, respectivamente. Além disso, medalhas foram entregues aos estudantes e professores e as escolas que ficaram com os três primeiros lugares receberam troféus.
Seara da Ciência: da universidade para as escolas
Seara da Ciência é o espaço de divulgação científica e tecnológica da Universidade Federal do Ceará que tem por objetivo estimular a curiosidade pela ciência, cultura e tecnologia, demonstrando relações com o cotidiano e promovendo a interdisciplinaridade entre diversas áreas do conhecimento.
O espaço conta com laboratórios de pesquisa e um salão de exposições. A Seara também oferece cursos a estudantes e professores de escolas públicas, seu principal público-alvo, e elabora peças de teatro e shows científicos para que os visitantes possam despertar para a pesquisa. De acordo com o professor José Evangelista, representante da área de Ciências Exatas da Seara, diariamente são recebidas cerca de cem pessoas de escolas públicas ou particulares da capital e do interior, em visitas programadas ou não.
Semestralmente, são oferecidos cursos experimentais a alunos de nível médio nas áreas de Química Física e Biologia. As aulas são ministradas por monitores treinados e supervisionadas pelos coordenadores da Seara. Além disso, em janeiro e julho, tradicionais meses de férias, estudantes e professores participam do projeto Interação Ciência e Educação – Busca de Jovens Talentosos, um curso que tem como objetivo selecionar quatro estudantes para um estágio com bolsa em laboratórios de pesquisa da UFC, sob orientação de pesquisadores que os conduzem nas atividades de iniciação científica. Durante o curso, também são selecionados dois professores para estagiarem na própria Seara, onde pesquisam novas formas de transmissão do conhecimento, desenvolvem objetos e aparelhos que demonstram fenômenos e princípios científicos e ajudam a orientar os alunos e monitores do salão de exposições.
Outras atividades desenvolvidas pela Seara são o show “Magia da Ciência”, uma combinação de fenômenos instigantes da Física, Química e Biologia, apresentado em eventos científicos e em colégios, e o grupo de teatro científico, que apresenta peças e esquetes abordando temas como a importância dos insetos e o funcionamento do corpo humano e monólogos que contam, de maneira resumida, a história de cientistas internacionalmente renomados como Einstein, Lavoisier e Darwin. A montagem e os textos são de Betânia Montenegro, professora de expressão corporal do Curso de Arte Dramática do Instituto de Cultura e Arte.
Segundo o professor Evangelista, ainda não foi feito um levantamento rigoroso do impacto das atividades entre os estudantes e professores de ciências. No entanto, a equipe da Seara acredita que esse trabalho está rendendo frutos. “O Salão de Exposições é bastante visitado, os cursos básicos de Física, Química, Biologia e Matemática têm suas vagas (300 por semestre) preenchidas quase no mesmo dia em que as matrículas são abertas. As apresentações do Teatro Científico e dos shows Magia da Ciência sempre provocam grande entusiasmo e participação ao se apresentarem em escolas e colégios. Esse tipo de trabalho é ainda novo e pouco utilizado no sistema educacional brasileiro”, afirma.
Evangelista acrescenta, ainda , que o objetivo central da Seara não é ensinar ciência. “Isso deve ser feito na sala de aula e no laboratório, principalmente. Temos segurança de que uma criança ou adolescente que tem oportunidade de interagir com os experimentos do Salão ou com as apresentações do Teatro Científico e do show Magia da Ciência vai aceitar com mais facilidade o ensino formal, quando ele é aplicado” diz o professor.
No segundo semestre de 2010, a Seara vai se mudar para uma nova e ampla sede, no Campus do Pici da UFC, onde se localizam os cursos das áreas de ciências e tecnologias. O prédio terá um salão de exposições com área três vezes maior que o atual, um teatro com 220 poltronas, quatro laboratórios didáticos, vinte salas de aula, espaço para congressos e oficinas e gabinetes de professores. “Com essas novas instalações, nosso trabalho terá alcance ainda maior e poderemos dar início a algumas iniciativas inovadoras que são impossíveis de serem executadas no prédio atual”, comemora.
Mais informações sobre a Seara podem ser obtidas no site http://www.searadaciencia.ufc.br/
Infelizmente, a maioria das escolas ainda utiliza métodos defasados no ensino de ciências. Os alunos aprendem ou decoram conteúdos distantes de seu cotidiano. Falta experimentação e vontade de demonstrar aos estudantes a importância da ciência. No entanto, nos últimos anos, essa situação parece estar mudando. Surgem revistas sobre ciência dedicadas a crianças e aumenta o número de clubes de ciência e de astronomia que estimulam a elaboração de experimentos em feiras escolares. Além disso, o trabalho dos museus científicos, como a Seara da Ciência, com as escolas tem se intensificado.
No Ceará, essa mudança já pode ser percebida inclusive no interior do estado. Exemplo disso é a Feira de Ciências das Escolas Públicas Municipais de Limoeiro do Norte, que em 2009 entrou em sua quarta edição, com participação direta de aproximadamente 1.200 estudantes, integrantes de equipes de vinte escolas municipais, e exposição de 363 experimentos.
A feira, que acontece desde 2006, é uma iniciativa da Secretaria de Educação do município. Segundo o coordenador de ciências da prefeitura de Limoeiro, Edgardo de Sousa Bessa, quarenta professores do ensino básico das escolas públicas da cidade são capacitados mensalmente. “Nossa idéia é intensificar a experimentação no ensino de ciências. Durante essas capacitações, abordamos tanto conteúdos teóricos quanto tópicos relacionados à filosofia da educação”, afirma Edgardo.
Além dos 1.200 alunos participantes da feira, outros 156 alunos, membros dos núcleos
de ciências do município, realizaram experiências mais complexas, resultados de pesquisas desenvolvidas durante o ano letivo de 2009. Os núcleos são grupos formados em treze escolas por estudantes que dedicam mais tempo à investigação científica. Esses alunos são responsáveis pelo mural da ciência das escolas, que contém matérias de jornais e outros textos escritos por estudantes, e pelo jornal da ciência, que circula nas comunidades onde a escola está situada. Eles também elaboram projetos interdisciplinares, abordando temas relacionados a ciências, história e geografia, e participam de montagens teatrais com roteiros elaborados pela Seara da Ciência ou construídos localmente.
De acordo com Edgardo, a seleção para os trabalhos expostos no evento é feita durante as feiras de ciências de cada escola, que contam com a participação de todos os estudantes do 4º ao 9º ano. Os melhores experimentos receberam trinta computadores, trinta bicicletas e trinta aparelhos de DVDs para os alunos classificados em primeiro, segundo e terceiro lugar, respectivamente. Além disso, medalhas foram entregues aos estudantes e professores e as escolas que ficaram com os três primeiros lugares receberam troféus.
Seara da Ciência: da universidade para as escolas
Seara da Ciência é o espaço de divulgação científica e tecnológica da Universidade Federal do Ceará que tem por objetivo estimular a curiosidade pela ciência, cultura e tecnologia, demonstrando relações com o cotidiano e promovendo a interdisciplinaridade entre diversas áreas do conhecimento.
O espaço conta com laboratórios de pesquisa e um salão de exposições. A Seara também oferece cursos a estudantes e professores de escolas públicas, seu principal público-alvo, e elabora peças de teatro e shows científicos para que os visitantes possam despertar para a pesquisa. De acordo com o professor José Evangelista, representante da área de Ciências Exatas da Seara, diariamente são recebidas cerca de cem pessoas de escolas públicas ou particulares da capital e do interior, em visitas programadas ou não.
Semestralmente, são oferecidos cursos experimentais a alunos de nível médio nas áreas de Química Física e Biologia. As aulas são ministradas por monitores treinados e supervisionadas pelos coordenadores da Seara. Além disso, em janeiro e julho, tradicionais meses de férias, estudantes e professores participam do projeto Interação Ciência e Educação – Busca de Jovens Talentosos, um curso que tem como objetivo selecionar quatro estudantes para um estágio com bolsa em laboratórios de pesquisa da UFC, sob orientação de pesquisadores que os conduzem nas atividades de iniciação científica. Durante o curso, também são selecionados dois professores para estagiarem na própria Seara, onde pesquisam novas formas de transmissão do conhecimento, desenvolvem objetos e aparelhos que demonstram fenômenos e princípios científicos e ajudam a orientar os alunos e monitores do salão de exposições.
Outras atividades desenvolvidas pela Seara são o show “Magia da Ciência”, uma combinação de fenômenos instigantes da Física, Química e Biologia, apresentado em eventos científicos e em colégios, e o grupo de teatro científico, que apresenta peças e esquetes abordando temas como a importância dos insetos e o funcionamento do corpo humano e monólogos que contam, de maneira resumida, a história de cientistas internacionalmente renomados como Einstein, Lavoisier e Darwin. A montagem e os textos são de Betânia Montenegro, professora de expressão corporal do Curso de Arte Dramática do Instituto de Cultura e Arte.
Segundo o professor Evangelista, ainda não foi feito um levantamento rigoroso do impacto das atividades entre os estudantes e professores de ciências. No entanto, a equipe da Seara acredita que esse trabalho está rendendo frutos. “O Salão de Exposições é bastante visitado, os cursos básicos de Física, Química, Biologia e Matemática têm suas vagas (300 por semestre) preenchidas quase no mesmo dia em que as matrículas são abertas. As apresentações do Teatro Científico e dos shows Magia da Ciência sempre provocam grande entusiasmo e participação ao se apresentarem em escolas e colégios. Esse tipo de trabalho é ainda novo e pouco utilizado no sistema educacional brasileiro”, afirma.
Evangelista acrescenta, ainda , que o objetivo central da Seara não é ensinar ciência. “Isso deve ser feito na sala de aula e no laboratório, principalmente. Temos segurança de que uma criança ou adolescente que tem oportunidade de interagir com os experimentos do Salão ou com as apresentações do Teatro Científico e do show Magia da Ciência vai aceitar com mais facilidade o ensino formal, quando ele é aplicado” diz o professor.
No segundo semestre de 2010, a Seara vai se mudar para uma nova e ampla sede, no Campus do Pici da UFC, onde se localizam os cursos das áreas de ciências e tecnologias. O prédio terá um salão de exposições com área três vezes maior que o atual, um teatro com 220 poltronas, quatro laboratórios didáticos, vinte salas de aula, espaço para congressos e oficinas e gabinetes de professores. “Com essas novas instalações, nosso trabalho terá alcance ainda maior e poderemos dar início a algumas iniciativas inovadoras que são impossíveis de serem executadas no prédio atual”, comemora.
Mais informações sobre a Seara podem ser obtidas no site http://www.searadaciencia.ufc.br/
GAEA: Astronomia para todos
Outra iniciativa importante para a divulgação científica no Ceará tem sido o surgimento dos clubes e grupos de astronomia, matéria antes distante do cotidiano dos estudantes. Nesse sentido, o Grupo de Apoio em Eventos Astronômicos (GaeA), criado em 2009, tem tido papel significativo. Leigos, entusiastas, amadores e profissionais de Astronomia podem participar do GaeA através dos vários núcleos de trabalho do grupo, que têm por objetivo difundir a Astronomia, considerada “a mãe de todas as ciências”. Nesses núcleos, podem ser encontradas notícias, artigos, dicas e outros materiais relacionados à área de trabalho de cada um (Sistema Solar, Astrofísica Estelar, Astrofotografia, Astrometria, Astronáutica, entre outros temas).
O GaeA possui um projeto chamado Semeastro, voltado para escolas cearenses. Representantes do grupo vão até a escola e oferecem cursos com carga horária pequena. “Após o término do curso, os alunos são convidados a continuar com aulas práticas na própria escola. Dessa forma, surge um primeiro grupo de estudantes interessados que provavelmente será futuro clube de astronomia vinculado à escola”, explica o astrônomo presidente do GaeA Saulo Machado.
Saulo ressalta que em dois meses o grupo desenvolveu atividades em três escolas públicas. “Duas estão em processo inicial e uma já está tão avançada que a diretoria já demonstra interesse em montar um laboratório astronômico e participar da Olimpíada Brasileira de Astronomia no ano que vem. Esses cursos são de custo baixo, o mais caro por aluno é de apenas dez reais, taxa que serve para pagar o custo do material didático. Após as aulas, o único custo adicional para os alunos são as fotocópias das atividades”.
Além dos cursos, o GaeA apresenta gratuitamente uma série de eventos astronômicos nas escolas públicas. São palestras, exposições, exibição de filmes, entre outros. O grupo também possui parcerias com clubes de Astronomia para viabilizar sessões ao vivo de observação do céu em algumas ocasiões.
O presidente do grupo avalia o impacto inicial das atividades como positivo. “A interdisciplinaridade da Astronomia ajuda o GaeA a moldar suas atividades conforme o currículo escolar. Muitos alunos não sabem que várias disciplinas abordadas nas escolas durante o ano letivo se desenvolveram graças às observações do céu. É essa lacuna que exploramos através de atividades adaptadas ao cotidiano dos estudantes”, afirma Saulo.
Durante as atividades do GaeA junto às escolas, os representantes do grupo observam o grau de interesse dos alunos sobre questões que envolvem o Universo. “Somos constantemente ‘bombardeados’ com inúmeras perguntas sobre o cosmos durante os eventos. Isso é excelente, mas depois que vamos embora, que a novidade se vai, muito desse interesse se perde. O que as instituições ligadas à difusão científica estão fazendo é criar mecanismos para que o interesse pelo Universo não seja algo ocasional e sim permanente”, destaca o presidente do grupo.
De acordo com ele, na Astronomia, demonstrações práticas vinculadas às abordagens teóricas e visuais ajudam a desenvolver a capacidade cognitiva das pessoas em idade de formação. “A Astronomia complementa o ensino formal, de forma que todo esse conteúdo pode influenciar o interesse do aluno e conseqüentemente a escolha por profissão ligada às ciências”.
Ele lembra, ainda, que não existe no Brasil a Astronomia como disciplina obrigatória nas escolas. “Isso faz com que instituições amadoras e profissionais procurem criar alternativas para preencher essa lacuna na educação”, finaliza.
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