16 de jul. de 2010

Big Bang e inovação tecnológica

Cosmólogo brasileiro defende cenário de um Universo eterno e dinâmico, em contraposição ao modelo hegemônico da grande explosão que originou a matéria.


(Alexandre Caroli Rocha - Com Ciência) Muito antes de tornar-se tema de investigação científica, a origem do Universo estava presente na mitologia das civilizações, na religião e na metafísica. No século passado, pesquisadores propuseram diversos modelos teóricos para tentar compreender a origem, a estrutura e a evolução do Universo. No livro Do Big Bang ao Universo eterno (Zahar, 2010), o cosmólogo brasileiro Mário Novello, coordenador da seção brasileira do Centro Internacional de Astrofísica Relativista (ICRA), empreende a difícil tarefa de sintetizar, para leitores não especialistas, os principais momentos da cosmologia moderna, iniciada pouco tempo depois do advento da relatividade geral, teoria criada por Albert Einstein para descrever a força gravitacional.

O propósito do autor é mostrar que o modelo cosmológico conhecido como Big Bang – segundo o qual o Universo teria sido criado por uma grande explosão ocorrida há poucos bilhões de anos – está perdendo a posição hegemônica que obteve entre 1970 e 2000. Novello, que em 2004 recebeu o título de doutor honoris causa da Universidade de Lyon, na França, como reconhecimento por suas pesquisas, defende a tese de que o Universo é eterno e dinâmico. Em 1979, junto com José Martins Salim, a quem o livro é dedicado, ele criou um modelo cosmológico de acordo com o qual o Universo "possuiria uma fase anterior de colapso em que o volume diminui com o tempo, atinge um valor mínimo e depois passa a se expandir" (p. 122).

O primeiro modelo cosmológico relativista foi proposto em 1917 por Einstein, que representou o Universo como finito e estático; não existiria variação do volume total do espaço tridimensional com o tempo. Nos anos 1920, o físico russo Alexander Friedmann cria a proposta de que o Universo se expande a partir de seu início, quando o volume é zero, e depois sustenta que a estrutura do espaço tridimensional permite que o volume total do Universo aumente sem limites. Em 1927, o padre e astrônomo belga Georges Lemaître apresenta a hipótese do átomo primordial, cuja desintegração radioativa teria gerado o Universo em expansão.

Novello considera que a descoberta do astrônomo americano Edwin P. Hubble foi uma das mais importantes da cosmologia. Em 1929, Hubble demonstrou, com base em observações de afastamento de galáxias, que a totalidade do Universo estava em expansão. Outros marcos cosmológicos mencionados no livro são a posição do físico George Gamow – propondo que o Universo em expansão teve uma fase primordial extremamente quente, quando teriam sido produzidos o hidrogênio e o hélio – e a detecção dos radioastrônomos Arno Penzias e Robert Wilson, em 1963, de uma radiação cósmica de fundo, que foi interpretada como uma evidência do modelo Big Bang.

Para Novello, o Big Bang, tal como foi sustentado por alguns cientistas e divulgado maciçamente na mídia mundial, que o assimilou como verdade definitiva, não passa de um mito científico. Ele explica que não há dúvida de que o Universo foi extremamente condensado no passado, mas não há consenso a respeito do que teria ocorrido quando o Universo se encontrava no momento de condensação máxima. O modelo Big Bang identifica esse momento com o início de tudo o que existe – de forma arbitrária, segundo o autor. O livro de Novello elenca uma série de razões, de ordem científica, ideológica e pragmática, que explicam por que o modelo Big Bang conquistou tamanha repercussão ao longo de três décadas.

No cenário do Universo eterno e dinâmico, Novello propõe que, num passado muito remoto, o chamado vazio quântico, uma combinação de matéria e antimatéria, sofreu uma instabilidade, por causa da qual o Universo entrou em colapso, de modo que seu volume foi se reduzindo até chegar perto de zero. A partir de então, a matéria começa a surgir e o Universo passa a expandir-se, até chegar à fase em que se encontra atualmente.

Além da sofisticada discussão sobre a cosmologia dos últimos cem anos, Novello demonstra um gosto especial em desmistificar o senso comum relacionado aos cientistas, sujeitos, como qualquer pessoa, à arrogância, preconceitos, ideologias, que não ficam de fora das explicações cosmológicas que constroem, tampouco dos bastidores científicos comentados pelo autor. Ele ressalta que a ciência produz verdades provisórias: às vezes "uma dada explicação se mostra tão eficiente que os cientistas caem na tentação de considerá-la a verdadeira descrição da realidade, quando se trata somente de uma representação" (p. 91).

Do legado do século passado, Novello destaca a contribuição de Friedmann, que introduziu a dinâmica no próprio Universo; do físico Paul Dirac, para quem as propriedades globais influenciam a formação das leis físicas; e de Kurt Gödel, matemático que, com base nas equações da Relatividade Geral, produziu um cenário que contesta a noção de tempo único global.

O último grande evento cosmológico tratado no livro são as fortes evidências observacionais, obtidas em 1998, de que o Universo estaria atualmente passando por uma fase de expansão acelerada. Não se sabe ao certo o que estaria acelerando o Universo, mas uma das implicações dessa aceleração seria a impossibilidade teórica de que o Universo tenha tido um começo singular em um tempo finito. O livro de Novello é curto, mas de grande densidade, e prevê muitas novidades para a cosmologia nas próximas décadas.


Título: Do Big Bang ao Universo eterno
Autor: Mário Novello
Editora: Jorge Zahar
Ano: 2010
Páginas: 130

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