Recebemos a triste notícia do falecimento hoje de manhã do astrônomo Marcomede Rangel Nunes, membro do Observatório Nacional - MCT (RJ), autor de mais de 30 obras de divulgação científica, entre livros e mapas, além de colaborador para revistas e jornais. Era membro do NGC-51, CANF e CARJ.Marcomede Rangel foi agraciado com o título de Benemérito do Estado do Rio de Janeiro. Há cerca de uma semana foi vítima de um forte AVC.
----
Sérgio Lomônaco (ECV) sobre Marcomede:
Para quem não o conheceu, começo chamando-o de "Marcometa", pois aproveitando a movimentação da passagem do cometa Halley nos anos 80, catalizou o interesse pela astronomia, promovendo sessões de observação do céu, publicando folhetos e abrindo espaço para que muitos astrônomos amadores fossem levados, com seus telescópios, a cidades pequenas onde mostravam o céu para centenas de pessoas.
Também mantinha estreito contato com políticos na busca de reconhecimento público pelo trabalho de divulgação científica realizado por amadores e voluntários.
Depois da passagem do cometa, passamos a chama-lo de '"Marcomídia", pois estabeleceu ligações com jornalistas e repórteres, colocando em jornais, revistas e tv o entusiasmo dos astrônomos amadores de todo o Brasil. Viajou por todo o país apoiando e incentivando as associações amadoras e sempre esteve de braços abertos no Observatório Nacional para receber e mostrar o campus a todos os visitantes.
Todas as vezes em que o nosso grupo foi citado em notícias de jornal, revistas e programas de tv o contato inicial foi feito pelo Marcomede.
Extrovertido, agitado e de modos simples, estava sempre à vontade para falar de astronomia, valorizar o empenho dos amadores e incentivar a criação de associações e grupos de estudos. Físico, astrônomo amador, pintor, escritor, divulgador...
Nos deixa o desafio de continuar divulgando e mostrando o firmamento para as pessoas.
----
Meu primeiro contato com o Marcomede foi quando eu era coordenador do Museu do Eclipse em Sobral/CE. Ele foi um dos responsáveis pelo acervo iconográfico montado no museu, que está exposto até hoje. Até então meus contatos com ele eram somente por e-mail. Em 2001, numa de minhas estadas no RJ, pude finalmente conhecê-lo.
Lembro de uma pessoa preocupada em dar toda a atenção. Abriu as portas da biblioteca do ON para que eu pudesse fazer uma pesquisa, me ofereceu posters, fotos, postais e uma infinidade de objetos. Me apresentou aos diretores e funcionários da instituição com toda a boa vontade. Era incrível o ambiente agradável em que ele transformava todas as vezes que eu fazia minhas visitas no ON.
Também tive oportunidade de vê-lo em outras ocasiões: numa reunião do CARJ na Academia Brasileira de Ciências e no inesquecível eclipse solar de 2006, observado por muitos astrônomos em Natal/RN. Lembro do nosso tour após o eclipse, na Base de Lançamentos da Barreira do Inferno, sempre equipado com sua máquina fotográfica, registrando tudo. Sempre com a mesma postura empolgante, sem dúvida.
Pouco antes, em 2004, tive uma grata surpresa ao ver que num de seus livros o Marcomede havia me citado, perpetuando de alguma forma o pouco que eu já havia feito na carreira astronômica e prestando o devido reconhecimento diante de meus trabalhos em Sobral.
Seu ritmo de trabalho com a divulgação científica sempre me inspirará. Que o querido "Marcomídia" nos oriente de onde estiver, através de uma estrela em noites límpidas ou de um clique fotográfico em noites chuvosas.
Saulo Machado (presidente)
----
Histórico do Marcomede:
Bacharel e Licencidado em Fisica pela Faculdade de Humanidades Pedro II (1980), Graduação em Meteorologia (Incompleto) - UFRJ (1974-75), com transferência para Física (FAHUPE). Mestre em Estudos Brasileiros (Ciências Sociais) - UERJ (1989), com o tema: "Sobre a participação científica brasileira na Antártica".
Especialização em Jornalismo (UESA, 1983). Foi sócio fundador da Sociedade Brasileira de História da Ciência - SBHC (1985). Sócio da Associação Brasileira de Imprensa (ABI). Membro da Academia Nacional de Letras e Artes - ANLA, possuindo 30 obras publicadas, entre livros e mapas em difusão científica, com dois livros sobre o Brasil na Antártica (1990 e 2005).
Tem sete viagens a Antártica pelo Programa Antártico Brasileiro - Proantar/Secirm. Primeiro brasileiro a medir a radiação solar na Antártica (1984). Trabalhou nos departamentos de Astronomia (asteróides, cometas e estrelas duplas), Geofísica (Gravimetria) e Serviço da Hora do Observatório Nacional, ingressando na institução como recibado em 1968. Foi contratado em 1976 pelo CNPq/ON, depois estatuário do CNPq e desde 2000 do MCT.
Projetou grandes relógios de Sol, como o do Parque da Cidade (5,5 m de altura) , em Brasília, com Oscar Niemeyer. Ajudou a criar os museus: de Astronomia e Ciências Afins (1985), através do Grupo de Memória e Divulgação - GMD (1982); Núcleo de História da Ciência - NHC (1983) e Projeto Memória da Astronomia e Ciências Afins, visando cirar o "Museu do Observatório Nacional" ; e do Eclipse (1999), em Sobral (Ceará). Paricipou da implantação dos planetários de Belém (1999) e de Feira de Santana (BA). Realizou o projeto do nome da escola Domingos Fernandes da Costa ( astrônomo do ON) e de Sodré da Gama (planetário de Belém).
Foi Analista em Ciência e Tecnologia do Observatório Nacional. Tinha experiência na área de pesquisa da História da Ciência e da Técnica. Assessora projetos de construção de observatórios e planetários. Possui o título de Cidadão Amapense (2008) por atuação no estado por mais de 10 anos promovendo a Amazônia; as Medalhas: Mérito Tamandaré e Amigo da Marinha (ambos da Marinha do Brasil pelo trabalho de difusão da atuação do Brasil na Antártica; Medalha Tiradentes (Alerj, 2007); Medalha Pedro Ernesto (CMRJ, 2000); Medalha Guimarães Rosa (ABRADE, 2009, pela cultura e meio ambiente) e título de Comendador Benemérito pela Sociedade Memorial Visconde Mauá (2009). Tem texto de livro publicado com Darcy Ribeiro (2007) e João Saldanha (2003).
Grande perda para todos nos.
ResponderExcluirO SANDRO DEFINIU BEM O NOSSO AMIGO. COM CERTEZA SERÁ UMA ESTRELA COM BRILHO ESPECIAL AONDE ESTIVER. DESCANSSE EM PAZ AMIGO MARCOMEDE.
ResponderExcluirMarcomede esteve presente na minha infância, quando frequentava assiduamente o Observatório Nacional (São Cristóvão - RJ) e me encatava com as lições que mais me pareciam histórias para criança. À época da passagem no Halley eu estava no primário e não havia quem soubesse mais do que eu sobre esse cometa, nem as "tias", devorei milhares de vezes aquele livro infantil sobre o cometa com o personagem de verdade Marcomede... saudade dele e da ápoca...
ResponderExcluirAssim como minha irmã, tenho saudades dele e da época. Ainda me lembro de ser fotografado para um jornal no observatório quando, há muitos anos atrás, marte estava muito próximo à terra.
ResponderExcluirAbraços e vá com Deus.
A perda deste grande amigo, "cumpadi", colega do Colégio Pedro II, pesquisador de foguetes, no nosso áureo tempo de juventude, me deixa triste. Mas ele se transformou em mais uma estrela no céu que ele tanto amava.
ResponderExcluirFiquei triste com essa notícia ! Conheci Marcomede em Paracambi RJ, onde ele veio convidado a dar uma palestra no Espaço Ciência ! Uma pessoa extremamente atenciosa e muito boa, sempre prestando a atenção nos comentários de pessoas simples, dando a impressão de que estava aprendendo com elas !Obriado, Marcomede!
ResponderExcluirNos anos 80 tive o prazer de fazer uma pergunta sobre a variação da velocidade do cometa em proximidade com o sol (na quadra do meu colégio ) enquanto Marcomede palestrava para todos sobre o cometa de Halley e orientou a gente a visualizar (eu consegui com binóculos.. lembro também que ele comentou que estava indo a Antártida
ResponderExcluir