30 de dez. de 2010

O céu no Ceará

(Victor Alencar - O Povo) Quando olhamos para o céu estamos na verdade olhando para o passado. As estrelas estão tão distantes de nós que a luz oriundas delas demoram milhares de anos para chegarem até os nossos olhos. Algumas podem ter mudado de cor, outras morrido e se transformado em uma nuvem de gás e poeira (resultante da explosão da mesma), e outras estão nascendo, expelindo as suas primeiras luzes para todo o Universo. Mas só iremos perceber daqui a alguns milhares de anos depois do ocorrido.

É esse o papel da Astronomia: o de tentar explicar através das Leis da Natureza como o Universo se comporta e como os fenômenos ocorrem. Não é uma tarefa fácil. Astrônomos do mundo inteiro se juntam nessa busca pelo conhecimento, tentando sempre responder os porquês que surgem em nossas mentes quando nos deparamos com os enigmas do nosso Cosmos.

Quando digo que os Astrônomos espalhados pelo mundo se ajudam nessa busca, pensamos logo em grandes nomes como Carl Sagan, Stephen Hawking, geralmente cientistas de fora do nosso país. E esquecemos que no Brasil também há muitos pesquisadores de bastante prestigio lá fora.

Nosso país avança cada vez mais quando o assunto é explicar as peculiaridades do Universo. Em escala local não poderia ser diferente, afinal vivemos no Estado que serviu como palco para provar que a trajetória da luz pode se curvar quando passa próximo de um corpo celeste com uma massa grande - ou seja, a Teoria da Relatividade Geral de Albert Einstein, com o Eclipse Total do Sol em 29 de maio de 1919, em Sobral.

Agora você deve estar pensando em quais outros eventos o Ceará teve participação significativa para a Astronomia. Confesso que não há muita divulgação desses fatos, mas pasme leitor, o Ceará teve participação importantíssima nas missões tripuladas à Lua. Sim, as missões Apollo!

Em 1968 uma pesquisadora norte americana credenciada à Nasa (Agência Espacial Norte Americana) veio ao Rio de Janeiro, sede do Observatório Nacional (ON), pedir que o Brasil colaborasse com as missões Apollo. O então diretor do ON, Ronaldo Rogério de Freitas Mourão (colaborador do Ciência & Saúde), foi nomeado para coordenar a participação brasileira no Programa Lion (Lunar International Observing Network) e assim chamou cinco astrônomos que tinham renome em observação celeste. Dentre os cinco, dois deles cearenses: Claudio Pamplona e Rubens de Azevedo.

Através do Lion foram observados vários fenômenos transitórios lunares (TLP, na sigla em inglês) que são fenômenos como brilho forte incomum, pulsante, ou brilho de cores não usuais em solo lunar, ocorrendo pela não resistência da rocha lunar à grande diferença de temperatura na Lua (variando 300ºC entre os extremos). Assim as rochas se partem, às vezes liberando luzes ou gases. Sendo muitos desses fenômenos registrados pelos dois cearenses.

A dupla também contribuiu com a divulgação e difusão da Astronomia no Estado. Em 24 de dezembro de 1973, o cometa Kohoutek estava perto do seu ponto mais próximo do Sol, quando um jornalista do Gazeta de Notícias chamou o astrônomo Claudio Pamplona para escrever uma série de cinco artigos sobre o cometa, descoberto em março do mesmo ano.

Pouco tempo depois do início da série de artigos, a Gazeta de Noticias foi incorporada ao O POVO e, com o fim da passagem do cometa mas com a sede por mais conhecimentos sobre o céu, Claudio Pamplona foi novamente convidado, dessa vez para escrever sobre diversos temas, assinando assim a primeira coluna de Astronomia do Ceará: a coluna Cosmos. Depois de 4 anos, a coluna passou a ser assinada por Rubens de Azevedo com o nome de “Visões do Cosmos”, também no O POVO sendo escrita ainda por muitos anos. Hoje, a coluna volta a ser publicada. Como forma de homenagear esses dois ícones da astronomia cearense e de levar o leitor aos confins do Cosmos.

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