29 de mar. de 2011
Cadê as estrelas?
(Victor Alencar - O Povo) Olhar para as estrelas é um ato quase involuntário do ser humano. Apreciar a beleza singular delas é algo que pode ser considerado um verdadeiro Patrimônio da Humanidade. O céu estrelado é citado em musicas e poesias, serve como composição para as pinturas e fotografias e ainda embala a noite romântica de muitos casais pelo mundo inteiro. Só tem um probleminha. Cadê as estrelas?
Desde as minhas mais antigas recordações, não tinha gravado na memória uma visão de um céu repleto de estrelas em Fortaleza até o apagão que houve no inicio de fevereiro e deixou boa parte do Nordeste sem energia. Confesso que a minha reação foi a de sair de casa e observar o céu. Para aqueles que não gostaram de forma alguma do evento que nos deixou sem energia, pense pelo lado positivo: fomos agraciados por uma visão sem igual.
Certa vez, quando explicava durante uma aula a pergunta de um aluno parecida com “Quantas estrelas podemos ver a noite?”, respondi que era algo em torno de 6.000 estrelas e ele retrucou: “Mas como? Se não vejo nem vinte!”. É verdade. Infelizmente não podemos mais dizer esse numero de estrelas, pelo menos, não para os habitantes das grandes cidades que já não se lembram de quão belo é o céu noturno.
Atualmente, o numero de estrelas caiu de 6.000 estrelas visíveis para cerca de 150 nos arredores de uma grande capital! O motivo: poluição luminosa. Esse nome pode soar
estranho aos nossos ouvidos, mas sim, Poluição Luminosa existe. O simples fato de ter parte da iluminação escapando para o céu, faz com as estrelas se “apaguem” e os hábitos do ecossistema se alterem, fazendo com que tenhamos sérios prejuízos, não só para os astrônomos e admiradores do Cosmos, mas também para um leque da fauna e flora local.
Esse problema não existe só em Fortaleza, mas sim em escala mundial. Estados Unidos, Europa e Japão são alguns dos principais afetados. Uma breve visão do Mapa Mundi visto a noite mostra como isso está afetado. Os pontos mais luminosos são as grandes metrópoles e megalópoles mundiais.
Quando uma lâmpada é colocada, geralmente ela deixa escapar luz pela sua lateral. Juntando toda a iluminação publica, letreiros luminosos, holofotes e outras fontes luminosas, isso resulta em uma grande quantidade de luz emanada para cima, causando um grande prejuízo para a Astronomia e também desperdício de energia elétrica.
Existem várias formas de combate a esse tipo de poluição. A principal delas é bem simples: apontar a luz para o chão, e não para o céu! Quando temos uma luminária publica, a luz que emana dela vai tanto para o chão, quanto para as laterais, e parte dela também escapa para o céu. Quando a luz reflete na poeira, nas partículas atmosféricas e outros elementos fazendo com que o poluição luminosa se comporte como um manto semi opaco que cobre a cidade, bloqueando parcialmente a luz das estrelas.
Adotando a simples medida de focar a luz apenas no chão, temos um aumento da luminosidade aonde realmente importa e uma economia de energia elétrica. Uma simples solução é colocar um bloqueio lateral laminado de forma canalize a luz para o chão, eliminando assim o excesso que prejudica tanto o brilho das estrelas.
Se tivermos um mínimo de poluição luminosa no local, as estrelas visíveis estão em cerca de 2.000. Em prol do direito que a humanidade tem de apreciar o brilho das estrelas, tanto por sua beleza impar como pela importância histórica, os astrônomos se mobilizaram com essa causa e criaram um documento chamado de Direitos a Luz das Estrelas (tradução livre) que contem uma série de conceitos e requisitos com o apoio da Unesco, União Astronômica Internacional, Comissão Internacional de Iluminação, Organização Mundial de Turismo e outros organismos. Quem tiver interesse, saiba mais acessando: http://www.starlight2007.net/
Atualmente, ver a faixa esbranquiçada da Via Láctea cortando o céu é um privilégio dos habitantes das pequenas cidades. Se continuarmos nesse ritmo de poluição, responder perguntas do gênero “Papai, o que é uma estrela?” no futuro será bem mais complicado que atualmente.
Ajude a preservar o Cosmos! Saiba mais em: http://www.darksky.org/
Curiosidade
Você sabia que a poluição luminosa causa danos monetários no nosso bolso? Uma luminária comum desperdiça cerca de 35% da luz. Essa porcentagem além de bloquear a visão das estrelas, causa um desconforto na nossa economia se levássemos isso em conta.
Espécies de aves, tartarugas, morcegos são afetadas diretamente pela poluição luminosa.
O aumento da luminosidade confunde as espécies, o que desregula a fauna e a flora.
Muitas das constelações conhecidas, como o Cruzeiro do Sul, estão sumindo dos céus das grandes cidades. Atualmente, reconhecer essas constelações com uma poluição luminosa elevada exige da pessoa um bom conhecimento de identificação do céu.
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