Em novo livro, geólogo britânico Ted Nield diz que a humanidade não precisa temer as rochas espaciais - ao contrário, deve começar a admirá-las
(Veja) Foi a partir da década de 1980 que aprendemos a temer objetos rochosos vindos do espaço. Nela se consolidou a teoria de que há 65 milhões de anos um asteroide de 10 quilômetros de diâmetro colidiu com a Terra e matou todos os dinossauros. Na mesma época, astrônomos começaram a mapear todos os objetos que passam perto da Terra. Haveria o risco de outro enorme corpo celeste se chocar contra a Terra e acabar com a espécie humana? O geólogo britânico Ted Nield é taxativo: "não, a humanidade não precisa temer os meteoritos". Ao contrário: precisa aprender a admirá-los.
Doutor em geologia pela Sociedade Geológica de Londres e editor da revista Geoscientist, Nield está lançando o livro chamado Incoming! ("Colisão!", ainda sem edição brasileira), em que procura convencer o leitor de que as rochas espaciais não são mensageiras do apocalipse. Para tanto, lembra que em outros momentos da história os meteoritos serviram de matéria prima para ferramentas, viraram atração turística, foram a base de diversas descobertas científicas - como a idade do Sistema Solar, de 4,6 bilhões de anos - e hipóteses para a origem a vida na Terra.
O cientista começou a se interessar pelas rochas espaciais ainda criança, mas foi apenas em uma viagem de trabalho ao deserto do Omã que viu a primeira estrela cadente. "Percebi que durante o amanhecer os meteoros são mais comuns porque é nessa hora que a Terra fica com sua face voltada para o caminho orbital", disse Nield. "É como se vários insetos, os meteoros, batessem contra o para-brisas, a atmosfera da Terra".
Dinossauros - Em uma das principais passagens do livro, Nield apresenta pesquisas polêmicas que tentam limpar a imagem dos meteoritos no episódio da extinção dos dinossauros. A verdade, escreve, é que ainda existem muitos detalhes a serem revelados sobre o que aconteceu com os grandes répteis. Nield está convencido de que o processo de extinção já tinha começado antes do asteroide, com mega erupções vulcânicas que liberaram milhares de toneladas de lava e gases tóxicos durante a formação das Deccan Traps, região localizada no centro-oeste da Índia. O meteorido que caiu na Península de Yucatán, no Golfo do México, teria apenas apressado o inevitável fim dos animais.
Ao tentar reabilitar a imagem das rochas espaciais, o autor discute a hipótese de que a vida veio do espaço na carona de rochas espaciais. Embora não seja o modelo dominante, a ideia de que a vida teve origem extraterrestre embasa uma série de pesquisas no campo da chamada astrobiologia. Uma pesquisa divulgada pela agência espacial americana (Nasa) em janeiro, por exemplo, mostra que a vida na Terra pode ter sido determinada por aminoácidos presentes em meteoritos. As rochas espaciais também podem ter favorecido o aumento da biodiversidade. Há estudos que apontam a importância das crateras abertas por asteroides na partilha de nichos ecológicos e evolução das espécies.
Poeira - Nield não acredita que a humanidade será extinta por um asteroide. Lembra que as estatísticas estão a nosso favor: não há registro de morte causada por um meteorito. "A maioria dos meteoritos não passa de poeira espacial", afirmou o geólogo em entrevista ao site de VEJA. É raríssimo um meteorito como o Hoba, que pesa 60 toneladas e se encontra na África. O geólogo está mais preocupado com fenômenos naturais que não podemos impedir, como as megaerupções que, acredita, iniciaram o processo de extinção dos dinossauros. "Devemos nos 'preocupar' apenas com aqueles que têm dezenas ou centenas de metros de comprimento. "Mas hoje sabemos que 75% desses objetos não vão atingir a Terra nos próximos milhares de anos", tranquiliza.
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Matéria com infográfico "Perguntas & Respostas" aqui
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