18 de mai. de 2011

Aula Sobre Tudo Desde Robótica Até Espaço

(A Notícia / Brazilian Space) À primeira vista, Hazim Ali Al-Qureshi parece personificar uma série de contrastes. A fala calma e bem-humorada é de alguém que passou tempo suficiente em São Paulo para incorporar gírias paulistas. Elas convivem com expressões em inglês, uma vez que Al-Qureshi chegou ao Brasil após mais de 30 anos no Reino Unido. Fez graduação, mestrado, doutorado e pós-doutorado (em engenharia mecânica) na Universidade de Birmingham. É comum vê-lo segurando na mão direita um típico rosário de orações muçulmano. Mas, nas contas do rosário, a imagem é de Nossa Senhora Aparecida. “Foi um presente”, explica ele, que diz não ser religioso como foram seus pais árabes, mas carrega respeito pelas crenças.

A figura de Al-Qureshi intriga e inspira estudantes de engenharia de mobilidade pelo menos duas vezes por mês, quando ele ministra uma espécie de aula magna. O engenheiro apresenta aos acadêmicos uma colagem de assuntos que hoje parecem distantes, mas podem um dia fazer parte do universo profissional deles: a indústria nacional que produz aeronaves para exportação, robótica, o tímido programa espacial brasileiro.

Se algum deles tiver interesse em se dedicar à pesquisa, é possível que se espelhe em Al-Qureshi. Nascido em Bagdá, filho de médico que também procurou estudo na Inglaterra, ele escolheu engenharia por causa de uma curiosidade natural, que se mostrou na infância, em saber como tecnologias funcionam. Está envolvido hoje em projetos tão distintos quanto o desenvolvimento de próteses para pessoas que perderam membros e de materiais resistentes para instrumentos de segurança, como capacetes.

Quando era professor do ITA, em São José dos Campos (SP), Al-Qureshi viajou muito a Joinville nos anos 1970 para dar aulas na UDESC. Descia no aeroporto na Vila Cubatão e o único prédio visível era o do Hotel Tannenhof, brinca. Há nove anos, quando aposentou-se como professor titular do ITA, mudou-se para Florianópolis, por sugestão de sua mulher. Optou por continuar lecionando. “Não iria ficar em casa. Fazendo o quê?”, pergunta. É professor da UFSC desde então, lotado no curso de engenharia de materiais e sem nova data para aposentadoria.

Ele também faz parte do círculo restrito de professores visitantes seniores da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). São professores aposentados que mantêm produção científica e são convidados a viajar ministrando palestras sobre áreas específicas.

Como todos os iraquianos da sua geração, Al-Qureshi é formal no jeito de vestir e se expressar. A imagem rígida cai quando ele brinca, por exemplo, sobre a forma com que tem se virado há tantos anos para fugir da concordância no português, já que às vezes tem dúvida sobre que palavras são masculinas ou femininas. Ele conta ter inventado uma vogal híbrida para ajudá-lo a se expressar no quadro negro. O “o” tem uma perna, como no “a”. Assim, não erra e todos entendem.

Al-Qureshi afirma que visitou o Iraque pela última vez pouco antes da guerra no Golfo Pérsico, na década de 1990. “A casa dos meus pais, as coisas de que me lembrava, nada existia mais”, conta ele, que não se recorda de ter visto o país alguma vez em período de paz. Fora a confusão com as vogais, hoje o professor mantém os dois pés no Brasil.

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