EVOleo Technologies desenvolve sistemas com destaque para a Agência Espacial Europeia
(Ciência Hoje - Portugal) “Só faltam os vasos e o estendal”, brincou Rodolfo Martins, director da EVOleo Technologies. De facto, quem passar à porta não se apercebe que ali, na Maia, reside um complexo de empresas e, muito menos, um corpo de engenharia – que opera essencialmente nos sectores industrial e aeroespacial – com um dedo na próxima geração de satélites de comunicações da Agência Espacial Europeia (ESA), o Alphasat.
A EVOleo nasceu em 2007, segundo assinalou o seu impulsionador ao «Ciência Hoje», mas acrescenta que esse período apenas corresponde “ao ano zero”. Rodolfo Martins conta já com várias dores de estômago e noites mal passadas, mas a persistência fê-lo chegar ao “reconhecimento que começa agora”, quatro anos depois, marcado por um período “muito complicado”. Entretanto, a EVOleo já orienta as suas actividades para quatro áreas: Espaço, Energia, Transportes e Saúde.
A equipa “produz placas electrónicas, que sozinhas parecem ter a utilidade de um pisa-papéis”, mas em conjunto têm mérito consistente. Ou seja, a empresa tem o propósito de desenvolver e desenhar sistemas electrónicos críticos de elevada complexidade, para além da tradicional automação e controlo, nas áreas anteriormente mencionadas.
Sim, Rodolfo Martins já quis ser astronauta, mas foi apenas um sonho de crianças como o de tantas outras. O seu percurso passou essencialmente pela Efacec, na Unidade de Produção Electrónica, com quem ainda mantém estreitas relações, mormente, através da EVOleo.
Admite mesmo que a actividade realizada para a ESA “tem sido possível” através da Efacec. “A colaboração está a ser muito interessante e acredito que como portugueses ganhámos excelentes bases em ‘hardware electrónico’”, sustentou.
A colaboração com a ESA já teve início em 2003 e tem vindo a testar componentes electrónicos em ambiente de radiação cósmica, que fazem a monitorização e recolha de informação, através de um sistema integrado nas paredes dos satélites.
“O nosso trabalho termina onde começa o satélite” propriamente dito e essa “é uma das limitações portuguesas, porque ninguém confia verdadeiramente em nós para estruturas mais complexas”, defendeu ainda. Segundo o fundador da companhia de base tecnológica, “há falta de estratégia nacional para o Espaço”.
A empresa começou devagar, “pé ante pé, mas a crescer”. Agora, assegura que já chegou a altura de alargar horizontes. O objectivo actual tem sido “atingir uma massa crítica”, construindo uma equipa e “ter uma imagem, com alguma herança no mercado e reconhecida pelos colegas principais”.
Transporte, saúde e energia
As outras áreas de actuação da EVOleo Technologies são o sector dos transportes, energia e saúde. “Procuramos seguir alguns vectores para entrar nestes mercados, através de parcerias estratégicas", como com a National Instruments Portugal, a EMEF e a REFER, por exemplo, e algumas universidades (Porto, Aveiro e Évora).
A colaboração na área do espaço tem conferido a competência técnica necessária para os restantes sectores de actividade e foi provavelmente “esse portfólio” que "abriu portas”, sublinhou.
Por exemplo, na área dos transportes, a EVOleo desenvolveu um sistema de monitorização da condição da linha durante o percurso dos comboios Alfa Pendular, entre Porto e Lisboa, com geo-localização, mediante alterações na assinatura das vibrações detectadas. A medida poderá evitar possíveis descarrilamentos e avaliar as condições do comboio e da linha.
A equipa tem enveredado por serviços técnicos especializados dirigidos para necessidades muito específicas. No caso da energia e da saúde, admite que “é mais fácil entrar pela criação de produtos próprios”.
Um dos projectos visa o desenvolvimento de analisadores de energia eléctrica, de forma a optimizar a energética residencial. O engenheiro electrotécnico acredita que “o paradigma da energia eléctrica vai mudar”, dando mais destaque à microprodução e a redes inteligentes – “o que entende ser positivo para evitar a deterioração da qualidade da energia”. Admite, com pena, que não seja “uma área mais democratizada”.
Na área da saúde, começaram “pela área mais simples” e optaram por democratizar a telemedicina, e desenvolvem novas tecnologias integradas em ‘smartphones’. O equipamento monitoriza a pulsação, temperatura e quedas. Espera que saia para o mercado a baixo custo.
Rodolfo Martins defende que a ciência e tecnologia portuguesas “continuam à deriva por lobbies” já instalados ou “falta de comunicação entre universidades” que muitas vezes desenvolvem o mesmo projecto de investigação. “A estratégia nacional tem de ser forçada”, sustentou ainda.
Na EVOleo trabalha-se, mas 30 a 40 por cento do tempo é passado a conversar e a ouvirem-se uns aos outros. A paciência é uma das principais caracterísicas que demarca esta equipa no mercado e o plano já está traçado para 20 anos. Não querem evidenciar-se "pela inovação doentia de 'gadgets'", mas sim por encontrar nichos que impliquem "valor acrescentado". Entretanto, a EVOleo pretende continuar a consolidar-se e o seu futuro almeja passar pela internacionalização.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente