27 de set. de 2011

Cientista explica como são feitos estudos na área da Astrobiologia

Douglas Galante faz pós-doutorado na área e ajudou a fundar o AstroLab



Douglas Galante, no Astrolab (Foto: Divulgação)


(Globo Universidade / Brazilian Space) Nesta edição do Globo Universidade, você pôde saber um pouco sobre a Astrobiologia, ciência que investiga as condições necessárias para que possa haver vida em condições extremas, mais especificamente, fora da Terra. Você conheceu alguns dos estudos realizados por Douglas Galante, formado pelo Curso de Ciências Moleculares da USP. Ele se dedica a pesquisas nesta área, tema central do pós-doutorado que está concluindo. Com outros pesquisadores, criou o Laboratório de Astrobiologia, o Astrolab, no Instituto de Astronomia Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP. Este centro de pesquisa tem como objetivo reunir profissionais de várias áreas, e reproduzir ambientes aparentemente inóspitos de outros planetas para realizar testes. Galante explica melhor suas pesquisas e os objetivos da Astrobiologia.

Qual é a importância de se estudar a Astrobiologia? Por que se iniciaram estudos nessa área no Brasil?
Para responder uma questão de como a vida surge são necessários conhecimentos de química, física, biologia, geologia e astronomia, pois é necessário conhecer todos os fatores que levaram àquele fato. Um pesquisador só não é capaz de deter todos esses conhecimentos, mas pesquisadores diferentes trabalhando juntos talvez cheguem próximos da resposta. Temos que lembrar que a natureza é uma só. Fomos nós humanos que dividimos os conhecimentos em diferentes áreas. Por isso, às vezes temos que transpor essas barreiras artificiais se quisermos uma resposta mais completa. No Brasil, iniciei meu doutorado em Astronomia em 2004, trabalhando com um tema astrobiológico, e acabei defendendo a primeira tese da área no país em 2009, dando continuidade a esse trabalho no pós-doutorado. No entanto, vários outros pesquisadores tinham interesse no assunto, mas trabalhavam de maneira isolada, tanto que em 2006 organizamos um workshop de Astrobiologia, com cerca de 60 pesquisadores. Percebemos que era necessário criar um espaço para que esses pesquisadores de diferentes áreas colaborassem e trocassem conhecimentos, e, desse esforço conjunto, nasceu o que chamamos de Laboratório de Astrobiologia, ou AstroLab. Hoje, o centro se expandiu, atuando em pesquisas de campo, principalmente estudando ambientes extremos da Terra, em laboratório, seja de microbiologia ou biologia molecular, e simulação espacial, bioinformática, estudos de efeitos biofísicos da radiação, etc.

Que tipo de experimentos você realiza para estudar as condições em que a vida pode existir? Pode nos dar um exemplo?
Realizamos vários experimentos de simulação. Dependendo das condições que desejamos mimetizar, podendo usar desde simples lâmpadas ultravioletas, para simular a luz do Sol, até aceleradores de partícula para simular o impacto de raios cósmicos em microrganismos. Com meus colegas biólogos, por exemplo, realizamos um experimento usando como modelo biológico uma bactéria super resistente, Deinococcus radiodurans, irradiando-a em um acelerador de elétrons (chamados aceleradores síncotron) no Reino Unido (laboratório Diamond) para simular um evento de explosão de uma estrela, uma supernova. Percebemos nesse experimento que essas bactérias-modelo são extremamente resistentes, e que a vida poderia sobreviver em condições ainda mais diversas das que normalmente acreditamos.

Algum astro conhecido tem condições para abrigar vida? Ou já teve condições? Ou poderá, futuramente, ter?
No Sistema Solar temos alguns candidatos interessantes. Marte, apesar de hoje ser um lugar aparentemente seco e com alta radiação, no passado provavelmente teve água abundante e temperaturas amenas. E água líquida, ao menos para a vida como conhecemos, é um ingrediente essencial. Dessa maneira, é possível que tenha havido vida em Marte, e talvez tenham mesmo sobrevivido alguns micro-organismos no subsolo do planeta, onde hoje sabemos que deve haver água líquida. Por isso há diversas missões de estudo de Marte, para tentar detectar esses indícios de vida passada ou presente. Outros corpos interessantes no Sistema Solar são as luas Europa e Encelado. São corpos congelados, mas que sabemos abrigar oceanos sob a superfície onde poderia existir vida. E agora, com o desenvolvimento da tecnologia astronômica, estamos começando a descobrir os chamados exo-planetas, com tamanho próximo ao da Terra, que parecem ser extremamente comuns, em número talvez maior que as estrelas existentes. Esses corpos representam um potencial gigantesco para ambientes propícios para a vida, e serão objeto de estudo dos astrobiólogos nos próximos anos.

Que áreas do conhecimento trabalham em conjunto numa pesquisa em astrobiologia?
As principais áreas que cooperam em Astrobiologia são Astronomia, Física, Química, Bibiologia, Ciências Planetárias e Geologia. No entanto, diversas outras áreas podem contribuir para a discussão astrobiológica, por exemplo, diversas vezes vemos interessantes discussões e implicações de nossos estudos em Filosofia.

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