10 de out. de 2011

Céu congestionado e Nobel rebeldes

(Cesar Baima - O Globo) A imagem desta semana vem do telescópio espacial infravermelho Wise, da Nasa. À primeira vista, parece apenas uma observação comum em uma faixa de espectro diferente da Nebulosa do Girino, um berçário de estrelas a cerca de 12 mil anos-luz da Terra na direção da constelação de Auriga. Com apenas 1 milhão de anos de idade, estrelas com dez vezes a massa do Sol dentro desta nebulosa são verdadeiros bebês recém-nascidos em termos cósmicos.

Olhando com atenção, no entanto, podemos ver as trilhas deixadas por dois asteroides que passaram pelo campo de visão do telescópio ao obter as imagens deste mosaico. O maior deles, batizado 1719 Jens, está no grande cinturão entre Marte e Júpiter. Com 19 quilômetros de diâmetro, ele aparece como uma sucessão de pontos verdes bem acima do centro da nebulosa. Já o segundo asteroide surge como um risco (também em verde) no alto da imagem, em alta resolução aqui.

Recentemente, a Nasa anunciou que a missão Wise detectou menos asteroides de tamanho intermediário orbitando as imediações da Terra do que o esperado, reduzindo as estimativas de 35 mil para 19,5 mil objetos entre 100 metros e 1 quilômetro de diâmetro que representam perigo para o planeta.

Depois deste regalo para os olhos, queria também comentar aqui os prêmios Nobel da área de ciência divulgados esta semana. Fiquei feliz em ver os de Física e Química foram para trabalhos que revolucionaram seus respectivos campos ao irem contra teorias estabelecidas.

Em Física, Saul Perlmutter, Brian Schmidt e Adam Riess trabalhavam em projetos que competiam entre si nos anos 90 para, a partir do estudo de supernovas distantes, medir a taxa de expansão do Universo. Eles – e praticamente todos cosmólogos - esperavam encontrar uma progressiva desaceleração deste ritmo em razão da força da gravidade. Qual não foi a surpresa então ao verificarem que não só a expansão não estava freando como na verdade estava se acelerando! Desde então, a ciência ainda busca uma explicação para essa observação, recorrendo ultimamente à força exercida pela misteriosa energia escura, que responderia por cerca de 70% de tudo que há no Universo. Como resumiu o cosmólogo americano Lawrence Krauss ao New York Times, “a descoberta de que o Universo é dominado pela energia do espaço vazio mudou tudo na cosmologia. Nada, literalmente, pode ser mais excitante, pois agora sabemos que o nada é quase tudo”.

Já no prêmio de Química, o agraciado, o israelense Daniel Shechtman, teve que enfrentar monstros sagrados como Linus Pauling, duas vezes ganhador do Nobel, para mostrar que estava certo e finalmente ter o reconhecimento devido. Nos anos 80, ele descobriu os quase-cristais, uma forma de organização da matéria sólida que se achava impossível. Até então, acreditava-se que os átomos em sólidos só poderiam se organizar de duas formas: cristalina, em que eles estariam dentro de padrões ordenados com simetria rotacional; ou amorfa, sem nenhuma ordem aparente. Shechtman apresentou uma terceira opção, em que os átomos estão em um padrão regular mas que nunca se repete, com similaridade mas sem simetria rotacional.

Ir contra verdades consideradas absolutas e defender suas ideais. Assim é que se faz ciência, ou, como bem disse Arthur C. Clarke: "Quando um velho cientista afirma que algo é possível, quase sempre está certo. Quando diz que algo é impossível, muito provavelmente está errado".

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