7 de out. de 2011

Expansão do Universo e a política

(José Luiz Portella Pereira - Folha) Enquanto dois grupos de três cientistas descobrem que o Universo está em expansão, contrariando o que se pensava antes, a maneira como se faz política continua a mesma.

Política no sentido de fazer as coisas acontecerem. Implantar, de fato, políticas públicas.

Os processos permanecem estagnados, envoltos em muito corporativismo , conservadorismo e egos mil. Estes sim, em expansão.

Desde a forma como se elaboram projetos de lei, a sua lenta tramitação cheia de percalços até a aprovação, cheia de consensos que tornam os projetos quase inócuos para a sociedade.

Os poderes executivos têm a mesma forma de divisão por áreas de atuação com pastas tradicionais e a visão que para resolver um problema é preciso criar ministério ou secretaria a mais. Não se pensa em implantar áreas novas, com outro escopo, outras fronteiras mais condizentes com a realidade do mundo atual.

A forma de gestão da coisa pública também é atrasada e mantém guetos e porteiras fechadas agravadas por possíveis loteamentos partidários de cargos.

O mundo vai quebrando certezas científicas embasadas por anos, a Teoria da Relatividade de Einstein, que o consagrou e tornou-o símbolo de inteligência humana é contestada com argumentos sólidos. Na política, nada.

A forma é imutável.

A política precisa de uma revolução. De uma expansão continua como perceberam agora no Universo.

Uma energia clara, que possamos ver e tocar com as mãos. De abstrato basta a energia escura descoberta.

Precisamos de gente que encarne a inovação. Algum trabalho político que surpreenda.

Em vez disso, vemos as coisas cada vez mais atadas. A começar pelos debates de campanha que, na prática, deveriam servir para mostrar quem são os candidatos. São o oposto, prestam-se para igualá-los. A ordem é responder conforme a pesquisa padrão e as orientações dos marqueteiros. Não há um debate de políticas públicas, de ideias, de forma de governar. Vence que não arrisca. Vence quem defende a luz elétrica e a água enganada. O paraíso do óbvio.

O Universo caminha para enterrar dogmas, verdades absolutas, protocolos. A política, no Brasil, esforça-se para ser matéria escura, sem graça, sem a vivacidade das inovações.

O ponto central dessa história é que estamos a cada dia perdendo nossa capacidade de mudar as coisas, sonhar, agir com ideais.

Não se sabe mais fazer nem oposição de forma a obrigar a situação a se virar e melhorar o desempenho.

É um mergulho nas trevas da Idade Média. O Universo se expande, a política se encolhe.

E nós ficamos mais longe de coisas simples, singelas, como uma cidade que tenha calçadas decentes.

Talvez um prefeito que as conserte, ganhe um prêmio Nobel de administração pública.

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