29 de jan. de 2012

Acampamento 'espacial' reúne estudantes nas férias em SP

Foco do 'Space Camp' é levar conhecimento científico a alunos. Astronauta brasileiro participou do encontro no interior de São Paulo.




(G1) Durante as férias escolares, grande parte dos estudantes que está no Ensino Médio não quer nem ouvir a palavra “estudo”.

Alguns preferem viajar, outros ficar em casa apenas descansando. Mas esta não é a realidade para cerca de 60 estudantes de todo o Brasil, reunidos em um sítio da zona rural de São José dos Campos, no interior de São Paulo.

Eles participam da primeira edição do “Space Camp” ou Acampamento Espacial, que teve início na última segunda-feira (23).

No lugar de “pique-esconde” ou trilhas em meio à natureza, os participantes passam o dia discutindo sobre cálculos e experimentos científicos. Além disso, eles colocam em prática teorias sobre a tecnologia aeroespacial (como aerodinâmica e estabilidade de voo) na preparação de dois foguetes – um feito com garrafa pet e outro real, em tamanho menor, batizado de FOG500P, utilizado por empresas do setor aeroespacial (veja o lançamento no vídeo acima).

Idealizado pela empresa Acrux e pelos organizadores da Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica, que reuniu no ano passado 803 mil estudantes, o encontro é considerado um “celeiro” de gênios. Isto porque ali estão reunidos aqueles que obtiveram as melhores notas neste exame, que seleciona candidatos para as fases no exterior.

“Queremos com o Space Camp desmistificar a ciência e a tecnologia. Depois dessa experiência, eles (estudantes) vão voltar com mais vontade de se aprofundar nesta área. Nessa equipe, acreditamos que cerca de 30% dos alunos deverão escolher a carreira aeronáutica ou aeroespacial. Estamos formando cientistas”, disse Oswaldo Loureda, coordenador do acampamento.

De todo o Brasil
A troca de experiência entre os participantes é um dos principais objetivos do encontro, que aconteceu com duas turmas. A primeira semana de atividades se encerrou na última quinta-feira (26) e a segunda deve terminar na próxima terça-feira (31).

Vindos de 13 estados do país, alguns sentem na prática a ciência ao presenciar experimentos ou quando adotam a responsabilidade de liderar as equipes na tomada de decisões das tarefas passadas pelos organizadores do encontro.

“Aqui no Brasil, são poucos os estudantes do ensino médio que têm este estímulo. É uma área apaixonante”, disse Suzana Soares Nunes, 16 anos, do Rio de Janeiro (RJ). No quarto coletivo, entre colchões e camas beliche, grossos livros de astronomia e cadernos eram possíveis de ser vistos.

“Teve dia que fomos dormir de madrugada, porque ficamos olhando as estrelas. O problema era que a gente tinha que acordar antes das 7h. As meninas que queriam lavar o cabelo tinham que acordar às 5h30 para não pegar fila no banheiro”, brinca a estudante.

Talita Vieira, 16 anos, reforça o time de mulheres no encontro. O setor, que é considerado por muito como masculinizado, tem sido impulsionado cada vez mais pelo público feminino. “Tive a influência dos meus pais para entrar nesta área e sei que as oportunidades para nós, mulheres, estão acontecendo cada vez mais”, disse a estudante de São José dos Campos.

Exemplo
Também por influência dos pais, o estudante Oscar Schmitt Kremer, de 14 anos, veio de Pelotas (RS) para integrar a equipe de estudantes. Considerado por muitos dos organizadores como um super-dotado, ele diz preferir estudar nas férias do que ficar “hibernando”. “Se me chamarem de nerd, não vejo problema. Considero isso como algo bom”.

Outro exemplo de esforço para estudar vem de Ceilândia, no Distrito Federal. A professora Alessandra Lisboa, juntamente com outro docente, colocaram dinheiro do próprio bolso e viajaram do Planalto Central até o interior paulista para trazer as estudantes Izabel Araújo, 17 anos, e Andreza de Andrade, de 18 anos.

“Somos de uma escola pública, que não tem recursos para ter um laboratório de ciência. Nós nos esforçamos muito para propagar o conhecimento científico aos nossos alunos, grande parte carente. Essa interação e troca de experiência para as estudantes e para nós, professores, foi mágica. A expectativa que tenho agora é de voltar mais animada e mais motivada para ensinar e treinar os alunos”, afirmou Alessandra.

Apoio
Segundo João Batista Canalle, coordenador nacional da Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica, o Space Camp é uma experiência piloto que será levada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, para que, em parceria com o Ministério da Educação, propague o acampamento para outras regiões do país.

“É importante ter esse conhecimento especializado desde a base escolar. O Brasil está carente de profissionais na área de tecnologia e de ciência aeroespacial. Esses alunos se mostraram bem qualificados e, se bem treinados, podem ser o futuro do programa espacial do país”, afirma.

Quem reforça a mensagem é o primeiro brasileiro a viajar para o espaço, o astronauta Marcos Pontes, convidado a falar da experiência vivida em 2006, quando partiu em direção à Estação Espacial Internacional a bordo da nave russa Soyuz TMA-8.

“A carreira científica é recompensadora em termos de satisfação profissional. Para que esses jovens tenham uma carreira promissora pela frente, é necessário que eles estudem, trabalhem, persistam e sem procurem fazer do que o necessário”.
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Matéria com vídeo e fotos aqui


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