(Audemário Prazeres) A Astronomia é uma das poucas ciências (se não for à única), em que o amador tem vez. Ela tem sido capaz de congregar e unir pessoas em todo o lugar, estimulando o surgimento de inúmeras instituições pelo o mundo, amadoras ou não, onde prevalece o objetivo de ter uma melhor compreensão sobre o contexto em que estamos inseridos. As entidades de astronomia do Nordeste do Brasil passaram por um período de 26 anos de desarticulação oficial devido, a dificuldade de acesso aos mecanismos de comunicação da época, o que impedia o fortalecimento da integração dessas entidades entre si. A partir da necessidade cada vez mais latente de criação de uma rede de comunicação da Astronomia na região, em 2005, foi criado o Encontro Interestadual Nordestino de Astronomia – EINA.
Historicamente não existia no Nordeste nenhuma iniciativa no setor que estimulasse a articulação entre as entidades de Astronomia entre si. A Sociedade Astronômica do Recife - SAR surgiu a partir da necessidade, na época, de ser canal oficial para repasse e gestão de recursos públicos para a construção do Planetário no Recife que acabou não se concretizando, devido a catástrofe da cheia de 1974/75 que obrigou o governo do Estado de Pernambuco canalizar todos os recursos financeiros para atender aos desabrigados. Anos depois, sentido a necessidade de se criar um espaço de articulação das iniciativas de Astronomia no Estado de Pernambuco, em 1985 criei a Associação Astronômica de Pernambuco – A.A.P., cuja meta principal visava o fortalecimento da Astronomia Amadora no Estado, iniciativa inovadora que se propôs à articulação das entidades (fossem oficiais ou não) que lidavam com Astronomia no âmbito estadual. Naquela época, não havia as facilidades da Internet com as redes sociais virtuais, e essa integração era bem difícil, mediante a logística das distâncias onde as entidades se localizavam, além do custo e demora no estabelecimento desse intercâmbio com a comunicação através do uso dos meios postais.
Com o passar dos anos e graças à modernização das comunicações (sobretudo da Internet), surgiram os espaços denominados de listas de discussão virtuais, e, entre elas, a lista de discussão virtual denominada Urânia. Neste local, tive a oportunidade de conhecer Adriano Albert, professor do Centro de Estudos Astronômicos de Alagoas – CEAAL. Comentando com o mesmo sobre a Associação Astronômica de Pernambuco e suas metas compartilhei o quanto seria importante integrarmos as entidades astronômicas a nível de Nordeste em um encontro presencial. Essa sugestão foi prontamente acolhida pelo Prof. Adriano Albert que, logo após a realização da primeira edição do evento, fez circular um de seus textos sobre a importância de criação do EINA, motivando, inclusive, a criação da Lista astro_nordeste:
”Participando da lista de discussão Urânia conhecemos o Prof. Audemário Prazeres, da SAR, que com entusiasmo já propôs que realizássemos um encontro de astrônomos amadores na região. Aceitamos a empreitada e imediatamente criamos a lista de discussão astro_nordeste, que tem a finalidade agilizarmos a comunicação entre os amadores nordestinos, tanto para o encontro como para projetos ou divulgação de atividades e pesquisa. A partir de propostas da lista encontramos a data de 27 e 28 de maio de 2005. O dia 26 será uma quinta e também feriado (Corpous Christi). Assim teremos quatro dias para receber os amigos e realizar o encontro. Para o local, nós do CEAAL escolhemos o CENFOR, Centro de Formação, por dispor de auditório, refeitório e alojamento, além de estar bem localizado na cidade. pretendemos, em breve estar enviando os cartazes e formulários de inscrição do evento para toda a região e restante do Brasil”.
Na ocasião em que interagíamos na troca de mensagens, alimentando a realização do Encontro Interestadual Nordestino de Astronomia - EINA, registrei que na nossa região existia um encontro regional chamado de EANE – Encontro de Astronomia do Nordeste. Este evento EANE foi idealizado por Rubens de Azevedo e Jorge Polman, onde teve sua primeira edição em Fortaleza, no Ceará em 1977, sob a coordenação do Rubens de Azevedo, e o segundo em Pernambuco coordenado por Jorge Polman, em 1978 (imagem em anexo). Mas, por motivos outros, o EANE não mais foi realizado e a nossa região ficou desprovida de uma referência oficial de encontro de Astronomia por 26 anos. Na ocasião, dar continuidade ao evento com a sigla EANE não teria muito sentido pelo fato de ter passado 26 anos desde o último evento, e as pessoas idealizadoras da denominação EANE já não mais se encontravam no nosso plano de vida (Azevedo e Polman), e não seria de “bom tom” prosseguir com essa denominação sem as devidas autorizações cabíveis. Assim, entre as várias denominações que esboçamos para a nova proposta de encontro regional, optamos pela sigla EINA – Encontro Interestadual Nordestino de Astronomia, que propositalmente lembra a sigla e o ideal EANE inclusive em sua pronuncia.
O nome e sigla EINA foram prontamente aceitos pelo Prof. Adriano Albert que chegou a comentar o seguinte na lista Astro-Nordeste:
“Através da internet, nas listas de discussão de astronomia do Brasil, percebemos que há uma participação intensa de amadores e até mesmo profissionais em projetos diversos. Encontros e projetos são realizados, fazendo da prática de atividades em astronomia freqüentes e motivadoras. Contudo, verifica-se facilmente que a participação é tanto maior quanto mais próximo se está da região sudeste do Brasil. É lá que se encontram os amadores e associações mais integradas. É bem verdade que o maior desenvolvimento sócio-econômico da região facilita as coisas, mas será que é suficiente, ou o que falta para nós aqui da região nordeste realizássemos mais em termos de astronomia? Talvez, mas não podemos desanimar, e temos que aprender muito com nossos amigos do sul. Precisamos, nós nordestinos, fazer astronomia com mais intensidade, paixão e objetividade. Precisamos nos conhecer melhor e trocar experiências, desenvolver projetos, nos comunicar. Mas o quê vemos aqui no nordeste? Sabemos que existem , ou que ao menos existiam grupos de astronomia em praticamente todos os estados de nossa região. Mas percebemos também, que existe pouca ou nenhuma comunicação entre estes grupos. Será que os observatórios e associações não existem mais? Será que os amadores de Recife, João Pessoa, Natal, Fortaleza, Salvador cansaram-se e não mais fazem Astronomia ? São perguntas que fazemos aqui em Maceió”.
Acertado o nome, sigla, necessidade e importância do EINA, nos restava realizar o primeiro encontro que ficou sendo chamado desde então de I - EINA. Inicialmente, como representante, na época, da Associação Astronômica de Pernambuco – A.A.P. e Sociedade Astronômica do Recife - S.A.R., disponibilizei nosso Estado como anfitrião na realização do primeiro encontro EINA. Mas, as dificuldades em Pernambuco para prover patrocínio oriundo da “esfera pública”, principalmente no âmbito estadual, para um evento ou encontro relacionado com Ciências são, até nos dias atuais, uma luta inglória para aqueles que possuem o ideal da Ciência e Educação. Pois os canais nos quais julgamos competentes para obtenção desses apoios continuam a direcionar para apenas uma “porta”, e esta se faz necessário fazer uso de pressupostos da Política ao invés dos pressupostos da Ciência. Assim, informei imediatamente ao Prof. Adriano a impossibilidade da realização do I – EINA em Pernambuco, o que, prontamente, ele e sua equipe obtiveram os meios de apoio no Estado de Alagoas, e nós de Pernambuco sediaríamos o II – EINA, onde buscaríamos apoio e patrocínio em uma outra “porta” que são os canais do segmento do Turismo.
O Encontro Interestadual Nordestino de Astronomia - EINA acontece todos os anos desde sua criação em 2005, sendo um evento itinerante consolidando sua missão de fortalecimento da rede de articulação das entidades de Astronomia do Nordeste. Com o advento do EINA, novos grupos de Astronomia foram criados principalmente pelos jovens, e grupos tradicionais já existentes, encontram-se mais fortalecidos e motivados em desenvolver seus trabalhos e terem um espaço especifico para socializar suas experiências. Assim, é muito importante a continuidade na realização dos EINAs, como forma de valorizar a atuação do Astrônomo Amador e a relevância do resultado do seu trabalho observacional, bem como fornecer aos interessados pela Astronomia uma melhor concepção do Universo em que estamos inseridos, possibilitando apresentar a Ciência Astronômica como uma real alternativa para o amador se dedicar e obter observações de cunho científico, através da troca de experiências e intercâmbio de idéias entre as entidades participantes da nossa região e o público de uma maneira geral. Afinal, como bem disse o cantor Raul Seixas “Aprendi o segredo da vida, vendo as pedras que sonham sozinhas no mesmo lugar”. O EINA é o local onde as “pedras” se unem e os “sonhos” individuais também se unem tornando-se uma realidade coletiva.
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