4 de abr. de 2012

Maceió abriga complexo de escolas com observatório astronômico

Centro educacional atende 13 mil alunos dos ensinos fundamental e médio. Escola-modelo teve estudantes famosos, como Djavan e Renan Calheiros.



Marcelo Antony Vieira, de 12 anos, prefere ir ao observatório do que jogar futebol (Foto: Vanessa Fajardo/G1)



(G1) É no estado com os piores índices do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) para escolas da rede pública que também está o único observatório em um espaço de ensino da rede pública do Nordeste, Norte e Centro-Oeste. É o Observatório Astronômico Genival de Leite Lima que está localizado dentro do Centro Educacional de Pesquisa Aplicada (Cepa), em Maceió, o maior complexo educacional do estado, que reúne também 11 escolas da rede estadual, um instituto de línguas, além de quadra de esportes e piscina.

O observatório possui dez telescópios e as observações públicas ocorrem sempre às terças, quintas e sábados, das 19h às 22h. Coordenado pelo físico Adriano Aubert Barros, o observatório recebe em média todos os meses cerca de 300 visitantes. A maioria é estudante.

O funcionamento não é restrito aos alunos do Cepa, é aberto a todas as escolas e à comunidade em geral. Na última quinta (29), quando a reportagem do G1 visitou o local, era possível visualizar o planeta Saturno.

Barros explica que o observatório tem dois objetivos: o ensino da astronomia e a divulgação da ciência. “De modo geral, as pessoas desconhecem, mas todo mundo que vem aqui gosta. O observatório não é a solução do ensino de ciências, mas, sim, um caminho.”

Estudante de geografia, Kizzy defende uso da astronomia na sala de aula (Foto: Vanessa Fajardo/ G1)


Marcelo Antony Vieira, de 12 anos, é um frequentador assíduo do observatório. Ele estuda em uma das escolas do Cepa e mora perto do complexo. O garoto conta que os amigos preferem jogar futebol, mas ele gosta mesmo é de ver as estrelas e reconhecer as constelações. "Estamos medindo uma estrela que muda de brilho e cor, tem dia que ela está invisível."

O garoto afirma que os amigos não vão até o observatório porque têm vergonha e que, apesar de ter paixão pela astronomia, quer estudar direito. "Mas nunca vou abandonar a astronomia. Vou continuar admirando as estrelas."

Quem também está sempre no observatório é Kizzy Alves Resende, de 21 anos, que cursa o último ano de geografia na Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Ela pretende lecionar e diz que a astronomia, além de ser uma das ciências mais bonitas, é uma ótima maneira de ensinar através da interdisciplinaridade, pois por meio dela também é possível abordar temas como química ou física. "Muitos professores não conhecem a astronomia, é uma pena, pois as crianças deveriam ser incentivadas. Ver o tamanho desse universo mexe com cabeça de qualquer criança e pode fazer até com que ela se enverede para o caminho da ciência."

Edmilson pisou em uma escola pela primeira vezquando tinha 16 anos (Foto: Vanessa Fajardo/ G1)

Escola tradicional
No total, o Cepa atende 13 mil alunos dos ensinos fundamental e médio. Entre as escolas, o destaque é para o Moreira e Silva, que possui 1.899 alunos e, com mais de 40 anos de existência, é um dos colégios estaduais mais tradicionais da capital alagoana.

O diretor, Roohelmann Pontes Silva, diz que muitos estudantes de escolas particulares procuram vaga no Moreira e Silva por conta da qualidade de ensino. A direção se gaba em contar que importantes nomes da política do estado, como o ex-deputado Ronaldo Lessa (PDT), o senador Renan Calheiros (PMDB) e o atual governador, Teotônio Vilela Filho, além de artistas como Djavan, já passaram pelas salas de aula do colégio.

"Um dos nossos diferenciais é que fazemos muitos simulados e preparamos para o Enem e vestibular", afirma o diretor. Neste ano, 75 estudantes entraram na universidade (incluindo públicas e privadas), de um universo total de 555 inscritos.

Salas de aula do Moreira e Silva, no Cepa (Foto: Vanessa Fajardo/ G1)

Atualmente, quem frequenta as aulas no Moreira e Silva são estudantes como Edmilson José da Silva, de 25 anos, que cursa o segundo ano do ensino médio no período noturno. Silva nasceu em uma cidade do interior do Alagoas, onde trabalhava na agricultura e viveu até os 16 anos, sem nunca ter pisado em uma escola.

"Não gostava da cidade", afirma Edmilson. "Agora, não quero voltar para a roça. Na escola conheci novos amigos, aprendi e me adaptei muito rápido aos estudos. Gosto de estudar. Era muito ruim não saber ler nem escrever."

Edmilson agora mora em Maceió e trabalha como garçom durante o dia e aos finais de semana. Diz que, se não fosse a rotina pesada do trabalho, poderia ter um desempenho melhor na escola, mas se esforça para tirar notas boas. A matéria preferida é matemática. A habilidade o faz pensar em seguir carreira na engenharia e não abandonar a escola ao término do ensino médio.

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