23 de nov. de 2012
RASTROS NO CÉU - observando o céu no crepúsculo
(Gilberto Jardineiro - Observatório ArgoNave) Nos tempos modernos, a cada singular dia no crepúsculo ou alvorecer, no lusco-fusco que faz o dia virar noite e a noite virar dia, uma verdadeira armada de pontos brilhantes pode ser vista se deslocando entre as estrelas, cortando o céu em todas as direções. Nesse período de 2 horas, objetos em órbita baixa da Terra, (altitude 320/800 km, 30 mil km p/h, 1 volta no planeta a cada 90 minutos), são iluminados pelo Sol que está abaixo do horizonte do observador e serão vistos por quem estiver no ângulo do reflexo. Cerca de 90 objetos de várias magnitudes podem ser vistos diariamente, com 10 a 15 facilmente visíveis a olho nu. Objetos grandes, como a Estação Espacial Internacional (ISS), a Estação Espacial Chinesa TIANGONG e o Telescópio Espacial Hubble (HST) possuem painéis solares que aumentam a área refletiva e são bem impressivos cruzando o céu com brilho forte. Alguns levam 10 minutos para cruzar o céu de lado a lado.
Ao mesmo tempo em que esses pontos brilhantes em moção estampam a era espacial, consagram a engenhosidade humana e trazem consigo uma poética que remete ao futuro e à ocupação da vizinhança planetária, sob o escrutínio de uma lupa o sonho pode se revelar um pesadelo: além dos poucos (comparativamente) satélites em operação, a grande maioria do que circula sobre nossas cabeças é lixo espacial, carcaças de foguetes e motores que subiram levando satélites e por lá ficaram, satélites desativados, descarte e perda de equipamento, a parafernália de destroços e estilhaços dos testes dos programas antissatélites americano e soviético na década de 60 e antimísseis chinês em 2007, e principalmente, uma miríade de fragmentos em órbita, potencialmente perigosos para a presença do homem no espaço. A grande maioria, na casa de milhões, consiste de objetos menores que 1 cm e a NASA em 2009 estimava haver aproximadamente 500 mil objetos entre 1 e 10 cm e 19 mil acima de 10 cm. Objetos pesando mais que 100 kg somam mais de 1.500. Há mais de 5.500 toneladas em órbita, avalia-se. A 10 km por segundo, um simples parafuso pode desabilitar um satélite de 1 tonelada; um objeto de 1kg pode atingir com impacto de granada e destruir a estação espacial, o maior objeto em órbita.
Surpreendido pela dimensão do tema e com o encantamento sob controle, aproveitei os dias abertos e tempo seco dos últimos meses para capturar, em 45 sessões, 520 registros fotográficos dos rastros desses objetos, em forma de riscos atravessando as fotos, algumas das quais compartilho neste mosaico composto de 36 imagens, acrescentando ilustrações da densidade de objetos em órbitas baixa e geoestacionária do planeta.
Apenas na última semana de novembro fica interessante no crepúsculo o cenário das passagens da ISS, TIANGONG e HUBBLE aqui no Vale do Paraíba, entre São Paulo e Rio. A ISS tem boa passagem no dia 26, segunda, a 45° de altitude com magnitude -2.4, mas a cereja do bolo, bem brilhante com magnitude -3.2 e mais alta a 70°, ocorre na quinta, dia 29. A TIANGONG faz duas passagens medianas a 40° dias 24 e 25 mas brilha com magnitude 1.0 numa bela passagem a 69° de altitude no dia 26, segunda. O telescópio espacial HUBBLE aparece no crepúsculo dos dias 28 (mag 1.4 – alt 39°); 29 (mag 1.0 – alt 55°) e 30 (mag 0.8 – alt 76). Resta torcer para que janelas se abram neste tempo instável de primavera e apareçam esses objetos e suas trajetórias num céu escuro decente, completamente forrado de estrelas.
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