10 de nov. de 2012

Uma aventura pelo mundo das referências

Danilo Beyruth combina drama, aventura e ficção científica em releitura autoral do Astronauta de Maurício



(Diário do Nordeste) O lançamento de "Astronauta - Magnetar" tomou ares de grande evento na história recente dos quadrinhos nacionais. A graphic novel (ou romance em quadrinhos), escrita e desenhada por Danilo Beyruth, apresenta uma recriação do personagem Astronauta, de Maurício de Sousa. É o primeiro volume do projeto Graphic MSP, que pretende publicar histórias autorais de artistas brasileiros a partir de personagens do criador da Turma da Mônica.

O Astronauta já havia protagonizado histórias curtas autorais, nos três volumes do projeto MSP 50, com homenagens de quadrinhistas nacionais a Maurício de Sousa. Os próximos a ganharem graphic novels são a Turma da Mônica e Chico Bento

Astronauta Pereira foi criado por Maurício, em 1963, para protagonizar uma tirinha no jornal Diário de São Paulo. A inspiração do quadrinhista eram outros heróis espaciais das HQs, caso de Flash Gordon, e a corrida espacial entre EUA e Rússia - que dois anos antes havia enviado o piloto Iuri Gagarin (1934 - 1968) ao espaço. Apesar da referência aventuresca, real e ficcional, o cosmonauta de Maurício pegou outros caminhos; o humor e a filosofia. Assim como o melancólico dinossauro Horácio, Astronauta foi uma espécie de porta-voz das inquietações de seu criador. Diferente da maioria dos personagens do autor, o aventureiro espacial tinha até um drama em sua base. A namorada, Ritinha, cansou de esperar por ele e se casou com outro; de coração partido, o Astronauta vaga solitário pelo espaço, a bordo de sua espaçonave esférica, tendo por companhia apenas o computador da nave.

Referência e reverência
Esse drama de fundo, recorrente em histórias do personagem, é trazido para primeiro plano na graphic novel de Danilo Beyruth. O quadrinhista mostra Astronauta numa solitária aventura nas margens de um magnetar, fenômeno espacial nascido de uma estrela que entrou em colapso. Um acidente deixa o viajante preso, à mercê de sua habilidade e de sua sagacidade para pensar uma saída.

Beyruth é reverente, mas não submisso à premissa original. Tudo está lá: o conflito pessoal entre o desejo de explorar o que está distante e a dependência emocional de família e amigos; a bravura do cosmonauta; os imprevistos do espaço; o traje amarelo e de formato cômico; a nave esférica. Claro, o desenho aponta em outra direção. O personagem deixa de ser cartunesco para ganhar um traço autoral, ele também um tanto exagerado e precisamente expressivo - um trunfo, já que a história em questão é um drama.

Essa natureza dramática, aliás, rende pontos extras para o autor. Beyruth é conhecido pelo personagem Necronauta, herói sobrenatural criado por ele, e pela graphic novel "Bando de Dois", um misto de faroeste com cangaço. Com "Astronauta - Magnetar", prova que tem talento para se aventurar por outros gêneros.

O diálogo e o clichê
Parte da crítica e muitos fãs não pouparam elogios ao projeto. Há quem diga que é a HQ do ano, que se trata de um marco na história recente dos quadrinhos nacionais. Justiça seja feita, "Astronauta - Magnetar" é um ótimo álbum, mas tem lá seus problemas. E estes não devem ser ignorados.

O enredo, por exemplo, por vezes lembra demais as desventuras de outros cosmonautas solitários. No cinema, "2001" (1968), de Stanley Kubrick (baseado no romance de Arthur C. Clarke) mostrou astronautas rumando ao desconhecido e ameaçados pelo computador; "Solaris" (1972), de Andrey Tarkovskiy, mostra um astronauta assombrado pela solidão e ameaçado por alucinações; "Lunar" (2009), de Duncan Jones, mostra um solitário habitante de uma estação lunar tentando voltar para casa. Na música pop, Elton John sintetizou a saudade de casa que assola os aventureiros espaciais, em "Rocket Man" (1972). Para não falar nos apuros reais da missão norte-americana Apolo 13, que, após um acidente em órbita, quase matou seus três tripulantes.

O diálogo com as referências é bem feito, mas deixa a HQ com cara de déjà vu. Menos feliz foi a ideia de colocar uma "moral da história", que vai sendo desenvolvida ao longo da narrativa. Ela infantiliza e simplifica um drama que, por si só, já rendia.

LIVRO
Astronauta - Magnetar
Danilo Beyruth
Panini
2012, 82 páginas
R$ 19,90

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E mais:
Uma odisseia brasileira no espaço (Ciência Hoje)

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