24 de dez. de 2012

Revista ‘Nature’ elege as maiores conquistas de 2012

(O Globo) A edição de fim de ano da revista “Nature” elegeu, pela segunda vez consecutiva, as dez personalidades por trás de feitos científicos que fizeram diferença em 2012. O grande destaque foi a história de bastidor e diplomacia que cercou a descoberta do bóson de Higgs — cujo anúncio oficial deve sair em março —, mas também estão na lista a pesquisadora que previu, anos antes, a devastadora tempestade Sandy em Nova York; o homem que levou o robô Curiosity em segurança a Marte; e o engenheiro italiano condenado a seis anos de prisão, que era responsável pela Defesa Civil quando um terremoto matou mais de 300 pessoas em L’Aquila, em 2009.

À frente do Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (Cern), o diretor Rolf-Dieter Heuer tinha controle financeiro sobre o Grande Colisor de Hádrons (LHC), maior acelerador de partículas do mundo, mas tinha menos autoridade sobre o experimento, administrado democraticamente pelos físicos que o construíram. Dois grupos de pesquisadores — o de Fabiola Gianotti e Joe Incandela — tinham encontrado fortes indícios do bóson de Higgs em junho, mas permaneciam relutantes em anunciá-los como descoberta antes que as chances de um erro estatístico fosse reduzida ao nível de 5-sigma (uma parte em 3,5 milhões). Heuer enfrentava a pressão do governo, da sociedade e de cientistas independentes que diziam que, se houvesse algo a declarar, era dever dizê-lo à população, que havia custeado a construção do LHC. Em vez de precipitar uma decisão, o diretor da Cern decidiu assumir a responsabilidade pelo anúncio em um seminário no início de julho, com a presença dos pesquisadores. Diplomaticamente disse, dirigindo-se aos cientistas que foram impelidos a confirmar a história:

— Como leigo, eu diria que acredito que temos (o bóson). Vocês concordam?

Sandy foi prevista com anos de antecedência
Outro perfil destacado pela publicação é o da pesquisadora Cynthia Rosenzweig, que previu com anos de antecedência o impacto da super tempestade Sandy em Nova York, onde, inclusive, mora sua mãe de 97 anos. Por causa do relatório de avaliação do Programa de Pesquisa Global americano de Rosenzweig, a cidade conseguiu se preparar, incorporando adaptações estruturais a longo prazo, como a atualização dos códigos de construção e a gestão de parques e zonas úmidas para acomodar inundações e o aumento do nível do mar. Mas ainda há muito a fazer, segundo ela:

— Temos que fazer mais, melhor, gastar mais dinheiro. Temos que conseguir, não há escolha .

Gastos de US$ 2,5 bilhões em uma única missão não foram problema para a Nasa levar a Marte o robô Curiosity, função desempenhada pelo engenheiro de visual rockabilly Adam Steltzner, outro destaque de 2012. E ninguém estava mais aflito com o pouso no planeta vermelho do que ele. Primeiro, todos os dados da nave espacial pareciam bem, até que alguns sinais anormais começaram a chegar na sala de controle em Pasadena, Califórnia. Passado o susto, o Curiosity tocou o solo de Marte em segurança, e Steltzner pôde respirar aliviado.

Especialistas condenados na Itália na lista
O vice-diretor de Defesa Civil italiano, Bernardo De Bernardinis, sentenciado a seis anos de prisão por ter negligenciado os riscos de terremoto em L´Aquila, em 2009, também está na lista. Apontado como responsável, ele diz ter confiado nos sismólogos que não previram os riscos iminentes — tarefa nada fácil quando se trata de terremoto — e aconselharam a população a permanecer na cidade. Dias depois, um abalo de magnitude 6,3 matou mais de 300 pessoas.

Outros nomes listados são Jun Wang, diretor do BGI-Shenzhen, na China, um dos maiores centros de pesquisas genéticas do mundo; o biólogo Cédric Blanpain, que desenvolveu técnicas de rastreamento celular em células-tronco com câncer; a geneticista Elizabeth Iorns, por sua busca para que experimentos sejam checados; o matemático da Universidade de Cambridge, Tim Gowers, cujo blog desencadeou um boicote à editora Elsevier pelo alto custo das publicações; a microbiologista Jo Handelsman, pelo estudo sobre preconceito contra mulheres na Ciência; e o virologista Ron Fouchier, do Centro Médico Erasmus, em Roterdã, que construiu em laboratório o vírus da gripe H5N1, um dos mais letais, levantando um debate sobre biossegurança.
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E mais:
Retrospectiva 2012: Os dez cientistas do ano (iG)

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