23 de out. de 2013
Espanhóis: menos produtivos por causa do fuso-horário, diz comissão parlamentar
(Galileu) Sabe aquela sensação que você enfrenta quando chega de uma viagem que atravessa fuso horário? Seu sono desregula, você se sente cansado e tem fome nas horas mais estranhas do dia e às vezes fica até mais sensível a resfriados. A produtividade e a disposição, então, nem se falam: ficam completamente comprometidas. Os efeitos colaterais de estar em um fuso horário que não condiz com o que seu corpo está acostumado ou com o que a luz do dia e a ausência dela à noite te informam é conhecida como jetlag.
Pois bem. Guarde essa informação. Agora, se você já visitou a Espanha, os hábitos curiosos dos espanhóis a respeito do trabalho certamente te surpreenderam. Na Espanha, todo mundo para de trabalhar todos os dias depois das 14h, mais ou menos por duas horas. É um horário de almoço prolongado que eles chamam de siesta. No verão, as lojas reabrem e vão até as 20h ou 21h, e depois desse horário é que os espanhóis costumam jantar, por exemplo.
Uma comissão parlamentar espanhola divulgou um relatório sobre as condições de trabalho no país que afirma que alguns hábitos culturais dos espanhóis existem porque eles se sentem constantemente em jetlag. O motivo é que a Espanha está no fuso horário errado. Apesar de estar claramente na mesma faixa de Paris (GMT +2), a Espanha funciona do mesmo fuso horário de Berlim (GMT +1), e isso causaria baixa produtividade no trabalho para os espanhóis.
A comissão argumenta que os espanhóis trabalham até o fim natural das horas de sol, mas saem para trabalhar uma hora antes por causa do fuso em que se encontram. Ou seja: dormem de acordo com a zona de fuso em que foram artificialmente colocados, mas trabalham de acordo com a zona de fuso em que realmente estão. Consequência: dormem menos, jantam depois das 21h, vão dormir tarde demais e acordam muito cedo etc. O relatório também diz que o espanhol médio dorme quase uma hora a menos do que a OMS recomenda.
O relatório argumenta a favor de que o país, depois de 70 anos alinhado com o fuso GMT +1, volte ao GMT +2. Afinal, a razão pela qual a Espanha é o patinho feio dos fusos horários não é nada nobre. Durante a segunda guerra, muitos países europeus trocaram seu fuso horário para alinhá-lo com Berlim e facilitar a coordenação de decisões relacionadas à guerra. Mas ao fim dela, a maioria desses países retomou seu relógio original. Na Espanha, o ditador Francisco Franco, durante os anos 70, manteve a Espanha no GMT +1 por "simpatia" à Hitler.
No entanto, não é fácil mudar do dia pra noite os relógios de um país inteiro, porque ao relógio e luz do dia estão associados hábitos culturais já bem arraigados socialmente. Se muita gente já se incomoda com alguns meses de horário de verão, imagina alterar horários de trabalho, de escola e até o horário da novela?
O Washington Post, um dos jornais que repercutiu a ideia, recebeu dezenas de comentários enraivecidos tanto de espanhóis quanto de estrangeiros, dizendo que a siesta é um hábito cultural proveniente do calor que atinge a Espanha no verão e impossibilitaria produtividade em trabalhos manuais, apontando que no verão o fuso da Espanha se alinha com o GMT +2 (e, portanto, o argumento da siesta cairia por terra) e que produtividade no trabalho não deveria ser medida de sucesso para uma nação.
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