25 de nov. de 2013

Brasil está em projeto de supertelescópio


(Tribuna do Norte) Com graduação em Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em 1994, e doutorado em Astronomia no Observatório de Genebra, na Suíça, o astrônomo natalense Cláudio Henrique de Figueiredo Melo trabalha há uma década no deserto do Atacama, no Chile, local mais privilegiado da terra para pesquisas astronômicas e observação do universo.

Cláudio Melo falou para a TRIBUNA DO NORTE a respeito dos avanços que a construção de um novo telescópio, com a participação do Brasil como 15º membro de um consorcio europeu, pode trazer para a Ciência no mundo. Ele participa ao lado de outros astrônomos de 18 países, da conferência “400 anos de rotação estelar”, que começou na última quinta-feira e terminará na terça (26), no Ocean Palace, Via Costeira.

Atualmente, os astrônomos têm à disposição para observação do universo dos telescópios Hubble, Newton e Fermi, em órbita e o VLT e Gemini, em terra. O telescópio a ser construído no Atacama, o terceiro em solo chileno, terá 42 metros de espelho e poderá registrar espectros óptico e infravermelho próximo da luz. O projeto custará 1 bilhão de Euros e o Congresso Nacional ainda precisa ratificar acordo feito em 2010 para que o Brasil entre com R$ 1,1 bilhão e se torne membro do Observatório Europeu do Sul (ESO), consórcio de 14 países que vai construir o novo telescópio.

O que vem a ser esse seminário sobre Astronomia que vai até o dia 26 em Natal?
Esse seminário chama-se “400 anos da Rotação Estelar” é uma conferência internacional na área Astrofísica estelar, entender como rodam o sol e todas as estrelas. Qual o interesse em saber esse processo?Porque a rotação das estrelas vão influenciar e é influenciada por muitos outros fenômenos, desde as manchas solares, da atividade magnética, que interfere nas comunicações da terra, até na formação de planetas, a fabricação de elementos químicos nas estrelas. Então, a rotação parece uma coisa simples, mas ela influencia em muitos aspectos da Astrofísica. Todas as áreas da Ciência, de tempos em tempos funciona assim, reúne-se com seus pares para ver os avanços, os últimos resultados e atualizar um pouco o seu conhecimento naquele campo que ele domina. É isso que está ocorrendo aqui.

A escolha de Natal tem alguma relação com o avanço da Astronomia aqui, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)?
O grupo do professor Renan Medeiros e lá da UFRN é muito forte nessa coisa, da rotação estelar, há 20 anos ou mais ele fez a tese de doutorado dele nessa área e continua trabalhando nela. Recentemente, o Brasil e a UFRN participaram do satélite Corrot, um telescópico pequeno, mas colocado no espaço para estudar a rotação das estrelas. A participação foi direta e institucional, o Brasil deu dinheiro e é parte dos parceiros e também tem outra missão parecida, americana da Nasa, chama-se Kepler, em que o Brasil não participa oficialmente, mas pode usar os dados. A conferência além de atualizar a parte científica, é um marco nessa relação que começa entre o Brasil e o consórcio de países, que antes era só europeu e agora o Brasil vai ser o 15º membro do Observatório Europeu do Sul (ESO), o primeiro não europeu.

O Brasil precisa, ainda, avançar muito nesse campo, a Astronomia?
Essa entrada num projeto desse porte para o Brasil é uma coisa fantástica. O Brasil está num patamar de desenvolvimento intelectual com as universidades e desenvolvimento de tecnologia industrial, onde pode começar a usufruir de um projeto desse tamanho, não só porque coloca dinheiro, mas, também, porque pode contribuir e aprender com os outros parceiros que estão mais envolvidos. Uma coisa que o Brasil vai colocar um esforço grande e a UFRN também, no sentido de construir os instrumentos que se usa para fazer as observações astronômicas, é um campo que o país pode crescer muito, tem capacidade tecnológica, mas ia fazer um instrumento pra que, não tinha onde colocar, mas agora existe essa possibilidade de participar do consórcio da ESO e da construção do telescópio no Chile. Essa é a graça do consórcio, imagine, por exemplo, quero ter uma piscina, uma sala de ginástica, um salão de festa, seu vizinho pode ter, o outro vizinho pode ter outro, mas vamos fazer o seguinte, uma coisa melhor e num clube. A localização desse clube é no local mais privilegiado do mundo para a Astronomia, no Chile.

Por que a escolha do deserto do Atacama para a construção desse telescópio?
O Chile tem uma geografia muito particular. É um país comprido, de um lado da fronteira com a Argentina tem a Cordilheira dos Andes, que é uma muralha de sete mil metros de altura e do outro lado tem o Oceano Pacífico, que devido às correntes marinhas, que vêm do sul, da Antártica, é extremamente frio, aqui a gente é acostumado com essa água quente, que passa o dia todo na praia, lá no Chile a temperatura do mar chega a 13, 15 graus. Então, de um lado a umidade que vem do lado da Argentina fica bloqueado pelos Andes, não se vê nuvem e do outro lado, as nuvens que viriam do Pacífico ficam presas no mar, porque o mar é muito frio, condensa ali em cima da água. Então, tem-se um corredor na área norte do Chile, onde fica o Atacama, o deserto mais árido do mundo, onde chove uma vez a cada 100 anos, então o céu é fantástico, entra nuvens, de todo jeito, mas 90% do tempo é de céu limpo e a umidade é muito baixa, isso facilita muito a qualidade das observações astronômicas.

Mas, voltando à questão da rotação estelar, a conferência reporta também as descobertas de Galileu Galilei há 400 anos?
A primeira palestra foi histórica, falando do contexto da Astronomia antes de Galileu observar o sol. Demorou muito pra as pessoas entenderem que o sol era uma estrela comum, ele quando fez o seu próprio telescópico em Florença, na Itália, observou o céu, o satélite de Júpiter, manchas solares, fez um mapa da superfície da lua, tudo isso com uma luneta que ele tinha construído. É aquela coisa, ele construiu uma luneta, observou, e publicou os resultados, mas ao mesmo tempo, como os dispositivos óticos já estavam se popularizando na Europa, outras pessoas tiveram as mesmas ideias e rapidamente começaram a construir seus próprios instrumentos. É como foi dito na palestra, falou-se que ele recebeu correspondências de outros estudiosos.

E esse novo telescópio, a ser construído no Atacama será o mais moderno e potente do mundo, que avanço ele pode trazer para a humanidade?
A Astronomia e a Astrofísica querem entender de um modo geral o céu, isso aqui é muito vago, mas quer entender desde como se formou o sol até como se formou o universo. E cada um tem o seu campo e procura dar uma contribuição naquela coisa, o seu saber está vinculado com o instrumento que se tem à sua disposição. Na época de Galileu, tinha-se um instrumento simples, mas foi um salto enorme. O que mudou na vida de dona Maria o fato do sol rodar? Mas, veja que conceitualmente, começa-se a entender o seu lugar no universo, como as coisas funcionam. Muito do desenvolvimento tecnológico e teórico da Física, das Ciências de um modo geral, mas também da Astronomia, faz-se com o objetivo puramente científico pra resolver uma coisa, muitas vezes acaba voltando para a sociedade. Um paralelo fácil de entender, é um pouco como a Fórmula 1. A Ciência também funciona desse jeito. O GPS, o wirelles, wifi, tudo isso veio da Astronomia. Essa tecnologia desenvolvida na sua época para resolver uma questão astrofísica, as pessoas hoje estão conectadas o tempo todo no restaurante, no hotel, foi criado o chip que permite fazer isso para captar pulsações de buracos negros no espaço. O que isso tem com a minha vida, e está aí. Esse novo telescópio vai ter um espelho muito maior do que o de oito ou dez metros, o máximo que se tem hoje, faz com que se possa observa muito mais longe, galáxias que estão no começo do universo e que a luz está chegando só hoje. Esse novo telescópio vai ter 42 metros, a capacidade de coletar luz é muito maior, vamos ter 25 vezes mais capacidade de captar luz. Uma das coisas que mais incomoda pessoas hoje, é que o entendimento do universo hoje contempla 75% de uma coisa que chama energia escura, a gente sabe que o universo anda e está em expansão, mais 20% de uma coisa que a gente chama matéria escura, que não se sabe o que é, e finalmente, quase 5%, a matéria que a gente vê, que é matéria bariônica. Isso incomoda muito a gente, esse tipo de questão a gente quer entender. Outra questão fundamental, é se existe vida em outro planeta? Já se encontraram mais de mil planetas fora do sistema solar, mas vida, mesmo simples, celular, bacteriana, acho que só conhece aqui, o novo telescópio vai permitir que se estude a atmosfera desses planetas e vendo a composição química da atmosfera, pode se deduzir pelos processos químicos, se aqueles gases estão sendo produzidos por sistema biológico ou não.

Um comentário:

  1. Gostei do Blog, sugiro que vejam: Aline da Cidade das Pirâmides.http://www.youtube.com/watch?v=TIz7I6ANotY&feature=relmfu
    “Despertar sua consciência o torna pensante, lúcido, um DEUS em ação”.
    Aline fala sobre o Universo, Buracos Negros,Viagem no Tempo,etc.
    Abraços.

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