20 de nov. de 2013

Ferreiros, uma cidade de olho nas estrelas

Professor de matemática realiza no município o sonho: a construção de um observatório astronômico

Cúpula foi erguida no Monte Saturno, que permite a observação em 360 graus sem obstáculos. Foto: Ricardo Fernandes/DP/D.A Press


(Diário de Pernambuco) A agricultora Maria do Socorro da Conceição, 63 anos, nunca tinha ouvido falar em telescópio e muito menos acreditava que um homem poderia ficar rodando em torno do planeta em uma nave. Por curiosidade, decidiu ontem tirar a prova. Foi à inauguração do Observatório Astronômico Monte Saturno, em Ferreiros, na Mata Norte, onde encontraria o primeiro astronauta brasileiro, Marcos Pontes. Maria do Socorro saiu satisfeita do lugar, que ainda tem a estrutura inacabada. Em menos de duas horas, conseguiu ver o “céu mais de perto” e “a história de um homem que esteve no espaço. Um astronauta de carne e osso”.

Estudantes poderão observar os planetas e as estrelas todos os fins de semana. Foto: Ricardo Fernandes/DP/D.A Press


O observatório nasceu do sonho do professor Walter Pessoa, 35. Formado em matemática, ele se apaixonou por astronomia há décadas. E entre as experiências em sala de aula e as idas e vindas do Recife, onde mora, à terra natal, Ferreiros, descobriu que os astros despertavam um interesse maior das crianças e adolescentes para o aprendizado de outras disciplinas. “Vi que, ao ensinar matemática, se buscavam apenas resultados. Com a astronomia, conseguia mostrar que a ciência é um processo em que primeiro se observa, segundo se estabelecem hipóteses e, por fim, se buscam resultados”. As primeiras comprovações surgiram na Escola Padre Nércio Rodrigues, na Linha do Tiro, estabelecimento onde ensina e atua junto ao núcleo de estudos astronômicos.

Walter teve a ideia de construir o observatório para facilitar o ensino da matemática através da astronomia. Foto: Ricardo Fernandes/DP/D.A Press


Segundo ele, Ferreiros não foi escolhido por acaso para receber o projeto. Pesaram na decisão o fato de o município ter pontos bons para estudar o céu. O Monte Saturno fica no topo de uma serra em que se pode fazer um giro de 360 graus sem obstáculos. Também se levou em conta a disposição da família do professor em doar a área, que mede 10 mil m2 e avaliado em R$ 10 mil. A construção da cúpula e a compra do telescópio custaram R$ 25 mil, dinheiro que Walter conseguiu economizar em sete anos.

Campeã
A cúpula é uma das etapas do Monte Saturno. Ontem, o observatório funcionou com um telescópio emprestado da organização Céu de Pernambuco, da qual Walter faz parte. O equipamento definitivo está vindo da China. E com ele, a partir do dia 30, o lugar vai estar aberto quinzenalmente a visitas. As observações serão aos sábados e domingos, das 17h e 20h. Esses horários, a estudante Jaqueline Barbosa Freire, 9, decorou. Campeã da Mostra Brasileira de Foguetes deste ano, a menina recebeu a medalha ontem, de Marcos Pontes. “Nunca pensei que encontraria um astronauta”, confessou, enquanto esfregava as mãos suadas pela ansiedade. O foguete de Jaqueline, ela mesma destacou, foi feito de garrafa plástica.

Astronauta fez palestra para os estudantes. Foto: Ricardo Fernandes/DP/D.A Press

Entrevista Marcos Pontes, astronauta

A que o senhor tem se dedicado atualmente?
Após a experiência no espaço, minha vida mudou bastante. Quando desci à Terra decidi que priorizaria dois pontos: a luta por uma melhor educação e pelo meio ambiente. É por isso que estou aqui em Ferreiros, onde os dois elementos parecem se juntar bem.

E a educação no Brasil mudou desde que o senhor desceu do espaço em 2006 até hoje?
Temos muito a fazer. Existem bons exemplos no país que precisam ser institucionalizados e federalizados. Para isso, precisamos de professores motivados e bem remunerados. Os professores do ensino fundamental precisam de uma formação adequada. Quanto ao ensino médio, acredito que se deve incluir a parte profissionalizante mesmo que seja necessário mais um ano de ensino. O ensino superior, por sua vez, deve ter mais conexão com as empresas, que pode levar a receber mais investimentos privados. Isso é possível e necessário, e exige ação política.

Como seria essa ação política?
Não devemos fugir da política. A parte política tem que ser vista como missão e não como profissão. Do jeito que cumpro a minha missão de astronauta, as pessoas eleitas devem exercer a missão no Congresso Nacional com honestidade e competência. Afinal, o povo paga imposto e sabe o quanto isso custa.

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