Poluição luminosa e queimadas reduzem número de astros que podem ser vistos na região
(Correio Popular) Apesar de estar em localização privilegiada, a observação de constelações, planetas e galáxias no céu da Região Metropolitana de Campinas (RMC) está ameaçada pela expansão da poluição luminosa, causada principalmente pela iluminação irregular de residências, empreendimentos comerciais, pontes e vias. As queimadas também são outro problema, uma vez que deixam o céu turvo e empoeirado, dificultando a visualização de corpos celestes.
O alerta é do astrônomo Júlio Lobo, que trabalha no Observatório Municipal de Campinas Jean Nicolini há mais de 30 anos. Fundado em 1977, o observatório localizado no distrito de Joaquim Egídio é pioneiro no Brasil e inaugurou o turismo astronômico na região. A RMC está localizada em uma latitude que favorece a visualização de fenômenos celestes, e além de Campinas conta com observatórios em Americana e Valinhos — Pedreira também tinha seu observatório, mas ele está desativado.
Segundo Lobo, no início das atividades do observatório era possível ver cerca de 6 mil estrelas a olho nu em Joaquim Egídio. Hoje, são aproximadamente 2 mil. No horizonte já não é possível visualizar mais nada. A latitude da região permitia avistar 60 constelações, no entanto, com a poluição luminosa atualmente é possível observar somente 30 na área urbana. O astrônomo avisa que se não forem tomadas medidas urgentes para conter a expansão da iluminação irregular nas proximidades do observatório, a visualização vai ser reduzida de forma expressiva.
“Infelizmente está piorando ano após ano. Estão iluminando mais as vias públicas e os novos empreendimentos fazem com que o problema se agrave. Não somos contra a iluminação, mas contra a forma como ela está sendo feita. Cerca de 40% da iluminação vai para o céu e isso prejudica. Se a iluminação fosse focada, poderia usar lâmpada de menor potência”, explica Lobo. “O que atrapalha também são as queimadas, porque fica muita poeira em suspensão e atrapalha”, completa.
Lobo conta que no final do ano passado se reuniu com o secretário do Verde de Campinas, Rogério Menezes (PV), e cobrou medidas para conter a iluminação irregular na Área de Proteção Ambiental (APA) onde está localizada o observatório. “O secretário fez uma visita no fim do ano e mostramos o que fazer. Ele prometeu que pelo menos no entorno e região da APA faria de tudo para seguir a lei e disciplinar. Está havendo muitas construções de casas de grande porte e a iluminação vaza para o alto”, afirma o astrônomo.
Além de Campinas, a poluição luminosa de Itatiba e Morungaba, cidades próximas ao observatório, também prejudicam a visualização de corpos celestes. No ano passado, em reunião com o prefeito de Morungaba, José Roberto Zem (PV), Lobo pediu para o município fiscalizar a iluminação e proteger o céu da cidade, que fica há aproximadamente sete quilômetros do observatório.
Em Americana, a poluição luminosa também é um problema enfrentado pelo observatório municipal, fundado em 1985. “Tem atrapalhado muito e a situação é até pior que Campinas, porque estamos seis quilômetros distantes do Centro. Os governantes têm a infeliz ideia de iluminar a cidade, e em vez de deixar o feixe de luz para baixo, jogam para cima. Isso acaba apagando as estrelas”, reclama o astrônomo do observatório de Americana, Carlos Andrade. “Aqui não temos muita queimada, que também atrapalha bastante. Mas outro problema sério são os canhões de luz utilizados em festas e aniversários. Isso é péssimo”, acrescenta.
O astrônomo explica que ainda é possível observar algumas constelações em Americana, principalmente porque o céu da RMC está em localização privilegiada. No entanto, faz um alerta e diz que isso pode mudar em alguns anos. “As constelações mais importantes, como Cruzeiro do Sul, Órion e Cão Maior ainda temos acesso. Mas se tudo continuar como está, em décadas não vamos ver estrela nenhum no céu. A região já foi muito melhor, mas ainda é muito boa porque estamos em uma latitude que faz com que alguns fenômenos sejam melhores vistos”, finaliza Andrade.
Para um observatório que não funciona a noite, pelo menos para fazer pesquisas "sérias", não entendo a preocupação do astrônomo responsável.
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