(Marcelo Gleiser - Folha) Como escrevo essas linhas no aniversário de Einstein (14/3/1879), nada mais apropriado do que celebrar a visão desse homem que tanto contribuiu para transformar nossa visão de mundo.
A revista americana "Time" escolheu Einstein como a pessoa mais influente do século 20.
Nada mal para um garoto que teve dificuldades na escola (mais por rejeitar a rigidez do sistema educacional alemão do que por dificuldades pedagógicas), que quase não conseguiu completar seu doutorado em física (por se desentender com seu orientador, questionando sua autoridade), e iniciou sua carreira científica isolado do meio acadêmico (como fiscal de patentes em Berna, na Suíça, por não ter conseguido uma posição numa universidade).
O que fez a diferença para Einstein foi sua incrível independência e coragem intelectual. Por rejeitar a noção de que a autoridade é dona da verdade, Einstein questionou as suposições da física de seu tempo, sem se deixar intimidar pela fama de seus colegas mais velhos.
Em 1905, com 26 anos, publicou, sozinho e escrevendo do escritório de patentes, quatro artigos revolucionários. Seus interlocutores eram sua esposa, também física e colega de turma, e alguns amigos, que encontrava nos cafés à noite.
Na virada do século 20, a física clássica estava em crise: várias descobertas feitas em laboratórios contradiziam os ensinamentos dos três pilares da física clássica: a mecânica e a teoria da gravitação de Newton; o eletromagnetismo de Faraday e Maxwell; e a termodinâmica, o estudo do calor. Quando os grandes cientistas da época tentavam aplicar essas teorias para explicar o que mediam no laboratório, obtinham resultados desastrosos. Algo tinha que mudar, e com urgência.
Em 1900, Max Planck propôs algo que a ele mesmo soava absurdo: objetos absorvem e emitem energia em pacotes (em "quanta"), e não continuamente. Usando essa ideia estranha, e contra a sua vontade, Planck resolveu um dos desafios da época: provar que um corpo, quando aquecido, não emite energia sem controle. A revolução quântica, que hoje domina nossa tecnologia digital, teve início com a audácia de Planck.
Baseando-se nos "quanta" de Planck, Einstein propôs três ideias revolucionárias: a luz pode ser interpretada como vindo em pacotes, os fótons, e não só como sendo uma onda (dualidade onda-partícula); a velocidade da luz é sempre a mesma, independentemente da velocidade da sua fonte ou do observador (teoria da relatividade especial); uma amostra de matéria pode ser convertida em luz (ou melhor, em radiação eletromagnética), sua energia convertida na energia da radiação resultante multiplicada pela velocidade da luz ao quadrado (E=mc2).
Cada uma dessas ideias é digna de um prêmio Nobel, e todas surgiram nesse mesmo ano, 1905. De quebra, o quarto artigo do ano provava a existência das moléculas.
Einstein era uma criatura da luz, e fez da luz sua grande inspiração. Uma das consequências da sua teoria da relatividade geral, de 1915, é que vivemos num universo em expansão. Desse universo, podemos apenas perceber o que existe dentro de uma bolha de informação, demarcada pela distância que a luz pôde viajar desde o Big Bang. Somos parte luz e parte prisioneiros dela.
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