29 de jul. de 2014
Ronaldo Mourão: lembranças com o mestre - I
De fato foi um fim de semana muito triste para todos nós. Em particular para mim, que tinha o Ronaldo na conta de uma pessoa muito próxima, com quem trabalhei durante 9 anos no Observatório Nacional do Rio de Janeiro, onde cheguei como estagiário de nível médio, aos 17 anos de idade em 1969 (cursando o segundo ano do ensino técnico) e saí em 1977, já como engenheiro formado, para ingressar na Petrobras quando eu já desempenhava as funções de astrônomo auxiliar, sendo responsável pelo cálculo das Efemérides Astronômicas do Observatório, o famoso Anuário do Observatório Nacional.
Fui eu que, sob a orientação dele, informatizou o cálculo do Anuário, passando a realizar todos os desenvolvimentos matemáticos e rotinas de cálculo no computador IBM / 370 no Riodatacentro na Puc do Rio de Janeiro. Para fazer isso, eu desenvolvi sob a orientação do Ronaldo um intenso programa de estudos em Astrometria como bolsista do CNPQ que culminou também com a minha designação no Observatório para ser o auxiliar do Ronaldo nas observações de estrelas duplas. Trabalhávamos, naquele tempo, na luneta de 46 cm de abertura e passávamos noites a fio medindo as estrelas e depois reduzindo as medidas para determinação das órbitas.
Só saí do Observatório pelo fato de ter sido aprovado em concurso público na Petrobras e porque a Companhia não permitiu que eu acumulasse as duas funções pois eu havia sido aprovado também em concurso público para provimento de vaga de astrônomo no Observatório e a Constituição não me permitia acumular os dois empregos. Como o salário an Petrobras era bem mais alto e eu já namorava a minha esposa há sete anos, e queríamos nos casar, acabei tendo que optar pela Petrobras. Mas continuei contribuindo com o Ronaldo no cálculo do Anuário até 1988, de graça.
Curiosamente, recebi o email dando conta de sua passagem, dento do avião da Gol, quando eu retornava de Brasília onde fui participar do VII Encontro Brasileiro de Astrofotografia. Faltava apenas meia hora para o sepultamento dele e fiquei muito triste de não poder estar presente para prestar uma última homenagem. Sei o quanto Ronaldo sofreu com a discriminação de colegas da comunidade científica que o acusavam de ser um "popularizador" da ciência. De fato, ao invés de escrever apenas artigos científicos,
Ronaldo escrevia muito para divulgar a Astronomia entre os jovens e pessoas de todas as idades, e fazia dessa ciência uma poesia.
Foi uma grande perda mas o Brasil deve muito a ele nas ciências naturais em geral e na divulgação sobre as maravilhas do Universo e de seus incontáveis mistérios e desafios científicos. Ele sempre disse que a Astronomia era uma lição de humildade e essa virtude ele soube cultivar, sobre tudo na maturidade e nos anos em que lutou contra suas enfermidades.
Descanse em paz Ronaldo! Os Deuses e as Estrelas certamente já te receberam.
Paulo Alonso
Engenheiro e Astrônomo
Rio de Janeiro/RJ
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