26 de ago. de 2014

Ameaça improvável

(Ulisses Capozzoli - Scientific American Brasil)  Ao que tudo indica, quando não temos problemas, damos um jeito de encontrar algum.

E dessa saga trágica não escapam nem mesmo pesquisadores científicos.

Astrônomos da University of Tennesee, no sul dos Estados Unidos, estão estimando que, em 16 de março de 2880, um bólido cósmico, o 1950 DA, terá uma chance em 300 de se chocar com a Terra.

Essa relação, uma em 300, é altamente temerária em se tratando da probabilidade de choque com um cometa ou asteróide, caso do 1950 DA.

Mas em 2880, ou seja, em 866 anos no futuro?

Pura besteira.

Se o bólido não alterasse sua rota, por efeitos gravitacionais de planetas gigantes como Júpiter, ou por uma inevitável interferência humana, até seria razoável levar em conta essa probabilidade.

Mas, em 866 anos no futuro, trata-se de uma completa impossibilidade.

Prever o estágio da sociedade humana em um período tão longo de tempo, ao menos para os padrões da vida humana (35 gerações), é praticamente impossível, dada a escala de mudanças estimuladas pela ciência e tecnologia.

Ainda assim, em 2880, há muito teremos colonizado os mundos mais favoráveis do Sistema Solar, eventualmente com uso de engenharia planetária, capaz de mudar completamente as condições inóspitas que agora prevalecem em Vênus.

Além da ocupação do Sistema Solar, seguramente teremos enviado um ou mais navios cósmico para mundos em torno de estrelas mais próximas, dotados de condições favoráveis à formação de colônias humanas.

Essas viagens demorarão séculos e gerações inteiras, com vida média talvez em torno de 150 anos, percorrerão o aparente vazio entre as estrelas antes de chegar a um destino onde fundarão, não uma cidade, mas um novo mundo.

Memória de navegadores
É possível que um ou mais desses navios cósmicos homenageiem nomes de barcos como os que compuseram a frota de Colombo em sua primeira viagem à América: o “Santa Maria”, “Pinta”e “Niña”.

Outros talvez farão homenagem a Pedro Nunes e D. João de Castro, os mais notáveis cosmógrafos portugueses do início do século 16, indispensáveis às viagens de descobrimentos empreendidas por Portugal que, ao contrário do que ainda se acredita, nunca teve uma instituição chamada Escola de Sagres.

É possível até mesmo que uma reprodução do que pode ter sido o rosto de Colombo seja colocada na ponte de navegação de um desses navios cósmicos e que, em momentos mais críticos da viagem, a tripulação que não esteja hibernando consulte-o simbolicamente como fez o capitão da nave que interceptou Rama, a cosmonave que parecia disposta a invadir a Terra no desconcertabte romance de Arthur C. Clarke, Encontro com rama.

Em 2880 também teremos estabelecido colônias espaciais, mundos construídos por mãos humanas, orbitando o Sol a distâncias convenientes para se abastecer de energia farta e ambientes apropriados para a continuidade da vida.

Essas cidades terão suas próprias fazendas de alimentos e esses cultivos estarão livres das pragas que hoje castigam os cultivos na Terra e tornam imprevisíveis e dura a vida de verdadeiros fazendeiros e pequenos agricultores.

Por essa época futura, há muito teremos nos apoderado de cometas e asteróides para retirar deles materiais como água e minerais (teremos desenvolvido novos materiais que em nada lembrarão as velhas carcaças de foguetes, aviões ou automóveis que um dia fascinaram os habitantes da Terra, antes que tivessem se lançado no espaço profundo).

Com os avanços em astronáutica, novas fontes de energia (eventualmente com a exploração energética de buracos negros e outras possibilidades, entre elas o completo domínio da fusão que permitirá a construção de pequenos sóis artificiais) a ameaça de um corpo como o 1950 DA colidir com a Terra será visto com humor e tolerância com a visão ingênua dos antigos moradores do que então será conhecido como Planeta-Mãe: a nossa velha e belíssima Terra.

Agora, no entanto, em meio à insegurança econômica, instabilidade emocional provocada por uma mudança vertiginosa no estilo de vida, impotência frente a guerras e conflitos que formam riachos de sangue humano, enxergar ameaças no futuro distante talvez não passe de mera projeção dos horrores do presente.
----
E mais:
Chance de um asteroide atingir a Terra em 2880 gera debates (Epoch Times)
.
Asteroide que poderia acertar a Terra gira tão rápido de deveria ter se desfeito (Hypescience)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente