18 de ago. de 2014
Livro de físico brasileiro explora os limites da ciência
(Folha) A visão de que tudo que a ciência precisa para decifrar todos os enigmas do Universo é tempo acaba de ser meticulosamente desconstruída pelo físico Marcelo Gleiser em seu novo livro, "A Ilha do Conhecimento".
De forma destemida, o pesquisador brasileiro do Dartmouth College, nos Estados Unidos, conduz seus leitores por uma jornada de milhares de anos, tempo que levou para a humanidade partir das primeiras especulações filosóficas sobre o cosmos até decifrarmos os segredos do interior da matéria e das profundezas do espaço.
O destemor vem do fato de que, diferentemente do padrão adotado pelo maioria dos cientistas que atuam na divulgação para o público, Gleiser não apresenta uma jornada triunfal rumo ao conhecimento total.
Em vez disso, ele explora uma metáfora em que a ciência –e não só ela, mas diversas outras formas de conhecer o mundo, exploradas nas artes e na filosofia– constrói uma ilha do conhecimento, rodeada pelo oceano do desconhecido.
Conforme a ciência avança, a ilha cresce, o que pode ter produzido em alguns a ilusão de que um dia sua extensão territorial poderia abarcar tudo que existe, eliminando para sempre o desconhecido.
Não é assim que funciona, contudo. Gleiser defende que o crescimento da ilha aumenta suas fronteiras, o que significa dizer que também aumenta a interface com o desconhecido. Novas perguntas surgem, e o processo de conhecer recomeça. Mas nunca termina.
A cada nova resposta, outras perguntas surgiriam, tornando a ciência um eterno esforço de aproximação da natureza, sem jamais abarcá-la por completo.
MACRO, MICRO E MENTE
O livro é dividido em três partes. A primeira explora a cosmologia, ou seja, a evolução do conhecimento acerca do surgimento e da evolução do Universo. E desemboca no fato de que é impossível explorar o que há além do cosmos observável – luz simplesmente não teve tempo de viajar de lá para cá desde que o Universo começou.
Além disso, Gleiser destaca que uma ideia que ganha a cada dia mais adeptos entre os físicos –a noção de que nosso Universo é apenas um em um multiverso– transcende sua cientificidade.
"A hipótese do multiverso não é testável dentro da formulação atual da física, mesmo que seja tão sugestiva e atraente para muitos", escreve o físico.
Na segunda parte, Gleiser explora a compreensão do mundo subatômico, reino da misteriosa mecânica quântica. Em essência, ela coloca em xeque a própria realidade, ao tirar das mínimas partes de que o mundo é feito as confortáveis noções de causa e efeito, substituídas apenas por ondas de probabilidade.
A terceira parte explora o que talvez seja o mais misterioso dos universos –o da mente. Aí reside nosso desejo de sempre saber mais, de abarcar o máximo possível da natureza em nossos arcabouços intelectuais artificiais. No que talvez seja o livro mais reflexivo de Gleiser, encontramos um enorme tributo ao ser humano e sua busca que, quase como uma boa tragédia grega, jamais pode chegar ao fim.
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E mais:
"Não há respostas finais na ciência", diz Marcelo Gleiser (Folha)
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