(Ulisses Capozzoli - Scientific American Brasil) Se você gosta de observar o céu, mesmo a olho nu, mas não tem programação, nem uma ideia clara do que observar, aqui vai uma dica. E com algum tempo de avanço, exatamente para você poder se preparar.
Em 17 de novembro próximo ocorre o pico de intensidade da chuva de meteoros Leonídeos, conhecida por esse nome porque parece emergir do interior da constelação zodiacal do Leão.
Leonídeos é a chuva de meteoros ˗˗ essas chuvas são popularmente conhecidas como “estrelas cadentes” ˗˗ mais importante do ponto de vista da astronomia meteorítica. Entre outras razões porque foi a primeira observada cientificamente. E quem fez isso não foi um astrônomo, mas o geógrafo, naturalista e explorador alemão Alexander von Humboldt (1769-1859).
Foi ele quem se deu conta, ao menos para os registros científicos, que essa chuva produzida por material liberado no espaço pelo cometa Temple-Tuttle, provém do interior da constelação do Leão.
Na realidade, as coisas são ligeiramente diferentes.
Leonídeos e outras chuvas não emergem exatamente de um ponto do céu, agora chamado radiante. A sensação de que isso ocorre deve-se a um efeito de perspectiva para um observador na superfície da Terra.
O que ocorre de fato é que as chuvas de meteoros são produzidas por meteoroides, corpos que circulam pelo espaço e que podem ter, do porte de um grão de arroz ou menos, até vários quilômetros de diâmetro. Ainda que um corpo de grande porte neste caso seja, frequentemente, referido como asteroide.
Como um cometa libera material no espaço?
Cometas, na definição do astrônomo americano Fred Whipple (1906-2004) não passam de “bolas de gelo sujo”. Assim, cada vez que se aproximam do Sol em suas órbitas elípticas (como um anel achatado) se aquecem e experimentam reações químicas em seu interior.
As reações químicas, por estímulo térmico do Sol, produzem efeitos interessantes no corpo de um cometa.
Um desses efeitos é a formação de jatos de gases, atuando como se fossem pequenos foguetes, que podem, por exemplo, influir na rotação do cometa.
Sujeira dos cometas
As reações também liberam partículas sólidas, que podem ser blocos maiores ou os grãos de poeira cósmica do porte de um grão de arroz, por exemplo. É esse material que entra na atmosfera da Terra à velocidade (chamada velocidade cósmica) de 72 km/s e, reagindo com os gases atmosféricos, deixa rastros luminosos a elevações em torno de80 km/s, os chamados meteoros.
Então, para dissiparmos uma confusão muito frequente, temos três termos para distinguir uma coisa da outra e que, quase sempre, são confundidas:
Meteoro é a luz produzida por um meteoróide que entra na atmosfera da Terra. Se o meteoroide, após produzir um meteoro (o risco luminoso), sobrevive ao atrito e pousa na superfície, então temos um meteorito.
As pessoas se perguntam se um dia desses vamos ser atingidos por um bólido vindo do espaço profundo em alta velocidade.
A resposta é que isso acontece o tempo todo. A diferença está no porte desses bólidos. Em vez de um corpo do tamanho de um ônibus médio, como o que caiu recentemente na Rússia, somos atingidos por objetos menores: coisas que variam de um pedregulho aos, mais frequentes, grãos de areia cósmica.
As estimativas são de que, a cada ano, pelo menos 100 mil toneladas de material pousam na Terra vindo do espaço profundo. E não incluem apenas meteoróide.
Cometas, que normalmente abrigam reservatórios congelados de água, também podem liberar blocos que mergulham na atmosfera, onde são vaporizados. E isso significa que, a cada dia, recebemos um pouco mais de água na Terra.
Ocorre que a Terra também perde água para o espaço.
Como isso ocorre?
Certos tipos de nuvens, de elevadas altitudes, sofrem bombardeio intenso de radiação ultravioleta do Sol. Com isso, moléculas de água são fotodissociadas, ou seja, tem suas ligações atômicas entre dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio (H20) quebradas. Com isso temos os dois átomos de hidrogênio e um único de oxigênio liberados em suas formas atômicas.
Como oxigênio é mais pesado, mergulha em direção à superfície da Terra, por atração gravitacional. Já o hidrogênio, levíssimo, voa para o espaço e forma uma cabeleira que se estende até as proximidades da órbita da Lua.
Perdas compensadas
Então, a água que chega, trazida por cometas, de alguma maneira compensa a água perdida por fotodissociação em nuvens de elevada altitude.
Água é algo abundante no Universo. E mais que isso: a água se formou muito precocemente no Universo.
Como isso aconteceu?
Aconteceu quando as estrelas, depois de produzir oxigênio (a partir de hidrogênio) na chamada síntese dos elementos químicos, liberaram em meio a uma enorme explosão de supernova todo esse material no espaço.
O que a Natureza faz, por atrações físico-químicas, é compor átomos de hidrogênio e oxigênio e formar água. Enorme quantidade de água, elemento fundamental para a vida como é conhecida na Terra.
Agora, duas outras considerações que podem influenciar você na observação de Leonídeos.
Antes disso, talvez seja interessante dizer que, para observar essa chuva, basta sair da iluminação urbana. Forrar o chão com uma lona ou plástico para se proteger da picada de insetos e deitar com os olhos voltados para a posição nordeste.
Antes mesmo que o Leão fique muito elevado no céu você verá os meteoros associados a essa chuva.
Leve uma câmara fotográfica e deixe o diafragma aberto em direção ao radiante da chuva. Toda vez que um ou mais meteoros passarem, mude para a próxima gravação.
Com o diafragma aberto você gravará o movimento das estrelas produzidos, na verdade, pela rotação da Terra. Em meio ao rastro das estrelas você terá um ou mais meteoros.
A última vez em que Leonídeos se manifestaram com abundância foi em 1999, logo em seguida ao periélio (passagem próxima ao Sol) do cometa Tempel-Tuttle. O cometa, agora, está se aproximando do seu afélio (o máximo distanciamento do Sol) de onde inicia mais um retorno para o periélio.
E, agora, a revelação que adiamos, algumas linhas atrás, com suas considerações:
A primeira é que a quase totalidade de água da Terra foi trazida para cá por cometas que se chocaram com o planeta.
A segunda leva em conta que aproximadamente 60% da massa do corpo humano é formada por água.
A essa altura você já deve ter chegado à conclusão de que a maior parte do seu corpo já foi cometa no passado.
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