5 de nov. de 2014
Algo de novo sob o céu estrelado de Nova Friburgo
(A Voz da Serra) E de repente, não mais que de repente, fez-se a luz e os friburguenses descobriram que sua cidade dispõe de um planetário e tem até um clube de astronomia. Somente os astros podem explicar por que ninguém dava a mínima para estas iniciativas que normalmente costumam ser tão valorizadas.
Recentemente, porém, a conceituada revista científica Galileu divulgou que somos uma das dez melhores cidades do Brasil para observação astronômica para, de súbito, todo mundo se interessar. Antes tarde do que nunca. Nós, aqui de A VOZ DA SERRA, não pegamos o bonde andando. Sempre aplaudimos e divulgamos as atividades promovidas pelo clube, assim como os horários de visita do nosso planetário.
Neste artigo exclusivo, o professor Reinaldo Kiss Ivanicska Junior, diretor do Clube de Astronomia, entidade mantenedora do Planetário de Nova Friburgo, fala deste sonho que só visionários com os pés ficados na realidade, como ele, conseguiriam colocar em prática e manter. Reinaldo é professor de Ciências, Matemática, Física e Astronomia. Graduado na Faculdade de Filosofia Santa Doroteia, com pós-graduação em Ensino de Física pela UFF. Foi piloto comercial de avião e instrutor de Teoria de Voo do extinto Aeroclube Regional de Macaé. Também fez diversos cursos voltados para área de astronomia e astrofísica na Uerj, Unicamp, Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP.
"Mas o legal mesmo foi ministrar cursos e palestras dessa maravilhosa e intrigante disciplina científica em encontros de astronomia e escolas”, sempre afirma. A paixão de Reinaldo é tão grande que, nas horas vagas, quando não está no Planetário, passa as noites curtindo o observatório astronômico que tem em seu sítio, na estrada Cascatinha-São Lourenço. "Um dia, vai ser de lá que ouvirei estrelas toda noite”, costuma dizer.
Reinaldo Kiss Ivanicska Junior
"Ora, direis, ouvir estrelas!”, diria o famoso poeta. E, ao longo desses quase 20 anos de Clube de Astronomia de Nova Friburgo e quatro do Planetário, não foram poucas as vezes que ouvi de colegas, amigos e conhecidos esse famoso trecho da poesia de Bilac quando me referia ou explicava o que fazia naquele pequeno espaço da Via Expressa, em Olaria. Acredito que citavam pela simpatia dos versos, ou talvez para mostrar certa erudição ou conhecimento sobre o tema; podia ser pior... Não raras vezes alguns me solicitavam um mapa astral
Não nos enganemos: diferenciar astronomia de astrologia, de ufologia e mesmo de ficção científica não é tarefa fácil ao público comum. Pensando nisso e em formas de mostrar a comunidade friburguense as maravilhas das ciências astronômicas, em 1997 formou-se o Clube de Astronomia de Nova Friburgo.
As reuniões iniciais se realizavam na casa do Dr. J. C. Diniz, no Stucky, onde ele mantinha um modesto mas fascinante observatório. Lembro-me das magníficas noites silenciosas à luz das estrelas, quando tudo o que nos importava era acompanhá-las com o telescópio e tirar fotografias no tempo correto de exposição, com filmes de 1.200 Asas, tipo de arte que está em franco declínio, substituída pelas câmeras CCDs. O cheiro do orvalho nos pinheiros, o aroma da fumaça do cachimbo do Diniz, o ruído do cronômetro marcando o tempo de exposição... Estrelas, planetas, aglomerados estelares, galáxias... quase nada escapava das curiosas lentes de vidro e espelhos dirigidos ao transparente céu da serra.
O clube cresceu e ocupou várias sedes ao longo desse tempo. Entre elas, o Colégio Estadual Jamil El-Jaick e a acolhedora Faculdade de Filosofia Santa Dorotéia. Agora, está no seu espaço definitivo, o Planetário, na Via Expressa. Ao longo dessa trajetória, tem buscado seu espaço como opção educacional, cultural e turística em Nova Friburgo. Em 2014 atendemos mais de mil alunos de dezenas de escolas de Nova Friburgo e cidades vizinhas.
No entanto, por razões difíceis de entender e muito menos de explicar, as atividades do Clube de Astronomia e do Planetário, que têm recebido o reconhecimento do público que participa das atividades, da mídia que divulga essas atividades, como o jornal A Voz da Serra, de empresas e empresários locais, infelizmente quase não temos tido reconhecimento do poder público, que muito poderia fazer pela divulgação científica em nossa cidade.
Não se sabe explicar como um projeto que abrange a educação, a cultura e o turismo não tenha merecido mais atenção daqueles que têm como ocupação, exatamente o aproveitamento destas coisas em prol do município.
Mas quis o destino e a ironia que nossa cidade fosse escolhida por especialistas — notícia publicada na renomada revista científica Galileu — como uma das dez melhores cidades do Brasil para observação astronômica. Sim, eu posso pensar em pelo menos mais meia dúzia de cidades com céu igualmente exuberante, mas não seria esse o ponto.
O cerne da questão é que tal fato deveria suscitar debates sobre o que fazer com essa incrível oportunidade. Todos sabemos da vocação turística natural de nosso município, mas após a tragédia climática de 2011, nos encontramos com poucas opções ou diversidade. E existem, realmente, infinitas possibilidades a serem exploradas no campo da divulgação científica, da cultura e do turismo: noites de observação, palestras, exposições e até uma "Star Party”!
Esperemos que nossas autoridades olhem com mais atenção para o que temos aqui. Só é pedido um pouco de visão do que pode ser uma excelente oportunidade de promoção de nosso município e região. Nossa comunidade só tem a ganhar com isso.
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