17 de dez. de 2014

"Estrela" de Belém?



(Dermeval Carneiro - O Povo) Como todos nós sabemos, estamos a poucos dias da mais famosa data do calendário cristão, o Natal, considerada a data do nascimento de Jesus Cristo. Mas será que Cristo realmente nasceu no dia e ano em que se firma como a data do seu nascimento? Na coluna de hoje vamos abordar um tema que há séculos ainda é um “mistério” para a ciência: qual realmente foi o fenômeno astronômico que ocorreu e é conhecido como “Estrela de Belém”?

Nessa época, a tradição popular se repete. Residências, praças, lojas e avenidas são enfeitadas com árvores de Natal, presépios e outras alegorias. Em todos os adornos quase sempre aparece a figura de uma estrela com cauda (o que para muitos trata-se de um cometa) que, segunda a história contada, era a indicação do caminho para os três reis magos encontrarem o nascedouro daquele que seria o “Rei dos reis”.

Um registro bíblico diz: “Tendo pois nascido Jesus, em Belém de Judá, em tempo do rei Herodes, eis que vieram do Oriente uns magos à Jerusalém, dizendo: Onde está o Rei dos Judeus, que é nascido? Porque nós vimos no Oriente sua estrela: e viemos adorá-lo”. (Mateus, II, 1). Os magos eram sacerdotes-astrônomos, portanto, já tinham uma boa noção de fenômenos astronômicos. Segundo Heródoto, os magos faziam parte do povo meda, constituído pelos paretacenos, os busas, os estrucas, os arizantos, os búdios e os medas.

Para os que acreditam e têm fé, que continue a tradição. Mas, para os cientistas, o fato de não saber qual realmente foi o fenômeno celeste que aconteceu naquela ocasião incomoda muito. Promoveu e ainda promove inúmeros debates e pesquisas a cerca do tema. O astrônomo, e saudoso amigo, doutor Ronaldo Rogério de Freitas Mourão (25/5/1935 a 25/7/2014), no seu livro “O Livro de Ouro do Universo” (Ediouro Publicações, 4ª edição, 2001, página 68) escreve: “No entanto, é justamente o nascimento de Cristo o acontecimento histórico que mais tem atraído a atenção de inúmeros astrônomos, em particular daqueles interessados em problemas históricos e preocupados com a procura de uma explicação racional para o grande mistério da Estrela de Belém”.

Alguns acreditam que o fenômeno foi um “sinal divino” que a ciência não explica. Mas, para um dos grandes pilares da ciência, o astrônomo e físico alemão Johannes Kepler (1571-1630), foi um fenômeno astronômico transitório, como um meteoro, uma conjunção planetária, um cometa, uma nova ou supernova (explosão de uma estrela). Vários fenômenos astronômicos e meteorológicos foram sugeridos para explicar a natureza da Estrela de Belém. Vale ressaltar que muitos desses fenômenos já tinham sido observados antes e depois do nascimento de Cristo. Portanto, qualquer tentativa de associá-los à Estrela de Belém não se sustentará se não soubermos a data mais provável do nascimento de Cristo.

Qual o dia e ano em que realmente Cristo nasceu?
Não se sabe ao certo. A data aceita hoje foi imposta por definição que Cristo nasceu no ano 1 de nossa era e esse evento marcou o início da Era Cristã. Mas, na realidade, a verdade é outra. No ano 525 d.D., Dionísio (o Pequeno, século VI) fixou a data de nascimento de Cristo no dia 25 de dezembro do ano 754 (ano depois da fundação de Roma). Desde essa época, essa data marca a origem do nosso calendário atual. Mas Dionísio cometeu alguns erros de cálculo. Um deles foi não ter considerado o ano “zero”, algarismo que não havia no sistema de numeração romano e somente foi introduzido na Índia no século IX depois de Cristo.

Para se ter uma maior precisão dos prováveis anos em que Cristo teria nascido, é necessário um acurado estudo de acontecimentos históricos citados na Bíblia, como por exemplo: o nascimento de Cristo no reinado de Herodes citado por Mateus, o massacre dos inocentes, o recenseamento ordenado pelo imperador Augusto e vários outros eventos. Com base nesses estudos, pode-se concluir que o ano de nascimento de Jesus está situado no intervalo entre os anos 7 e 5 a.C.

O 25 de dezembro só começou a ser celebrado depois do ano 336 d.C. Antes disso, nessa data comemorava-se o solstício de inverno no hemisfério Norte, quando os dias começavam a ficar mais longos e Sol passava a se dirigir para o Norte. Mas, todo estudo sob a luz da ciência ainda deixa dúvidas sobre a data de nascimento de Cristo, até mesmo peritos em cristianismo afirmam que o nascimento teria ocorrido entre 5 e 7 anos depois da data que se aceita hoje.

Um confiável e bom resumo sobre a Estrela de Belém, o leitor pode encontrar no site do Planetário da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (www.ufrgs.br/planetario/estreladebelem.html).

Voltando aos prováveis fenômenos astronômicos sugeridos para explicar a natureza da Estrela de Belém, vejamos as possibilidade de pelo menos quatro deles. Teria sido um meteoro? Impossível! Um meteoro “risca” o céu em poucos segundos e, portanto, não seria um guia para os magos que tinham que viajar 800 quilômetros da Babilônia até a Judeia.

Teria sido um cometa?Mesmo que ainda não se tenha uma confirmação científica, é pouco provável que a Estrela de Belém tenha sido um cometa. Muitos associaram o fenômeno à passagem do Cometa Halley, mas astrônomos chineses derrubaram essa hipótese. Eles observaram o Halley na constelação de Gêmeos, no início da Era Cirstã, em 25 de agosto do ano 12 a.C. Portanto, muito distante da data atualmente aceita para o nascimento.

Outra hipótese sugerida é a da conjunção planetária. Um fenômeno brilhante que aparece no céu como aparente encontro de planetas. De fato, Kepler calculou que houve uma tripla conjunção dos planetas Júpiter e Saturno antes do início da Era Cristã (ano 7 a.C.). Os registros desse fenômeno foram encontrados num antigo documento, a tábua cuneiforme Almanaque estelar de Sippar. Essa hipótese também não tem sustentação científica, pois a máxima aproximação entre esses planetas foi de cerca de 1 grau, que é o dobro do diâmetro aparente da Lua cheia. Portanto, impossível esses planetas terem sido observados como um único astro, como citado na Bíblia (Mateus, II: 9).

A Estrela de Belém teria sido uma Nova? Na minha parca opinião, essa hipótese é a mais forte candidata. Nova é um tipo de estrela explosiva que repentinamente aumenta seu brilho cerca de 10 mil vezes em dois ou três dias. Algumas delas são recorrentes e têm um ciclo de reaparecimento bastante regular. Com base nesse ciclo, o astrônomo norte-americano Richardson defendeu a hipótese de que a Estrela de Belém foi uma Nova situada na constelação da Coroa Boreal que na época era visível bem alta no céu de Belém de Judá. Mas essa hipótese também pode ser descartada, o brilho de segunda magnitude não teria impressionado os reis magos, pois existem muitas estrelas no céu com brilho superior.

Para os astrônomos ingleses David H. Clark e John H. Parkinson, a Estrela de Belém foi uma brilhante Nova registrada por astrólogos chineses no ano 5 a.C. Note-se que esse ano está dentro daquele intervalo, onde especialistas católicos defendem que o nascimento de Cristo deve ter ocorrido entre os anos 7 e 5 a.C.

Então, o que temos? O que parece é que nunca teremos uma confirmação científica do fenômeno conhecido como “Estrela de Belém”, que anunciou o nascimento de Cristo.
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E mais:
5 Teorías: La verdad acerca de la Estrella de Belén (Dr. Salvador Aguirre - em espanhol)
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Cientistas e astrônomos tentam descobrir o mistério da estrela de Belém (Jornal da Dez - Globo News)

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