8 de dez. de 2014

“Talvez botemos essa perfuratriz para funcionar”, diz engenheiro da Rosetta

Confira os melhores momentos do #FaceToFace GALILEU com Lucas Fonseca, único brasileiro que trabalhou no projeto da ESA



(Galileu) A Agência Espacial Europeia (ESA) fez história com a missão Rosetta: pela primeira vez, a humanidade conseguiu pousar uma sonda em um cometa. Mas o que exatamente deu errado com o pouso do módulo Philae? Nesta quarta-feira (19/11), o engenheiro Lucas Fonseca bateu um papo com nossos leitores e tirou esta e muitas outras dúvidas em um #FacetoFace na nossa página do Facebook. Ele foi o único brasileiro envolvido no projeto da ESA. Durante três anos, trabalhou na agência espacial alemã com a equipe que planejou o pouso do módulo Philae, que atualmente se encontra sem bateria e em uma área com pouca incidência de luz solar, prejudicando os paineis fotovoltaicos.

Perdeu o bate-papo? Não se preocupe - listamos, aqui, os melhores momentos. Confira:

Qual era o seu papel na missão? (por João Bruno)
Lucas Fonseca: Eu tentava entender quais eram as possíveis perturbações que a sonda poderia sofrer durante sua descida, meu trabalho era destinado para o período entre o momento da separação das duas sondas e terminava assim que o Philae tocava no solo. Eu gerava modelos computacionais que prediziam essas perturbações a simulavam os resultados dessa interação da sonda com esses agentes externos.

E quanto à questão da recarga deste aparelho que pousou em local que não foi o programado, e que não está recebendo a energia solar para se auto-carregar? (por Rafaelle Souza Pimentel)
Lucas Fonseca: Para a bateria se carregar, ela precisa estar com temperatura perto do 0 grau. Com a incidência de luz atual, não chegamos nem perto disso. Precisamos torcer que quando mais próximo do sol, teremos luz suficiente para aquecer e assim recarregar e continuar os experimentos.

Quando o cometa estiver próximo do Sol ele ficará com cauda? Isso não causaria danos aos aparelhos? O satélite ancorado no cometa pode sobreviver a isso? (por Ralf Yussef)
Lucas Fonseca: A atividade do núcleo do cometa varia muito entre cometas, então é um pouco difícil de prever como a cauda vai se comportar. Mas sempre acreditamos que ambas as sondas seriam soterradas pela poeira gerada pela atividade do núcleo do cometa assim que se aproximassem do perihellium (ponto mais próximo do sol), mas é uma incógnita.

Mesmo que a perfuratriz tenha operado com sucesso, por que o experimento não produziu os resultados esperados quanto à coleta de amostras? (por Carlos Warley)
Lucas Fonseca: Infelizmente recebemos a notícia ontem que de fato o SD2 não coletou amostras. Mas existem outros instrumentos na sonda que respondem, se não em sua totalidade, mas diversos pontos que a perfuratriz geraria como ciência. Ainda acreditamos que muita coisa possa ocorrer com a aproximação do sol, talvez botemos essa perfuratriz para funcionar.

Podemos receber novos dados da Philae algum dia? Quais as chances de restabelecer contato com ela? (por Henrique Lourenço Januario)
Lucas Fonseca: Podemos sim, mas por enquanto é um tiro no escuro, não consigo te expressar em números essa chance. Os cientistas estão otimistas, isso que importa.

Impossível não perguntar. O que era aquele som do cometa? (por Leandro Lara)
Lucas Fonseca: O cometa emite ondas eletromagnéticas geradas por suas atividades. O som que escutamos é um artifício que relaciona essas frequências eletromagnéticas com sons. Não escutaríamos esses sons se estivéssemos lá, se trata apenas de um artifício computacional.

A competência intelectual da missão é inegável, mas existe algum percentual de sorte para o êxito da operação? (por Madson Angelim)
Lucas Fonseca: A sorte conta demais para nós, engenheiros espaciais. Não conseguimos antecipar absolutamente todas as situações e trabalhamos sempre no limite. Obviamente utilizamos de metodologias para mitigação desses riscos. Mas a sorte anda do nosso lado o tempo todo

Quais conselhos você daria pra quem está fazendo engenharia e quer trabalhar nessa área espacial? Engenheiros brasileiros sofrem algum preconceito lá fora? (por Denis Diniz)
Lucas Fonseca: Acho que a maneira mais fácil é buscar especialização num assunto que seja pertinente com espaço. Seja em uma graduação, mestrado e doutorado. Nunca sofri preconceito por ser brasileiro, mas o fato de ter um diploma francês me ajudou muito no processo. Possivelmente apenas com o diploma da USP teria sido muito mais difícil. Conselho que eu dou é, saiba onde você quer chegar, e procure a especialização correta para isso

Como foi participar dessa missão tão importante para a história da pesquisa espacial? (por Rennan Araujo)
Lucas Fonseca: A sensação é incrível. Sempre fui muito bem tratado pelo time e tenho grandes amizades desenvolvidas nessa época. Pelo fato de ser brasileiro e assumir uma vida distante do meu país de origem, eu era super bem recepcionado. A missão em si era incrível, talvez no dia-a-dia batendo o cartão no trabalho como em qualquer outro trabalho normal, as coisas se tornassem rotineiras. Mas bastava refletir um pouco sobre o que estava fazendo, que percebia que era uma rotina mais do que especial.

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