24 de abr. de 2015

Telescópio Hubble popularizou a astronomia, diz brasileiro na Nasa

Telescópio espacial comemora, nesta sexta-feira (24), 25 anos no espaço. Para brasileiro, telescópio mudou tudo o que se entendia por astrofísica.


(G1) Para o astrofísico brasileiro Rafael Eufrásio, que trabalha na Nasa, o telescópio espacial Hubble inspirou uma geração inteira de novos cientistas. "Desde selos de cartas, a roupas, gravatas e outros adereços é fácil perceber que o Hubble exerceu e exerce um papel fundamental em expor e criar interesse de crianças e jovens a seguirem carreiras científicas em geral", afirmou o pesquisador por e-mail, em entrevista ao G1.

O instrumento – que orbita a Terra a 570 km de altitude e é resultado de uma colaboração entre a agência espacial norte-americana, a Nasa, e a Agência Espacial Europeia, a ESA – comemora 25 anos no espaço nesta sexta-feira (24).

Eufrásio trabalha desde 2008 no Goddard Space Flight Center da Nasa, responsável pelas operações do Hubble. Em seus projetos de pesquisa, que envolvem a identificação das características da formação das estrelas em galáxias entre 10 e 300 milhões de anos-luz da Terra, o brasileiro conta que o Hubble teve o papel de discernir detalhes nas imagens que nenhum dos outros telescópios proporcionava.

O equipamento, que pesa 11 toneladas, mede 13,2 metros de comprimento por 4,2 metros de diâmetro. Com um espelho primário de 2,4 metros de diâmetro, o Hubble possui 100 terabytes de dados arquivados e gera atualmente 140 gigabytes de dados brutos por semana.

Expansão acelerada do Universo
Segundo o brasileiro, o Hubble garantiu imagens muito mais nítidas do que qualquer outro observatório na Terra e, por isso, muitos fenômenos inesperados foram revelados. "Isso mudou completamente o que entendíamos como astrofísica", diz. Um dos principais exemplos foi a pesquisa que confirmou a expansão acelerada do Universo. A descoberta, que levou ao Nobel de 2011, foi feita por observações de explosões de supernovas obtidas pelo Hubble e por outros telescópios terrestres.

Aprender sobre o ciclo de vida das estrelas foi uma das razões para a construção do telescópio. Por ele operar acima das distorções e dos efeitos bloqueadores da atmosfera do planeta, os astrônomos esperavam poder contemplar um passado mais distante, analisando gerações de estrelas e galáxias que se formaram mais perto do Big Bang, a explosão que teria dado início ao universo, cerca de 13,7 bilhões de anos atrás.

O Hubble revelou, além disso, buracos negros no coração de galáxias cuja existência até então a ciência conseguia apenas supor. Ele também fez um milhão de imagens de corpos celestes, alguns dos quais nos confins do cosmos.

Percalços
A história do Hubble não foi só feita de imagens impressionantes e descobertas revolucionárias. Eufrásio lembra que, por um defeito no polimento do espelho, o telescópio inicialmente produziu imagens borradas, o que só foi ajustado na primeira missão de conserto, em dezembro de 1993, quando astronautas substituíram um dos instrumentos pelo COSTAR (Corrective Optics Space Telescope Axial Replacement).

"O COSTAR é de fato os 'óculos' (ou 'lentes de contato') do Hubble. Até hoje, cinco missões de conserto foram enviadas, com os astronautas substituindo instrumentos e giroscópios por equipamentos de ponta. A última missão foi em 2009 e hoje se espera que o Hubble continue funcionando como está, pelo menos, até 2020."

Acesso ao Hubble
Qualquer pessoa de qualquer país pode soclicitar o uso do Hubble em pesquisas, desde que justifique cientificamente o uso, diz Eufrásio. O comitê julgador deve entender que aquele é o melhor uso do instrumento. "A comunidade brasileira é bem ativa e tem se tornado cada vez mais competitiva, especialmente com o possível ingresso do Brasil no Observatório Austral Europeu (European Southern Observatory, ESO) e com a participação de brasileiros em diversas colaborações para desenvolvimento de telescópios futuros."

A Nasa espera manter o Hubble em operação até pelo menos 2020. Seu sucessor, o Telescópio Espacial James Webb, deve ser lançado em outubro de 2018. "O James Webb Space telescope, apesar de ser o sucessor científico do Hubble, terá habilidades complementares às do Hubble e não será responsável por 'aposentar' o Hubble", explica Eufrásio.

Segundo ele, o novo telescópio produzirá imagens mais nítidas, mas o campo de visão será bem menor. "As capacidades que o Hubble tem de observar luz visível e ultravioleta ainda serão únicas."
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Matéria com imagens e infográfico aqui
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