Dedicada a desvendar o Universo, a astrofísica gaúcha Thaisa Storchi Bergmann ganhou um prêmio voltado às maiores cientistas do mundo
(Claudia/Planeta Sustentável) No mês passado, o saguão do aeroporto de Paris exibia pôsteres com imagens de mulheres. Mas não eram modelos – ao menos não da moda. Estavam ali retratadas cinco das maiores cientistas da atualidade, uma de cada continente. Entre elas, uma brasileira: a astrofísica Thaisa Storchi Bergmann. A gaúcha estava na cidade para receber o prêmio For Women in Science (em tradução livre, “Para mulheres na ciência”), que há 17 anos busca promover a atuação feminina na área. Thaisa foi laureada pela Unesco e pela Fundação L’Oréal com uma bolsa de 100 mil dólares por sua contribuição à ciência.
Ela, que já foi indicada ao Prêmio Claudia em 2006, é especialista em buracos negros supermassivos (ou gigantescos se comparados a um buraco negro estelar), como o que existe na Via Láctea (a galáxia onde fica a Terra). Enquanto um buraco negro estelar é formado após a explosão de uma estrela, acredita-se que os supermassivos tenham aparecido bem cedo no Universo, quando tinham menos de 10% da idade deles, junto com as galáxias.
Em 1991, a cientista fez uma descoberta reconhecida internacionalmente pelo meio científico: verificou a presença de um disco de gás ao redor de um buraco negro de uma galáxia inativa. O peso dessa descoberta é difícil de ser medido em termos práticos, mas foi capaz de incluí-la na lista dos brasileiros mais citados em artigos internacionais. “A maior contribuição do meu trabalho é estudar como os buracos negros evoluem e influenciam a evolução das galáxias para, assim, compreendermos a evolução do Universo”, explica Thaisa. “O prazer da descoberta é minha motivação pessoal”. E essa paixão, ela conta, vem de longe. Desde criança, era fascinada por laboratórios e, aos 12 anos, já tinha um em casa. “Passava mais tempo fazendo experimentos e observando objetos no microscópio do que brincando de bonecas”, relembra.
Aos 59 anos, a professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul conta que já sofreu com o preconceito de gênero na academia (antes dominada por homens), mas acredia que ele vem diminuindo. Em 1997, quando ainda amamentava o caçula, então com 4 meses, foi convidada a participar de um congresso no Chile que duraria uma semana. Inicialmente, os organizadores relutaram em permitir a presença do bebê com o argumento de que poderia incomodar os demais. “Duvido que um homem passaria por esse tipo de constrangimento. Em geral, nós, mulheres, temos que fazer esforços maiores do que o normal”, diz. Na época, ela insistiu e conseguiu que a criança e a babá a acompanhassem, mas ficou clara a dificuldade que é conciliar a vida profissional com a maternidade.
Hoje, com os três filhos crescidos, Thaisa, já mundialmente reconhecida, quer expandir o terreno do conhecimento brasileiro. A astrofísica é grande apoiadora de um projeto que busca a entrada do Brasil na maior associação astronômica do mundo, o Consórcio de Países Europeus (ESO). Isso daria aos astrônomos brasileiros acesso pleno a todas as instalações do grupo e a seus moderníssimos instrumentos. Quem sabe, assim, poderemos assinar mais descobertas como a dela.
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