12 de nov. de 2015

Voyagers. Quer enviar uma mensagem para o espaço? Escreva a Christopher Riley

O documentarista que trabalhou vários anos com a NASA acha que 38 anos depois do lançamento está na altura de enviar uma última mensagem às Voyagers antes de perdermos, em 2025, o contacto com as naves que já viajam fora do sistema solar. A campanha no Facebook, que arrancou a semana passada, recebe cerca de 100 mensagens novas por dia.



(IOnLine) Nasceu no Yorkshire, Reino Unido, tem 48 anos e um doutoramento do Imperial College, Universidade de Londres. Produtor, realizador e escritor, já foi nomeado para BAFTA e Emmy e tem trabalhado ao longo dos anos em vários projectos da NASA. É convidado recorrente da televisão e da rádio britânicas para falar sobre ciência e astronomia. A semana passada lançou uma campanha no Facebook: quer receber mensagens de todo o mundo para enviar para as Voyagers, as naves que partiram da Terra em 1977 levando consigo um disco dourado com o resumo da história da humanidade para o caso de se cruzarem com outra civilização inteligente. Hoje já estão fora do sistema solar e em 2025 a NASA perderá todo o contacto com elas. É por isso que Christopher Riley não quer perder a oportunidade de lhes enviar uma mensagem final.

Em que momento pensou “e se enviássemos uma mensagem às Voyagers”?
As Voyagers são um dos grandes feitos da humanidade. São monumentos notáveis à nossa espécie e levam consigo pela galáxia provas da nossa existência. Mas não estaremos para sempre em contacto com elas. É por isso que, antes que a energia a bordo acabe, porque não fazer upload de uma mensagem final para o seu banco de memória marcando o fim do seu tempo de contacto connosco?

É um projecto a solo ou tem uma equipa a trabalhar consigo?
Somos uma pequena equipa de voluntários que desenvolvem a aplicação do Facebook.

Nem toda a gente leva a iniciativa a sério. Tem recebido muitas mensagens disparatadas?
Não. Temos recebido cerca de 100 mensagens por dia e a maioria são genuínas e sinceras. As pessoas parecem estar a pensar bem no que querem escrever.

Sente que os terráqueos querem realmente comunicar com alienígenas?
Acho que sempre houve um grande anseio da humanidade por encontrar um sinal de que a Terra não é o único mundo a albergar vida inteligente, de que há lá fora outras civilizações que podemos contactar. Quando damos oportunidade às pessoas de dizer algo a outro mundo não é de estranhar que apareçam tantas sugestões.

Tem uma ideia de quantas contribuições terão no final?
Foram cerca de 400 em quatro dias. Sabe-se lá quantas serão nos próximos anos... Mas gostava mesmo de conseguir contribuições de todas as culturas e comunidades, e o Facebook chega a todo o mundo. Este projecto é para todos os seres humanos contribuírem, já que é uma mensagem que representa a nossa espécie como um todo.

Quando dirá que já é suficiente, vamos enviar para a NASA?
Vamos ter o projecto no ar durante os próximos cinco anos antes de enviarmos as melhores sugestões para a NASA. Isto ainda dará muito tempo à agência para decidir se quer enviá-las para uma das Voyagers antes que a energia a bordo acabe (no início dos anos 2020).

Haverá uma triagem?
Acho que encontraremos uma maneira de os utilizadores de Facebook escolherem as suas mensagens favoritas – e provavelmente só enviaremos algumas dezenas, as mais populares, juntamente com a nossa petição com toda a gente que contribuiu para o projecto.

Na página do Facebook diz ter esperança que a NASA envie a mensagem. Já iniciou contactos?
Trabalhei com a NASA durante muitos anos em vários projectos de documentários e fiz amigos por lá ao longo do tempo – alguns nas missões Voyager. Espero que as respostas a esta campanha e o interesse despertado pela ideia em todo o mundo acabem por persuadir a NASA de que isto é uma coisa boa.

O disco dourado foi feito nos anos 70 e desde então evoluímos muito. Mas 38 anos em tempo intergaláctico são um nanossegundo… Daqui a outros 38, os anos 2010 podem parecer saídos da pré-história…
O disco dourado é mais eterno do que julga. Embora tenha sido feito em 1977 foi uma tentativa de reflectir a cultura humana de milhares de anos. Algumas das músicas são de culturas ancestrais e algumas das línguas representadas são tão antigas como o sumério [a primeira língua escrita conhecida]. Não é apenas um instantâneo dos anos 70. A ideia de apresentar uma mensagem final é marcar o fim da fase científica das Voyager – enquanto ainda podemos contactá-las –, para marcar o facto de passados 40 anos continuarem a funcionar e a recolher dados preciosos. Também é uma oportunidade de fazer um comentário final sobre a rapidez com que a nossa sociedade mudou desde que as naves deixaram a Terra. A nossa população duplicou e o desafio de vivermos juntos de forma pacífica e sustentável são prementes. É claro que esta perspectiva vai mudar de novo dentro de 38 anos, mas isso não significa que não valha a pena fazer um registo de como as coisas estão agora usando os últimos amperes de energia a bordo antes de dizermos adeus.

Numa das suas entrevistas dizia: “porque não fazer este último gesto, simples e fácil, de comunicação intergaláctica?” É mesmo simples e fácil?
O que poderia ser mais fácil que angariar sugestões via Facebook? É a plataforma perfeita para recolher mensagens de uma comunidade global e uma forma de partilhar todas as que forem sugeridas. O acto seguinte, enviar uma delas para as Voyagers, não deve ser um grande desafio. Em comparação com todo o esforço para propor, financiar, construir e manter as Voyagers nos últimos 40 anos e levá-las à fronteira do sistema solar, este último gesto deve ser fácil.

Também disse que é pouco provável que as nossas naves sejam interceptadas por alienígenas. Porquê fazer isto?
Creio que a nossa campanha no Facebook abraça o mesmo espírito com que os discos dourados foram criados. Centrarmo-nos no que gostaríamos de dizer sobre a nossa civilização a outra sociedade tecnológica e inteligente. Sejam encontradas ou não, não deixa de ser um desafio interessante – como a reacção à nossa campanha sugere até agora.

Vamos assumir que uma forma de vida extraterrestre encontra as Voyagers. Que reacções haveria?
O desafio com a nossa proposta de mensagem digital (ao contrário dos discos dourados analógicos) é que vai ser difícil de decifrar. É impossível escrever o que quer que seja numa das nossas línguas que seja facilmente descodificado e compreendido. A primeira reacção seria perceber que estava ali algum tipo de código mas não iriam percebê-lo ou apreciar o seu significado. Talvez conseguissem interpretar os padrões de repetição de caracteres, mas seria muito difícil. Há quem sugira que seremos nós a reencontrar as Voyagers quando evoluirmos e tivermos tecnologia que nos permita viajar mais depressa que elas pela galáxia. Esse momento – quanto os nossos descendentes longínquos virem como nos sentíamos sobre nós próprios no início do século xxi – poderá ser propício a uma reflexão muito especial.

E o inverso? Se fôssemos nós a encontrar uma Voyager de outro mundo?
Ficaria espantado se, na vastidão da galáxia, uma sonda espacial alienígena conseguisse, provavelmente por acidente, encontrar o caminho para o sistema solar, chegando suficientemente perto para ser detectada. Significaria que quem a tivesse enviado teria enviado milhões delas para a galáxia, e isso seria extraordinário. A minha crença pessoal é que civilizações como a nossa serão incrivelmente raras na Via Láctea. Isso dá ao que fizemos enquanto espécie – enviar as Voyagers para fora do sistema solar – tenha um significado ainda mais belo e profundo e a oportunidade de enviar uma mensagem final seja ainda mais maravilhosa.

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