2 de dez. de 2015

Observatório registra a Via Láctea em seu esplendor


(Correio Popular) Três anos de trabalho, 18 horas de exposição, mais de 1,1 mil fotos e três meses edição e montagem de imagens. O projeto é grandioso, mas os números perdem todo sentido quando olhamos para o retrato da Via Láctea feita a partir do Observatório Municipal Jean Nicolini, em Campinas. A imagem, que mostra como somos pequenos diante da imensidão do universo, encanta e serve como ponto de partida para ensinamentos em Astronomia e para incentivar as futuras gerações a olharem mais para o céu e a desvendarem os seus mistérios.

Na imagem, podemos observar não só nebulosas e constelações, mas também o centro da Via Láctea, onde existe um buraco negro, que fica oculto pela luminosidade das nebulosas. “Conseguimos capturar milhões de estrelas e a maior parte das constelações que são vistas aqui no Hemisfério Sul”, conta o astrônomo Júlio Lobo, um dos autores do projeto.

Seu companheiro de projeto, o engenheiro mecânico e astrofotógrafo Rafael Defavari, explica que o painel que montou é um retrato fiel da Via Láctea que poderia ser observada a olho nu se não existisse poluição luminosa. O trabalho demorou para ser concluído porque foram necessárias várias noites de observação em condições ideais. As fotografias foram feitas em 15 noites de lua nova com o tempo bom. “A luz da lua ofusca os detalhes da Via Láctea, ela funciona como se fosse uma poluição luminosa”, explica o astrofotógrafo.

Na imagem conseguimos ver estrelas, constelações bem conhecidas, como a Cruzeiro do Sul, e nebulosas, nuvens moleculares de hidrogênio, poeira e plasma. Lobo explica que das 88 constelações existentes, das 78 são visíveis do Hemisfério Sul. Deste total, 60 foram fotografadas e estão no painel.

A imagem será impressa para ser fixada no Observatório, mas Lobo conta que procura patrocínio para imprimir um painel móvel gigante. “Queremos imprimir essa imagem em um tamanho bem grande para levar em eventos itinerantes”, explica.

O astrônomo conta que a imagem serve não só para mostrar a Via Láctea, como também para despertar o interesse por astronomia. “É um legado para o futuro, pode inspirar futuras gerações a continuar estudando astronomia”, diz Lobo.


A foto mostra a galáxia de Andrômeda, conhecida como M31 no Catálogo Messier, registrada através de um telescópio. O tempo de exposição total da foto é de duas horas e dez minutos, empilhando subexposições de um minuto para reduzir o ruído na imagem final, com o objeto sendo rastreado com uma montagem motorizada durante esse período. Fotografia tirada dia 17 de novembro de 2014, do Observatório Municipal de Campinas Jean Nicolini

Poluição luminosa
Se nada for feito para reduzir a poluição luminosa em Campinas, o número de estrelas visíveis a olho nu irá cair. “Proteger o céu é proteger também a fauna, a flora e a saúde humana. Podemos fazer a iluminação de uma forma eficaz, sem poluir o céu”, sustenta.

Por isso projetos como esse são tão importantes, eles permitem que as futuras gerações vejam como era o céu no passado. “Certamente o céu será diferente no futuro. Se tivéssemos tecnologia para fazer a imagem há 100 anos, certamente viríamos bilhões de estrelas no céu”, conta.

O céu que nos protege
O retrato do céu que nos protege — uma alusão ao filme de Bernardo Bertollucci, de 1982 — tem 0,12 gigapixel de tamanho. Ele foi montado a partir de 18 painéis de várias partes do céu. Para fazer as imagens, o astrofotógrafo Rafael Defavari usou uma câmera fotográfica profissional Canon 5D Mark 2 com uma lente de 50mm 1.8 acoplada a um rastreador que Defavari fez. “Ele rastreia a rotação do céu para que eu possa fotografar a mesma parte do céu várias vezes”, explicou.

Para fazer a imagem panorâmica, foram feitas 1,3 mil fotos (depois de editadas, 1,1 mil imagens compuseram o painel). Elas foram submetidas a um processo chamado de empilhamento, que consiste em retirar ruídos para que a imagem fique a mais nítidas e limpa possível.

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