7 de jun. de 2016

Pela janela do quarto, Daniel caça meteoros


(Correio Popular) Direcionada para o oeste do horizonte de Campinas e acoplada em um suporte acima de uma janela, uma câmera aparentemente sem qualquer sofisticação gera, diariamente, imagens deslumbrantes na tela do laptop de Daniel Leal Mateus, de 16 anos, posicionado na sala de sua casa, no Jardim do Lago 2. O cômodo transformou-se há pouco tempo na estação de monitoramento de meteoros DLM 1 (as iniciais de Daniel) — uma das 40 espalhadas pelo Brasil e interligadas à Rede Brasileira de Observadores de Meteoros (Bramon).

No portão de casa, Daniel timidamente convida para conhecer o equipamento que na madrugada do último domingo foi responsável por capturar um grande fenômeno astronômico: os sprites, gerados pelos campos elétricos produzidos por relâmpagos que descem das nuvens para o solo, e dão um belo efeito visual. Os últimos sprites foram vistos somente em 2007, em um projeto de alta complexidade logística e financeira, no Sul do Brasil.

Mas com sua câmera de alta sensibilidade, que custou R$ 100,00, e uma lente modelo F-1.4 adquirida em uma “feira do rolo” pelo pai Antônio Carlos, de 49 anos, Daniel foi o único no Brasil a capturar com tamanha nitidez o rastro brilhante de 14 sprites, e recebeu notoriedade entre os mais experientes no assunto.

O aluno de escola pública, que sonha em cursar astronomia e tem como ídolo o astronauta Marcos Pontes, não teve sorte de principiante, como se costuma dizer.

Apesar de estar monitorando o espaço desde agosto do ano passado, já capturou cerca de 400 meteoros que atravessaram a atmosfera, e tem na ponta da língua nomes de fenômenos, números de magnitudes de meteoros e perceptivelmente uma vontade muito grande em aprender mais sobre o espaço.

“Eu falei para o pessoal da Bramon que eu queria montar uma estação em casa e eles me deram as dicas”, recorda. Foi pesquisando na internet e falando com os próprios observadores da rede brasileira que Daniel adquiriu sua câmera de alta sensibilidade à luz — que tem um alcance de até 500 km de distância —, baixou um software que grava as imagens e agora ajuda novos observadores a montarem seus equipamentos.

“Eu comecei a me interessar em 2014 pelos meteoros. Montei um tripé, encaixei meu celular e mirava na lente um binóculo. Depois instalei uma webcam que gravava a noite toda. Eu tinha que assistir um tempão para ver se tinha capturado algo”, lembra. O pai é um dos principais incentivadores. No momento está desempregado, e adiando a compra de uma lente F-1.0 para que Daniel possa fazer imagens em 360º. “A gente incentiva porque vê que ele gosta muito. É muito esforçado”, disse Antônio.

Suas imagens são transmitidas do site da Bramon e também do Clube de Astronomia de Nhandeara (Astrocan), da qual é também um dos administradores das redes sociais. Na Bramon são atualmente 36 operadores em 40 estações, espalhados em 15 estados brasileiros.
Mas em breve a estação DLM 1 poderá ser desativada e transferida para o município de Uru, próximo a Bauru e às margens do Rio Tietê. É que a família depende da venda de um terreno para efetivar a mudança. Daniel não vê problema, já que poderá montar uma nova estação em um local onde a poluição luminosa seja bem menor do que em Campinas, e assim capturar muito mais meteoros.

SAIBA MAIS
Os sprites são fenômenos que ocorrem durante tempestades, produzidos por campos elétricos gerados por relâmpagos que vão da nuvem para o solo. Eles podem ser registrados por câmeras de alta sensibilidade CCD (charge-coupled device), que têm poder de observar um evento desses a uma distância de até 1.000km. O sprite se forma acima das nuvens e se estende a partir de 45km de altitude, podendo chegar a 90km. O fenômeno deixa um rastro brilhante no céu e encanta pela beleza. Os primeiros sprites foram registrados em imagens apenas no final da década de 1980, a partir de aviões com equipamento científico voando a altas altitudes.

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