27 de set. de 2016

Escolas utilizam o relógio de Sol para motivar alunos



(Nelson Travnik) Já são muitas as escolas que estão usando um instrumento milenar para enriquecer o estudo nas áreas de Ciências, História e Geografia. Os alunos aprendem a construir um relógio de Sol e com isso verificam a gama de conhecimentos que passam a adquirir como: orientação geográfica pelo Sol, dia solar e dia sideral, mecanismo das estações do ano, como obter a latitude local, nascer e por do Sol em diferentes épocas do ano, estabelecimento do calendário e a importância do uso nas navegações e até na determinação do limite territorial que dependia da determinação da hora. Os alunos aprendem que é fundamental conhecer o que é norte geográfico e norte magnético. O relógio de Sol ensina isso pois para sua instalação é necessário conhecer o norte geográfico e não o magnético como indicado pelo bussola. O conhecimento da humanidade foi formado durante longos séculos e os relógios de Sol são parte dessa história. Na cidade de Concórdia, SC, todas as escolas municipais a partir de 1996 passaram a contar com um relógio de Sol.

Desde a pré-história foram usados como simples estacas fincadas no chão. Contudo foi na Mesopotâmia que surgiu o relógio de Sol. Mais tarde foram desenvolvidos no Egito há cerca de 1500 a.C. Acredita-se que os obeliscos construídos naquele país há 3.500 a.C. tinham também a função de marcar as horas. Como não era possível saber as horas em dias nublados, chuvosos e no interior das moradias, os gregos criaram um relógio de água e deram-lhe o nome de cleipsidra. Os egípcios tiveram a idéia de substituir a água pela areia e criaram a ampulheta. Na Idade Média, a medida do tempo chegou a ser feita com alfinetes espetados em velas, em alturas previamente calculadas.

No Brasil o mais antigo relógio de Sol está numa parede na Igreja de S. Francisco Xavier, em Niterói, RJ, fundada pelo padre José de Anchieta em 1572. Existem relógios de Sol que fogem ao usual e chamam a atenção das pessoas. Um encontra-se na sepultura do Senhor Fenelon Ribeiro no Cemitério do Bonfim em Belo Horizonte, MG, datado de 1977. O outro também em uma sepultura, encontra-se no Cemitério Municipal de Matias Barbosa,MG, e foi construído pelo autor em 2011 para adornar o tumulo da família. Um outro, único no País, tem um canhão que dispara quando o astro-rei cruza o meridiano central da cidade de Piracicaba,SP. Foi construído também pelo autor e desde janeiro de 2016 está instalado no Observatório Astronômico de Piracicaba Elias Salum constituindo uma grande atração durante as visitas escolares. Um outro, o maior do Brasil , é o de Brasília projetado por Oscar Niemeyer e instalado no Parque da Cidade. Para alguns, o mais bonito é aquele existente de várias faces na Praça N. Senhora da Conceição em Franca, SP, construído em mármore de carrara pelo frei Germano d’ Annecy em 1886 .

A construção de um relógio de Sol tem três partes : o ponteiro fixo chamado gnomon paralelo ao eixo de rotação da Terra; o mostrador ou mesa onde ficam o números que correspondem as 12 horas do dia e as linhas horárias. São de três tipos principais : o horizontal, o vertical e o equatorial. Este último, o mais fácil de construir é o preferido pois utiliza somente um transferidor que possibilita marcar a latitude do local e não necessita cálculo para determinar os ângulos horários pois todos eles tem 15 graus. O relógio de Sol marca o dia solar verdadeiro. Como ele se adianta, iguala ou se atrasa durante o ano, essa diferença é colocada em uma tabela chamada Equação do Tempo onde se obtém a hora certa marcada pelos relógios. Se os dois movimentos da Terra fossem regulares e se o seu eixo fosse perpendicular ao plano da eclíptica, os dias solares teriam sempre a mesma duração o que não acontece. Geralmente os relógios de Sol contém frases em latim ou do idioma do país. A mais comum é aquela : Tempus Fugit, Carpe diem; o Tempo passa, foge; aproveite o dia. Relógio de Sol, vetustas e silenciosas testemunhas de um tempo que já passou.

Na complementação do assunto nas escolas, é importante abordar a medição do tempo, desde a antiguidade aos relógios mecânicos e aos atuais onde a hora é gerada por relógios atômicos à base de césio, rubídio ou maser de hidrogênio com uma precisão impressionante : para atrasar um segundo são necessários 10.000 anos !

O autor é diretor do Observatório Astronômico de Piracicaba Elias Salum e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França.

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