21 de out. de 2016

Brasileiros desenvolvem espectrógrafo que ajudará em pesquisas sobre estrelas

Instrumento foi despachado de Itajubá (MG) até um telescópio no Chile



(Galileu) Feito no Laboratório Nacional de Astrofísica (LNA), o espectrógrafo Steles custou R$ 2,5 milhões. Foi enviado em agosto rumo ao observatório Soar, do qual o Brasil é sócio. Bruno Castilho, diretor do LNA, fala do projeto e da logística delicada.

Quais pesquisas poderão ser conduzidas com o Steles?
A mais importante delas é a composição estelar. O espectro de uma estrela é como um arco-íris com linhas pretas no meio, que surgem quando o elemento químico captura a luz que ia sair. O estudo das linhas determina o elemento e sua quantidade. Analisando muitas estrelas, aprendemos a história dos elementos dentro delas e também do Sol, que tem relação com a formação da Terra e de nós mesmos.

O instrumento se destaca diante de outros parecidos?
Comparado com seus similares, é mais leve, mais barato e mais eficiente, pois enxerga melhor a parte ultravioleta do espectro da luz. Nossa atmosfera corta boa parte dessa radiação — ainda bem, senão nos fritaria. Mas, em astrofísica, ela contém muitas linhas de elementos químicos interessantes, como o berílio e o urânio, que outros instrumentos não podem enxergar.

Como foi o transporte de Itajubá até o topo dos Andes?
Toda vez que botamos um equipamento desses no avião, é como despachar um filho (risos). O Steles foi embalado em quatro caixas pesando 2,5 toneladas, projeto de uma empresa gaúcha que transporta iates. As peças foram embaladas a vácuo, como fazem com café, para não pegarem umidade. O transporte até o aeroporto de Viracopos foi feito em caminhão de suspensão a ar, que vibra menos. O avião de carga era pressurizado e com controle térmico. Esses aviões são frequentes, pois trazem frutas e vinho do Chile. Em um comum, as lentes poderiam estourar. Tudo correu tranquilamente, foram 20 dias desde a saída do LNA até a chegada na sede do Soar, em La Serena. Quando acertarmos o dia da instalação, o Steles vai para a montanha.

O que causou o atraso de cinco anos na conclusão do Steles?
Houve demora nas importações, sem contar a parte óptica, que foi inteiramente fabricada nos Estados Unidos e precisou ser refeita. Ainda estamos aprendendo a gerenciar projetos complexos como este. O Soar reconhece que o atraso comprometeu as pesquisas. Mas eles preferiam que o Steles saísse daqui dentro dos parâmetros, em vez de chegar lá rápido e com defeito.

E que legado o projeto deixa para a ciência brasileira?
A capacitação dos cerca de 25 funcionários e bolsistas que participaram. Eles estão treinados para trabalhar em projetos de alta tecnologia e replicar o que aprenderam — isso é importantíssimo. Entramos no clube restrito de países que fabricam os próprios instrumentos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente