5 de dez. de 2016

Descobrindo novos mundos

Jornada Espacial chega à sua 14ª edição aproximando jovens e professores da tecnologia aeroespacial. O evento acontece de 4 a 10 de dezembro, em São José dos Campos

(JC) De 4 a 10 de dezembro, 74 alunos e 48 professores oriundos de 21 estados brasileiros e do Distrito Federal farão em uma fascinante viagem pelo mundo espacial. Ainda que não deixem a Terra, eles tomarão conhecimento das inúmeras possibilidades trazidas pela Era Espacial, nascida em 1957 com o lançamento do primeiro satélite artificial, o Sputnik. A XIV Jornada Espacial reunirá na capital espacial brasileira, São José dos Campos (SP), os 74 jovens que obtiveram o melhor desempenho entre os 744.137 estudantes que, em 13 de maio de 2016, participaram da XIX Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA).

A OBA é uma realização conjunta da Sociedade Astronômica Brasileira (SAB) e da Agência Espacial Brasileira (AEB), contando ainda com o apoio de diversas instituições públicas e privadas, incluindo o Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a Fundação Astronauta Marcos Pontes, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro, o Museu de Astronomia e Ciências Afins e o Observatório Nacional. A maior parte dos recursos para realização da OBA é proveniente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Em que pese o apoio dessas importantes organizações nacionais, a XIX OBA contou com o apoio voluntário de 63.057professores, que assumiram a responsabilidade de coordenarem as atividades da olimpíada em 7.895 escolas. Sem esses professores, a OBA e a Jornada Espacial não existiriam. Por isso, 48 professores também participam da XIV Jornada Espacial, acompanhando os seus alunos.

Programação
A decolagem dessa viagem espacial terá início às 16h30 de domingo no Auditório B do prédio da Computação do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), onde ocorrerá a abertura do evento, que contará com a participação da Agência Espacial Brasileira (AEB) abordando o Programa Espacial Brasileiro.

Na segunda-feira, 5 de dezembro, ocorrerá a primeira escala. No Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), alunos e professores visitarão Laboratório de Integração e Testes (LIT) e o Programa de Estudos e Monitoramento Brasileiro do Clima Espacial (EMBRACE). Também no Inpe saberão das razões históricas que levaram ao nascimento da Era Espacial e de como funcionam os quase 1.500 satélites que hoje operam ao redor da Terra.

Na terça-feira os participantes da XIV Jornada Espacial ouvirão sobre as leis e tratados que regem as atividades espaciais no mundo. Trata-se de um ramo do direito conhecido como Direito Espacial. Na palestra Shannon x Newton os alunos aprenderão como a tecnologia digital desenvolvida para viagens interplanetárias está presente nas comunicações que realizamos aqui mesmo na Terra. Enquanto isso, 48 professores participarão de uma oficina que lhes ensinará como construir plataformas de lançamento de foguetes. Após o almoço do dia 06, os alunos irão conhecer a aplicação dos satélites nas comunicações. E que lugar melhor para fazê-la se não em uma das maiores emissoras de TV do Brasil? No caso, a TV Vanguarda, afiliada da Rede Globo. Do mesmo modo, os professores visitarão o Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), onde conhecerão um dos maiores túneis de vento da América Latina. Também no IAE eles serão apresentados ao avião sem piloto, conhecido pela sigla VANT (Veículo Aéreo Não Tripulado). Na noite desse dia os viajantes espaciais sonharão com as estrelas e os planetas, vistos por meio de fotografias e telescópios.

Na manhã do dia 7, alguns sonhos da noite anterior se tornarão realidade. Professores e alunos construirão o Sistema Solar em escala e ficarão impressionados com o tamanho da estrela que rege a vida em nosso minúsculo planeta. Ainda sob o calor dessa descoberta, nossos viajantes aprenderão sobre a forma que nossa civilização desenvolveu para chegar ao espaço: os foguetes. A conexão Terra-Espaço será realizada por meio da palestra sobre os sistemas de posicionamento global, conhecidos pela sigla GPS. Apesar de utilizados na Terra, os receptores GPS comunicam-se com constelações de satélites distantes 22.000 km da superfície terrestre. Não é incrível? Apesar de toda tecnologia desenvolvida pela nossa civilização, que nos permitiu lançar cerca de 7.000 satélites e enviar mais de 200 espaçonaves para explorar o Sistema Solar, somente um deles abriga vida. Mas estaria a vida na Terra ameaçada pelo Aquecimento Global? Parte da resposta a esta estonteante pergunta será oferecida por meio da palestra de um dos maiores estudiosos brasileiros nesse tema, Dr. Gilvan Sampaio (CPTEC/Inpe).

Após uma noite de reflexão sobre a questão do Aquecimento Global, nossos viajantes aprenderão sobre como fazer uso de imagens de satélites para estimar o desmatamento da Floresta Amazônica, cuja área desmatada supera a taxa de um campo de futebol por minuto. Enquanto alguns derrubam árvores, outros colhem os frutos de sementes plantadas há mais de seis décadas. É o caso de dezenas de civis do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA) e de militares da Força Aérea Brasileira (FAB) e da Marinha do Brasil (MB), que trabalham na Operação Rio Verde. O objetivo desses brasileiros é lançar o foguete VSB-30, desenvolvido pelo Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE). O VSB-30 levará ao espaço 8 experimentos científicos e tecnológicos desenvolvidos pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Universidade Estadual de Londrina (UEL), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE). A Operação Rio Verde ocorre no Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), localizado no Estado do Maranhão. Distantes 2.500 km do CLA, alunos e professores também lançarão os seus foguetes. Enquanto os foguetes desenvolvidos por alunos e professores são confeccionados em garrafa PET, pesam poucas gramas e são impulsionados por água e ar comprimido, o VSB-30 pesa 2.500 kg, mede 13 m e é impulsionado por uma 1.500 kg de uma mistura combustível-oxidante, conhecida como propelente.

O lançamento de foguetes requer uma infraestrutura especial, conforme será explicado pelo Cap. Élio César Fonseca, especialista do Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI), onde, aliás, já ocorreram a X e XI Jornada Espacial, nos anos de 2013 e 2014, respectivamente. Como os dois centros de lançamento de foguetes brasileiros ficam distantes de São José dos Campos, os foguetes construídos por alunos e professores serão lançados a partir do Memorial Aeroespacial Brasileiro (MAB). No CLA, o sucesso do lançamento será celebrado efusivamente, haja vista que ali estão anos de trabalho de dezenas de profissionais. No MAB, o sucesso de cada lançamento é celebrado com a célebre frase: “UAU! Esse foi na Lua! Alto toda vida!”, indicando que o foguete alcançou elevada altura. Essa frase teve origem na Mostra Brasileira de Foguetes (MOBFOG), mais um evento nacional resultante da OBA e que, anualmente, reúne mais de 500 professores e alunos na cidade de Barra do Piraí (RJ). A noite que antecede o encerramento da XIV Jornada Espacial é marcada por uma confraternização.

Sexta-feira, 9 de dezembro, é o último dia de atividades da Jornada Espacial. E que melhor lugar para encerrar a XIV Jornada Espacial, se não no local onde foram plantadas as primeiras sementes do Programa Espacial Brasileiro? Foi a criação do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), em 1950, que permitiu ao Brasil ingressar na Era Espacial no ano de 1961. No início, parecia uma ficção. Um país que importava bicicletas pretendia estabelecer uma indústria aeronáutica. Não à toa, o Mal. do Ar Casemiro Montenegro Filho, criador do ITA, foi comparado a Júlio Verne, o Pai da Ficção Científica. Conhecer um dos resultados do sonho de um dos maiores brasileiros de todos os tempos é uma excelente maneira de iniciar o último dia da XIV Jornada Espacial. Finda a palestra sobre o Instituto Tecnológico de Aeronáutica, os professores conhecerão, no próprio ITA, novas tecnologias aplicadas ao ensino da Física. Enquanto isso, os alunos ouvirão de alguém que transformou seu sonho em realidade.

Em 2005, um então adolescente que participava da I Jornada Espacial deslumbrou-se com o que nela vivenciou. O deslumbre transformou-se num sonho de quem sabe, em um futuro próximo, ingressar no ITA, formar-se engenheiro e trabalhar na área espacial. Nessa época o ITA ainda não oferecia o Curso de Engenharia Aeroespacial. O final dessa história será contado na manhã de sexta-feira pelo engenheiro aeroespacial Danilo Miranda, formado no ITA e hoje trabalhando na empresa Visiona, responsável pelo desenvolvimento do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC), que irá ao espaço no primeiro trimestre de 2017. Mas a sexta-feira ainda reserva a presença de outro brasileiro que ousou transformar sonho em realidade. Apesar de vir de uma família humilde, quando jovem esse brasileiro sonhou ser piloto de avião. Impossível! Diziam-lhe à época. Pois bem, Marcos Pontes ingressou na Academia da Força Aérea (AFA), formou-se engenheiro no ITA e, anos depois, tornou-se o primeiro e único brasileiro até aqui a orbitar a Terra.

Depois de uma semana repleta de atividades e emoções, os participantes da XIV Jornada Espacial regressam às suas casas. Levam consigo um Certificado que registra a participação deles no evento, mas, mais do que isso, levarão consigo a imagem de um Brasil que não conheciam. Um Brasil que dá certo. Um país em que muitos dedicam toda a sua vida profissional em prol do desenvolvimento da ciência e tecnologia nacionais, sem esquecer, no caminho, da necessidade de incentivar as novas gerações. Além de trabalho e dedicação, esses brasileiros sonham, mas sabem que, para realizar grandes feitos, é preciso ousar.

Os participantes da XIV Jornada Espacial levarão consigo as histórias de Casemiro Montenegro Filho, Marcos Pontes e Danilo Miranda, que, cada qual ao seu modo, seguiram frase proferida por Ricardo Oliveira da Silva, participante da VII Jornada Espacial em 2011. Natural de Várzea Alegre, Ceará, filho de humildes agricultores, Ricardo é portador de amiotrofia espinhal. A doença limitou os seus movimentos, mas não os seus sonhos. Alfabetizado em casa pela mãe, com a ajuda dos livros trazidos da escola pelo seu irmão, somente aos 17 anos Ricardo ingressou na 5a série do Ensino Fundamental. Não tardou para o garoto revelar sua genialidade, arrebatando uma medalha de ouro na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP) de 2006, disputada por quase vinte milhões de jovens. Não satisfeito, repetiu a façanha nos anos de 2007, 2008 e 2009. Foi a partir da Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA), na qual acumulou 5 medalhas de ouro e uma de prata, que Ricardo conquistou o direito de participar da VII Jornada Espacial. Atualmente, Ricardo cursa Mecatrônica Industrial no Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), campus de Cedro. Segundo Ricardo, “a palavra impossível só existe para a gente desmoralizá-la”. Que assim seja!

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