6 de dez. de 2017

Com a mente na Lua e nos planetas

Aos 7 anos, o primeiro brasileiro a ganhar um prêmio da Nasa dá palestras em escolas públicas para incentivar mais crianças a levarem os estudos a sério


(Isto É) Aos 5 anos, João Paulo Guerra Barrera começou a contar para os pais uma história de três amigos que viajavam para o espaço. Foi incentivado a colocar a história no papel — naquela idade, ele já era alfabetizado em português e inglês. Surgiu a ideia de um livro para guardar de recordação, “No Mundo da Lua e dos Planetas”. João Paulo também criou um game baseado no livro, com direito a uma estação espacial. Algum tempo depois, o que parecia uma brincadeira deu ao garoto o título de primeiro brasileiro a ganhar o prêmio de mérito literário no Ames Space Settlement Contest, um concurso da Nasa, a agência espacial americana. “Ele sempre teve muita curiosidade e nossa tentativa é de estimular a vontade dele de aprender”, diz a mãe, Margarida. Depois disso, o jovem gênio se animou. Começou a dar palestras em escolas públicas, está escrevendo um segundo livro e desenvolvendo um drone. O projeto não se limita a ser mais um veículo não tripulado. Ele será destinado a recolher lixo espacial. “Minha missão é fazer as crianças gostarem de ler, estudar e proteger o planeta Terra”, diz o pequeno, com a autoridade de quem tem a cabeça no espaço e os pés no chão.

Pneu de bicicleta
Enquanto desenha em uma lousa os drones e a rede que recolherá o lixo no espaço, João Paulo explica sua ideia e deixa transparecer a naturalidade com que lida com o tema. “Existe muito lixo espacial, mais de 30 mil peças. São objetos, pedaços de foguetes e de satélites”, diz. Se um desses itens colide, uma explosão pode causar danos irreparáveis. Evitar futuros problemas com acidentes espaciais é uma ideia de adulto, mas João Paulo demonstra seu plano com traços pueris, típicos de uma criança de 7 anos. “Não parece um pneu de bicicleta?”, questiona, e emenda antecipando o conteúdo de seu novo livro: “Vou falar sobre três crianças que moram aqui. Será uma estação espacial gigantesca.”

“Minha missão é fazer as crianças gostarem de ler, estudar e proteger o planeta Terra”

Em 2018, ele entra para o 4º ano do Ensino Fundamental, praticamente dois anos antes da média. “Gostaríamos de matriculá-lo em uma instituição com acompanhamento mais específico”, diz a mãe. O impeditivo são os custos. “Temos limitações financeiras, mas bancamos toda a viagem para receber o prêmio nos EUA”, diz o pai, Ricardo. “Fico imaginando quantos milhares de crianças como o João Paulo devem existir no Brasil mas não têm o menor incentivo”. Atualmente, o País ainda registra 430 mil crianças entre 6 e 14 anos fora da escola. É apenas 1,5% de todos os jovens nessa faixa etária, mas ainda assim preocupa.

Em uma nação onde as crianças não têm nem o essencial, o estímulo para desenvolverem seus talentos específicos é quase inexistente. A história de João Paulo mostra a urgente necessidade de investir nos pequenos, que podem demonstrar capacidades e conhecimentos sobre um tema e nele vislumbrar um futuro brilhante.

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