(The New York Times / Terra) Em 22 de julho, o mais longo eclipse solar do século 21 vai escurecer o céu ao longo de um corredor estreito de terras asiáticas e do oceano Pacífico. Aventureiros fascinados assistirão a um disco negro de aparência sobrenatural substituindo o sol por cerca de seis minutos e meio a partir da Índia, passando pela China, em direção ao mar da costa sul do Japão. Eu não poderia deixar de ser um deles.
Vi meu primeiro eclipse solar total na Hungria em 1999, logo depois do meio-dia em uma clara tarde de verão. Meu amigo Tamas e eu estávamos visitando seus pais em Zanka, uma vila na costa do lago Balaton, e quando estava quase chegando a hora, ficamos parados no jardim conversando, na expectativa, mas, como parece claro agora, despreparados.
Com a lua obscurecendo cada vez mais o sol, o céu escureceu, virando um violeta brilhante.
Cigarras, confusas pelo anoitecer do meio-dia, começaram a entoar a canção noturna. A temperatura caiu. A brisa se intensificou. Quando o eclipse era total, retirei meus óculos especiais - essenciais para ver as fases do eclipse com segurança - , casualmente olhei para o sol e cambaleei para trás, meu cérebro vacilando.
A transformação da realidade em um eclipse solar total é indescritível. Fiquei hipnotizado, desorientado, chocado, como se tivesse escorregado e caído em um buraco direto para um universo alternativo. Fui a estrela inconsciente de um episódio de "Além da Imaginação."
Meros minutos depois, o sol reapareceu detrás da lua e tudo era familiar de novo. Tão repentinamente quanto começou, meu primeiro eclipse solar havia terminado. Porém, como milhares de outros ao redor do mundo, o eclipse me cativou.
Um número crescente de caçadores de eclipse, ou umbráfilos, viajam para os confins da Terra especificamente para ver eclipses solares, e operadores turísticos apareceram para levá-los.
Além da excitação de estar na sombra da lua, ou umbra, um eclipse é muitas vezes a peça central de uma viagem de aventura em climas exóticos.
Os umbráfilos já perseguiram eclipses nos lagos Kazakh, nos safaris da Zâmbia e nos desertos algerianos. Eles fretaram navios para levá-los ao Atlântico Norte, ao Caribe e ao meio do Pacífico.
Eles sobrevoaram o Pólo Norte, com os rostos pressionados contra janelas congeladas para ver um eclipse a 35 mil pés de altitude.
Os mitos sobre os eclipses são pitorescos: o sol e a lua lutando ou fazendo amor, lobos famintos ou cobras devorando a luz. Mas a antiga lenda chinesa, em que um eclipse é causado por um dragão engolindo o sol, parece especialmente apropriada. Fanáticos por eclipses estão dispostos a gastar qualquer quantidade de tempo e dinheiro para perseguir o dragão.
Os melhores passeios para ver eclipses são geralmente controlados por operadores que entendem as condições locais, que podem ser caóticas para os viajantes, e que asseguram transporte confiável, as melhores acomodações e pontos de observação.
Como as nuvens podem obscurecer a visão de um eclipse, os operadores de passeios marcam observações em pontos com maior probabilidade de fornecer um tempo claro. A maioria dos passeios oferece palestras sobre a ciência dos eclipses e a arte de observá-los, incluindo o mantra vital para os marinheiros de primeira viagem: não se preocupe com câmeras e outras distrações; apenas sente-se e aproveite.
A experiência evoca uma linguagem mítica e narcótica. "Um eclipse é um vislumbre do mundo de uma perspectiva um pouco fora da usual," disse Liz O'Mara, gerente de marketing interativo de Nova York e veterana de três eclipses. "Desse ponto privilegiado, posso ver mais facilmente nossa posição no universo."
Glenn Schneider, astrônomo do Observatório Steward da Universidade do Arizona que já viu mais eclipses solares totais (27) do que o número de vezes que os Yankees ganharam a World Series (26), descreve a experiência em termos mais científicos: "A totalidade é mais forte do que opióides ou feromônios."
O alinhamento perfeito da Terra com a lua que obscurece o sol em um eclipse total ocorre apenas a cada 16 meses, não dura mais de sete minutos e meio (geralmente apenas três ou quatro minutos), e é visível para apenas 1% da superfície da Terra. O último eclipse visível da cidade de Nova York foi em 1925 e não durou mais de um minuto; o próximo acontecerá em 2079. Se você é muito jovem e saudável, você pode esperar que um eclipse venha até você. Caso contrário, você precisa caçá-lo.
E foi o que fizemos. Em março de 2006, Tamas e eu nos encontramos em Gana para nosso segundo eclipse. Voamos para Accra, a capital, e subimos num ônibus para Cape Coast, a cerca de 144 km no sudoeste. Ao invés de nos juntarmos ao grupo aparentemente ruidoso de caçadores de eclipses na praia fora da cidade, compartilhamos o momento com um grupo local - quatro funcionários do Hotel Mighty Victory. Enquanto a lua deslizava sobre a superfície do sol, fiquei repentinamente ansioso. Iria mesmo ser tão inspirador quanto eu me lembrava?
Não precisava ter me preocupado. Quando o último diamante do sol se escondeu atrás da lua, eu novamente fui transportado para "Além da Imaginação," dessa vez por três minutos e 20 segundos.
O eclipse deste ano será meu primeiro na companhia de outros caçadores - 86 umbráfilos liderados por Rick Brown, um corretor de commodities de Long Island, em Nova York. Vamos nos reunir em um ponto de observação particular nos arredores de Wuhan, China, um pouco depois do nascer do sol. Juntos, vamos realizar rituais para repelir as nuvens, colocar nossos óculos de eclipse e esperar. No momento do eclipse total, mesmo os veteranos mais acostumados provavelmente vão chorar com fervor religioso. Tudo parece ser um pouco de exagero - até você ver um.
Bill Kramer, consultor de informática de Ohio que administra um website sobre caça de eclipses, se descreve como um cético em relação a maioria das coisas supostamente maravilhosas, mas não essa experiência. "Um eclipse," ele disse, "é algo que de fato faz juz à sua badalação."
Um abrangente website para caçadores de eclipse é o www.eclipse-chasers.com. Para datas e mapas do Google de eclipses passados e futuros, consulte www.eclipse.gsfc.nasa.gov/eclipse. Óculos para eclipse são essenciais quando o eclipse ainda não chegou à totalidade; uma fonte para eles é www.rainbowsymphonystore.com.
Depois de 22 de julho, os próximos três eclipses solares totais serão em 11 de julho de 2010, no Pacífico sul; em 13 de novembro de 2012, no norte da Austrália; e em 3 de novembro de 2013, na África central.
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