18 de out. de 2010

Inconveniências do horário de verão

(Ulisses Capozzoli - Scientific American Brasil) A zero hora do domingo começou mais um horário de verão no Brasil e os relógios devem ser avançados em uma hora nos estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste.

A justificativa para isso é alguma economia no consumo de energia.

Simulações do Ministério das Minas e Energia preveem que a medida economizará 0,5% de energia durante todo o período em que estiver em vigor.

Segundo dados de pesquisa divulgados pela revista americana Journal of Apllied Psycology, na edição de setembro passado, um número significativo de acidentes ocorre na primeira segunda-feira posterior à adoção do horário de verão nos Estados Unidos.

De acordo com a publicação, a adoção do horário de verão faz com que as pessoas durmam 40 minutos menos na segunda-feira que segue a mudança de horário e esta é uma das explicações para a elevação no número de acidentes.

No Brasil, o horário de verão foi adotado pela primeira vez durante o governo de Getúlio Vargas, em 1931/32 e 1932/33. Depois de abandonada temporariamente, a medida voltou a ser utilizada a partir de 1949.

Aqui, tem prevalecido o argumento puramente economicista de redução no consumo de energia, ainda que mesmo esta justificativa seja pouco significativa.

Assim, o horário de verão é adotado de forma burocrática, formal, e mesmo autoritária, a cada ano, sem que existam pesquisas confiáveis sobre o impacto da decisão na saúde da população.

Além da saúde, não há qualquer consideração quanto à segurança de moradores de bairros insuficientemente iluminados em torno das metrópoles Nacionais.

Boa parte desses moradores deixa suas casas quando o dia ainda não está suficientemente claro, pela manhã, a caminho de seus locais de trabalho.

A idéia de aproveitar a iluminação proporcionada pelos dias mais longos do verão pode ter partido do cientista e político americano Benjamin Franklin (1706-1790) em artigo publicado no Journal de Paris. Mas a decisão de adotá-lo pela primeira vez só ocorreu na noite de 30 de abril para primeiro de maio quando os relógios da Alemanha e Áustria foram adiantados de uma hora.

Posteriormente, entre outras razões pelos efeitos da Primeira Guerra Mundial, o horário de verão estendeu-se a outros países.

Em comparação com o Brasil, no entanto, esses países situados a uma latitude maior que a brasileira tem efeitos positivos dessa medida.

A cidade de São Paulo, onde a medida será adotada, tem latitude -23,32’ o que significa que está a 66.68’ do pólo geográfico Sul (um grau vale 111 km, o que indica que estamos a quase 7.500 km do pólo geográfico Sul).

Agora, considere que, durante o verão, a duração do dia é crescente em direção ao pólo, enquanto a duração da noite é decrescente.

Em pleno pólo, o dia durante o verão é de seis meses, até a chegada do inverno, quando a duração da noite é que chega a um semestre inteiro.

A consequencia disso é que o horário de verão é bastante eficiente para países de elevada latitude, mas não traz benefícios significativos a países como o Brasil, além do 0,5% alegado de economia de energia.

Na ausência de estudos sobre dados que impactam a saúde e as populações de bairros periféricos e insuficientemente iluminados das periferias metropolitanas, (maiores riscos de assaltos e outras formas de violência) seria recomendável analisar os efeitos dessa medida, antes de adotá-la mecanicamente, como costuma acontecer a cada aproximação do verão.

Até porque, do ponto de vista cotidiano (desencontro de horário entre as regiões que adotaram e as que não se submeteram à medida, entre outros efeitos) o horário de verão é só mais um complicador.

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