6 de dez. de 2010

Exobiologia e sensacionalismo

(Ulisses Capozzoli - Scientific American Brasil) O anúncio feito pela agência espacial americana (Nasa), envolvendo uma entrevista concedida ontem (dia 2) para anunciar descobertas de natureza exobiológica criou uma falsa expectativa, ao que tudo indica, em escala global.

A entrevista, dada pelo casal de pesquisadores Ronald Oremland e Felisa Wolfe-Simon, da equipe de 12 pesquisadores que participaram de um trabalho sobre uma bactéria que utiliza arsênico como nutriente, coincidiu com a publicação de um artigo sobre este assunto na revista científica Science.

A bactéria foi localizada num lago (Mono) na Califórnia e tem, ao que tudo indica, origem terrestre.

O inusitado, aqui, é a presença de arsênico, o que sugere que formas de vida extraterrestres podem ter química bastante diversa da que conhecemos aqui, ainda que isso seja apenas uma evidência dessa possível diversidade e não elimine mais amplamente a necessidade de água ou mesmo refute a base orgânica (com presença de carbono) para outras formas de vida no Universo.

Em resumo: o que poderia ser uma elucidação de um tema fascinante ao grande público ficou ainda mais confuso que já era.

Por quê?

Há várias razões para se compreender esse desencontro.

Um delas está ligada à blogosfera e à comunicação online que, se tem a vantagem da rapidez, tem também a desvantagem da superficialidade, sumariedade e, portanto, o potencial de espalhar confusão em lugar de inteligibilidade possível.

Vida fora da Terra - certamente para a maioria das pessoas, incluindo autores de blogs espalhados pelo planeta - significa vida inteligente, o que não é, necessariamente, verdade.

Esta talvez tenha sido a razão principal da expectativa seguida de “frustração”.

Mas o anúncio feito pela Nasa, sobre a entrevista, também contribuiu para criar um clima suspense inconveniente.

Se um desses dias recebermos um sinal de uma possível civilização entre outras estrelas da Galáxia, a partilha dessa informação com o público não será nem sumária, nem superficial.

Uma carta aprovada em 1995, numa reunião regional da União Astronômica Internacional (IAU), em Montevidéu, no Uruguai, prevê uma sequencia de procedimentos que são os seguintes:

1) O astrônomo ou astrônomos que captar os sinais suspeitos de serem de natureza artificial (inteligente) deve (m) repassar as informações para checagem de seus colegas.

2) Depois da eventual confirmação pelos pares, quando for inequívoca a idéia de que realmente os sinais provêm de uma outra civilização, a informação será enviada ao secretário geral da Organização das Nações Unidas (ONU).

3 A ONU, então, deve comunicar todos os seus membros associados para saber se deve dar uma resposta ao sinal recebido ou se devemos manter silêncio sobre nossa presença no Sistema Solar, localizado do braço da Órion da Galáxia.

Sinais no comprimento de ondas de rádio (radioastronomia) mais longos que a luz visível (o comprimento de onda é a única diferença entre luz visível, rádio, ultravioleta ou raios-X e gama, pois todas são radiações eletromagnéticas) é um dos meios mais apropriados para eventual recebimento de sinais alienígenas. Ou transmissão de sinais a eventuais civilizações de nossa parte.

Assim, se outra informação dessa natureza voltar a circular pela internet/blogosfera, as pessoas devem levar em conta que não se trata de contato com possíveis alienígenas inteligentes.

Quanto à descoberta da bactéria que se nutre de arsênico, embora bastante interessante, não chega a ser uma notícia tão surpreendente.

Descobertas acidentais já revelaram a presença desses microorganismos em reatores nucleares, com capacidade para regenerar seu código genético.

Além disso, esperar que as formas de vida como as terrestres se estendam pelo Universo não é mais que um sinal do velho geocentrismo.

Até porque estamos longe de conhecer a diversidade das formas de vida no nosso próprio mundo.

Especialmente nas profundezas oceânicas.
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E mais:
Brasil prepara centro de biologia "ET" (Folha/JC)

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