7 de set. de 2011

Observatório no Sertão Nordestino Rastreia Asteróides Ameaçadores

Equipe do projeto Impacton, coordenado pelo Observatório Nacional, apresenta seus primeiros resultados científicos em reunião da Sociedade Astronômica Brasileira (SAB)



(SBPC/Brazilian Space) A gestação de um bebê dura nove meses, mas a de um telescópio capaz de rastrear asteróides - pelo menos no Brasil - consumiu nada menos que nove anos. "A boa notícia é que finalmente o Impacton é uma realidade", afirmou Daniela Lazzaro, coordenadora científica do projeto e pesquisadora do Observatório Nacional, em conferência realizada na 36ª Reunião Anual da Sociedade Astronômica Brasileira (SAB), em Águas de Lindóia (SP).

Durante a apresentação, Lazzaro apresentou os primeiros resultados científicos da chamada Iniciativa de Mapeamento e Pesquisa de Asteróides nas Cercanias da Terra no Observatório Nacional - nome que corresponde à sigla Impacton. Alguns asteróides já foram rastreados, inclusive um (2011 GP59) que passou a meros 525 mil km da Terra (menos de duas vezes a distância até a Lua), em abril de 2011. "O bichinho andava numa velocidade muito grande, foi um ótimo teste para nós", revelou a astrônoma.

Mas a alegria pelos primeiros resultados científicos se misturou durante a apresentação à angústia gerada pelos entraves impostos pela legislação brasileira à conclusão do projeto. "As dificuldades estão menos ligadas à quantidade de recursos, e mais à falta de flexibilidade para sua utilização", disse Teresinha Rodrigues, pesquisadora do ON que ficou encarregada da infraestrutura do projeto e apresentou o lado administrativo do Impacton, na mesma conferência.

A instalação - O observatório, que conta com um telescópio com espelho de um metro de diâmetro, foi construído em Itacuruba (interior de Pernambuco), uma cidade com cerca de quatro mil habitantes que oferecia as melhores condições climáticas para os cientistas, com média de 280 a 300 dias sem chuva por ano.

Embora a localização fosse propícia à pesquisa, o isolamento dificultava a empreitada - poucas empresas se mostravam interessadas em executar trabalhos elementares, como a construção de um muro, em razão da falta de acesso ao local. Para complicar ainda mais, a legislação ainda exigia a realização de licitação para todo e qualquer investimento, por mais simples que fosse. É um processo que consome muito tempo, por vezes sem chegar ao resultado desejado, e o projeto vai ficando mais caro - com a necessidade de manter gastos operacionais e de manutenção por mais tempo.

Resultado: uma idéia nascida em 2002 só foi concluída em 2011, principalmente por entraves burocráticos. "É uma questão que a gente deseja deixar para reflexão", disse Rodrigues.

Acompanhamento - O foco do projeto Impacton e seu observatório dedicado, o Observatório Astronômico do Sertão de Itaparica (OASI), não é encontrar novos objetos que estejam em órbitas próximas à da Terra - ofertando, portanto, risco de colisão -, mas sim acompanhar aqueles que foram recém-descobertos por outras equipes.

"Tem muita gente descobrindo novos objetos, mas uma coisa que pouco se diz é que 70% de todos os asteróides descobertos pelos diversos projetos de busca são imediatamente perdidos", revela Lazzaro. "É feita uma estimativa rápida da órbita, conclui-se que ele não vai colidir no futuro próximo com a Terra e eles são abandonados. Acontece que essa órbita determinada às pressas tem muita imprecisão."

A idéia é não deixar isso acontecer, pegando o trabalho do ponto em que outros grupos deixaram. Com isso, espera-se criar uma base de dados robusta sobre os NEOs (Objetos Próximos à Terra, em inglês) que permita saber onde eles realmente estão e quais são suas características.

Embora a maior parte dos asteróides próximos à Terra com mais de um km já esteja devidamente catalogada, a população de objetos de menor porte - com mais de 140 m de diâmetro, capazes de grande devastação, embora não representem o fim da civilização - ainda é vastamente desconhecida. Cerca de cinco mil foram observados, de estimados 100 mil.

Até agora, o pessoal do ON realizou seis missões ao OASI, entre março e agosto, para observação e caracterização de asteróides. Mas a melhor notícia veio na semana passada, quando, pela primeira vez, os cientistas conseguiram controlar o telescópio remotamente, pela internet, sem sair do Rio de Janeiro. Com a automação, a tendência é que o número de observações aumente bastante nos próximos meses. E a equipe já trabalha na análise dos dados já coletados para a preparação de artigos científicos para publicação.

Mais informações sobre o Impacton: www.on.br/impacton.
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