6 de fev. de 2014
Nova técnica pode ser usada para procurar ingredientes da vida em poeira espacial
(Astronomia On Line - Portugal) Embora a origem da vida permaneça um mistério, os cientistas descobrem cada vez mais evidências de que material criado no espaço e entregue à Terra por impactos de cometas e meteoros podem ter dado um impulso para o início da vida. Alguns meteoritos fornecem moléculas que podem ser usadas como blocos de construção para fabricar certos tipos de moléculas maiores fundamentais para a vida.
Os investigadores analisaram meteoritos ricos em carbono (condritos carbonáceos) e encontraram aminoácidos, que são usados para produzir proteínas. As proteínas estão entre as moléculas mais importantes para a vida, usadas para fazer estruturas como o cabelo e a pele, e para acelerar ou regular reacções químicas. Descobriram também componentes utilizados para fazer ADN, a molécula que transporta as instruções de como criar e regular um organismo vivo, bem como outras moléculas biologicamente importantes, tais como heterocíclicos de azoto, compostos orgânicos relacionados com açúcares e compostos encontrados no metabolismo moderno.
No entanto, estes meteoritos ricos em carbono são relativamente raros, correspondendo a menos de cinco por cento dos meteoritos recuperados, e os meteoritos representam apenas uma parte do material extraterrestre que chega à Terra. Além disso, as moléculas de construção da vida aí encontradas estão geralmente a baixas concentrações, normalmente partes por milhão ou partes por milhar de milhão. Isto levanta a questão de quão significativa foi a sua entrega de matéria-prima. No entanto, a Terra recebe constantemente outro material extraterrestre - a maior parte na forma de poeira de cometas e asteróides.
"Apesar do seu pequeno tamanho, estas partículas de poeira interplanetária podem ter fornecido quantidades mais elevadas e um abastecimento mais estável de material orgânico extraterrestre à Terra primitiva," afirma Michael Callahan do Centro de Voo Espacial Goddard da NASA em Greenbelt, no estado americano de Maryland. "Infelizmente, os estudos que existem acerca da sua composição orgânica são limitados, especialmente no que diz respeito a moléculas biologicamente relevantes que podem ter sido importantes para a origem da vida, devido ao tamanho minúsculo destas amostras."
Callahan e sua equipa aplicaram recentemente tecnologia avançada para examinar amostras extremamente pequenas de meteoritos em busca de componentes da vida. "Descobrimos aminoácidos numa amostra de 360 microgramas do meteorito Murchison," realça Callahan. "Esta amostra é 1000 vezes mais pequena que o normalmente usado." Um micrograma é um milionésimo de um grama; 360 microgramas equivale aproximadamente ao peso de alguns pêlos da sobrancelha.
"O nosso estudo é uma prova de conceito," acrescenta Callhan. "O Murchison é um meteorito bem estudado. Obtivemos os mesmos resultados estudando um fragmento muito pequeno que estudando um fragmento muito maior do mesmo meteorito. Estas técnicas vão permitir-nos investigar, em estudos futuros, outros materiais extraterrestres em pequena escala, tais como micrometeoritos, partículas interplanetárias e partículas cometárias." Callahan é o autor principal de um artigo sobre esta pesquisa, disponível online na revista Journal of Chromatography A.
A análise de amostras tão pequenas é extremamente complicada. "A extracção de uma quantidade bastante menor de pó de meteorito traduz-se numa concentração bastante menor de aminoácidos para análise," realça Callahan. "Por isso, precisamos de ter técnicas mais sensíveis. Além disso, dado que as amostras de meteoritos podem ser altamente complexas, também são necessárias técnicas altamente específicas para estes compostos."
A equipa usou um instrumento de cromatografia líquida para classificar as moléculas na amostra de meteorito, aplicou então um método de ionização para dar às moléculas uma carga eléctrica e observou a amostra num espectrómetro de massa de alta resolução, que identificou as moléculas com base na sua massa. "Somos pioneiros na aplicação destas técnicas para o estudo de compostos orgânicos meteoríticos," afirma Callahan. "Estas técnicas podem ser muito exigentes, por isso só a própria obtenção de resultados foi o primeiro resultado."
"Estou particularmente interessado em analisar partículas de cometa da missão Stardust," acrescenta Callahan. "É uma das razões porque vim para a NASA. Quando vi pela primeira vez uma foto do aerogel usado para capturar as partículas da missão Stardust, fiquei viciado."
"Esta tecnologia também será extremamente útil para procurar aminoácidos e outras potenciais bioassinaturas químicas em amostras enviadas desde Marte e eventualmente materiais das plumas das luas geladas Encelado e Europa," afirma Daniel Glavin, co-autor do artigo.
Esta tecnologia e as técnicas laboratoriais que o laboratório Goddard desenvolve para aplicar na análise de meteoritos será valiosa para futuras missões de recolha e retorno de amostras, tendo em conta que a quantidade de amostras será limitada. "As missões que envolvem a recolha e envio de material extraterrestre para a Terra costumam recolher apenas uma quantidade muito pequena e as próprias amostras podem também ser extremamente pequenas," realça Callahana. "As técnicas tradicionais usadas para estudar estes materiais geralmente envolvem composição inorgânica ou elementar. Ainda não é rotina tendo como alvo as moléculas biologicamente relevantes nestas amostras. Ainda não chegámos lá, mas estamos a caminho."
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