6 de out. de 2015

Físicos ganham Nobel por descobrir massa de neutrinos

Cientistas revelaram que essas particulas subatômicas mudam de classe


(O Globo) A Real Academia de Ciências da Suécia divulgou nesta terça-feira às 11h49m em Estocolmo (6h49m pelo horário de Brasília) os vencedores do Prêmio Nobel de Física de 2015.

Os laureados foram o japonês Takaaki Najita, da Super-Kamiokande Collaboration da Universidade de Tóquio, no Japão; e o canadense Arthur B. McDonald, do Observatório de Neutrinos de Sudbury, na Universidade Queen, no Canadá, pela descoberta da oscilação dos neutrinos, mostrando que, ao contrário do que antes se acreditava, essas particulas têm massa. Ambos dividirão o prêmio de US$ 963 mil.

Depois dos fotons, como são chamadas as partículas de luz, os neutrinos são as partículas subatômicas mais numerosas do universo. Eles são gerados por estrelas, como o Sol, e "inundam" a Terra. Todas as matérias existentes, incluindo os nossos corpos, são atravessados por trilhões de neutrinos todos os dias.

Justamente porque essas particulas praticamente não interagem com nenhum elemento, a ciência acreditava que eles não tinham massa. Eram considerados "fantasmas". Mas os estudos de Najita e McDonald demonstraram que os neutrinos conseguem mudar de classe. Essa metamorfose é uma prova de que neutrinos têm massa. A descoberta mudou nossa compreensão a respeito das particulas "elusivas", sobre as quais não se sabia quase nada.

A revelação começou com um mistério que deixou os físicos encucados ao longo dos anos 90. Os detectores baseados na Terra estavam identificando um volume muito menor de neutrinos do que os modelos previam a partir de reações nucleares do nosso Sol e de supernovas distantes.

A “caçada” começou em 1998, quando Takaaki Kajita apresentou a descoberta de que os neutrinos parecem submeter-se a metamorfoses; eles trocavam identidades em seu caminho para o detector Super-Kamiokande, no Japão. Os neutrinos ali capturados criaram reações entre os raios cósmicos e a atmosfera da Terra.


Enquanto isso, do outro lado do planeta, os cientistas canadenses estudavam neutrinos provenientes do Sol. Em 2001, o grupo de pesquisa liderado por McDonald provou que esses neutrinos também conseguem mudar de identidade.

Juntos, os dois experimentos descobriram um novo fenômeno - as oscilações de neutrinos. Isso derrubou uma tese já existente há mais de 50 anos, que considerava que os neutrinos eram desprovidos de massa. Os estudos premiados são, segundo os organizadores do Prêmio Nobel, inovadores para a física de partículas e para a compreensão do Universo.

Há bilhões de neutrinos fluindo no organismo a cada segundo. Não é possível vê-los ou senti-los. Eles se locomovem no espaço quase na velocidade da luz e pouco interagem com a matéria. Então, sua origem era misteriosa.

MOMENTO ‘EURECA!’
Em uma entrevista coletiva realizada por telefone, McDonald foi perguntado por um repórter se a presença de massa nas partículas-fantasma pode trazer benefícios práticos. Para o cientista, a parte do trabalho que envolve neutrinos provenientes do Sol ajuda a compreender melhor o núcleo do astro, o que facilitaria pesquisas de processos como a fusão nuclear.

— Houve um momento “Eureca!” quando conseguimos ver que os neutrinos pareciam mudar de um tipo para outro em sua viagem do Sol para a Terra — disse o cientista.

Algumas dessas partículas-fantasma foram criadas já no Big Bang, enquanto outras foram constantemente criadas em vários processos no Universo e na Terra — a partir da explosão das supernovas, da morte de grandes estrelas e da reação das instalações nucleares, entre outros. Mesmo dentro de nossos corpos, uma média de cinco mil neutrinos por segundo é liberada quando cai um depósito de potássio. A maioria das partículas-fantasma que chega à Terra é originária de reações nucleares no interior do Sol. Atrás apenas das partículas de luz, os fótons, os neutrinos são as partículas mais numerosas do Universo.

Em entrevista ao jornal inglês “Guardian”, Jon Butterworth, chefe do Departamento de Física e Astronomia da Universidade College London, afirmou que o trabalho “resolveu o longevo problema do neutrino solar, um dos assuntos que ensinamos aos estudantes como sendo uma estranha anomalia ainda não compreensível - a quantidade insuficiente de neutrinos provenientes do Sol”.

Esta é a segunda categoria do Nobel premiada esta semana. Na segunda-feira, a láurea de Medicina foi concedida à chinesa Youyou Tu, ao irlandês William Campbell e ao japonês Satoshi Omura por suas pesquisas que contribuíram para a criação de novos tratamentos para doenças parasitárias, incluindo a malária.
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