8 de jan. de 2016

2015: O ano em que o homem deu um passo além da Lua

Descobertas em Marte e Plutão fizeram conhecimentos avançarem

(ANSA/JB) O ano de 2015 entrou para a história como o período em que a humanidade fez algumas das maiores descobertas sobre como o Universo funciona. Entre os feitos, estão a revelação de que água salgada corre pela superfície de Marte, a maior aproximação já feita por uma sonda de Plutão, o planeta-anão, e o pouso histórico do Falcon 9 intacto.

No dia 28 de setembro, a Nasa anunciou ao mundo que há "linhas de encosta recorrentes" com cerca de cinco metros de largura de água líquida no planeta vermelho. A confirmação foi obtida graças aos dados utilizados pelo satélite MRO (Mars Recoinassance Orbiter) em pesquisas conduzidas pelo Instituto de Tecnologia da Georgia.

Em entrevista à ANSA, o astronauta Marcos Pontes, único brasileiro da história a ir para o espaço, disse que essas descobertas "são parte de um esforço contínuo da Nasa no avanço da exploração espacial" e que, "certamente, haverá um aumento na frequência dessas descobertas na medida que avançamos com a ciência e a tecnologia desenvolvidas aqui".

O engenheiro mecânico José Bezerra, que há 30 anos atua no setor aeroespacial, acrescenta que a descoberta sobre Marte anunciada neste ano é resultado do processo "gradativo" na exploração do astro. "Primeiro o observarmos daqui da Terra, utilizando os equipamentos dos séculos XVIII e XIX. Na segunda metade do século XX, realizamos sobrevoo, orbitamos e só depois pousamos em Marte. Não satisfeitos, passeamos pela sua superfície. Quem sabe, até o final deste século, enviaremos humanos para lá. Sim, estamos a caminho. É como subir uma escada, um degrau de cada vez", ressaltou o especialista.

Segundo Bezerra, o resultado apresentado agora começou ainda nos anos 1800, com o astrônomo Percival Lowell que, influenciado por Giovanni Schiaparelli, "teria observado 'canais' em Marte". "Com o advento da Corrida Espacial, que nos levou à Lua, soviéticos e norte-americanos exploraram nossa vizinhança. A Mariner 4, em 1965, foi a primeira espaçonave a sobrevoar Marte.

Ela não pousou, mas produziu as primeiras imagens de perto daquele planeta. Desde então, foram mais de 40 missões, muitas das quais incluindo robôs que andaram (e ainda andam) na superfície marciana", informou.

A novidade em Marte pode ainda abrir caminho para outras grandes conquistas para a Humanidade, como a exploração da vida fora da Terra e ainda a criação de missões tripuladas para outro corpo celeste. A conquista é muito importante porque parte do pressuposto de que, com a existência de água, é possível haver alguma forma de vida.

"A descoberta de água líquida e salgada (a existência de água na fase sólida nos pólos marcianos já tinha sido comprovada antes) em Marte é um marco. Por quê? Porque a vida, como a conhecemos na Terra, surgiu na água. Daí, se Marte abriga água, também poderá abrigar vida. Há também outro ponto fundamental: se houver água em Marte, poderemos utilizá-la em possíveis colônias humanas", ressaltou Bezerra à ANSA.

Em coletiva no mês de abril, a cientista-chefe da Nasa, Ellen Stofan, afirmou que "há fortes indícios" de que exista vida fora do planeta e que, "muito provavelmente em 20 ou 30 anos, a Humanidade conseguirá encontrar provas definitivas". Stofan destacou que essas descobertas "não serão de homens verdes e sim de microorganismos". - Missões espaciais: Na questão das missões tripuladas, Pontes acredita que "esse campo terá enormes desenvolvimentos nos próximos 10 anos".

Apesar de não achar que outro astronauta brasileiro possa morar na Estação Espacial Internacional (ISS), como ocorreu com ele, o paulista aposta na questão do turismo espacial.

"Teremos turistas espaciais brasileiros indo ao espaço dentro de cerca de três anos. O primeiro será o empresário Marcos Palhares, de São Paulo. Temos até um estagiário da AEB [Agência Espacial Brasileira], Pedro Neme, que ganhou um sorteio de um voo turístico da empresa aérea KLM, que deverá fazer um voo suborbital de sete minutos no espaço, talvez em uns sete anos a partir de agora (a espaçonave ainda está no estágio primário de desenvolvimento)", disse o astronauta.

Para o desenvolvimento das missões específicas a Marte, Bezerra acredita que "a grande questão é como fazer o ser humano sobreviver, fisicamente e psicologicamente, por tanto tempo a um ambiente tão hostil". De acordo com dados do engenheiro, uma viagem só de ida ao planeta vermelho duraria cerca de três anos.

"Você já se imaginou vivendo três anos enclausurado com mais três pessoas e sem perspectivas de voltar a sua casa em curto prazo? Costumo dizer que o fator mais crítico de uma viagem humana ao planeta vermelho não é a tecnologia, mas a sobrevivência do ser humano sob condições bastante hostis.

Conseguirá o ser humano sobreviver a essa empreitada?", perguntou o especialista.

Como comparação, o engenheiro destaca que uma viagem à Lua - onde 12 astronautas já colocaram os pés - demora cerca de três dias e meio. Porém, Bezerra disse crer que a Humanidade já domina "100% a tecnologia para viajar pelo Sistema Solar e além". - Plutão: Plutão, que virou o queridinho das redes sociais no mês de julho, teve um dos anos de maior destaque na história da ciência desde que foi rebaixado a planeta-anão em 2006. Graças à sonda New Horizons, foi possível ver a superfície do astro de maneira nunca vista antes. Maior do que a previsão feita por especialistas (ele tem 2.370 contra os 2.301 previstos anteriormente), as imagens de Plutão mostraram que ele tem uma névoa muito mais densa do que se imaginava, com até 130 quilômetros de extensão.

Também foi possível descobrir que o pequeno astro tem cadeias de montanhas com até 3,5 mil metros de altura e que o céu é azul e semelhante ao da Terra. Uma curiosidade sobre a New Horizons, que havia sido lançada para essa missão em 19 de janeiro de 2006, é que o planeta mudou de patamar durante a viagem da sonda, já que apenas em setembro daquele ano o planeta foi "rebaixado". O engenheiro mecânico ressaltou que as descobertas que foram e que serão realizadas em uma área tão distante da Terra "ajudarão os cientistas a compreenderem melhor como se deu a formação do Sistema Solar. É preciso encaixar a teoria às observações. Nenhuma teoria é válida no mundo científico sem que seja comprovada", destacou. Seguindo a mesma linha de pensamento, Marcos Pontes disse que esses feitos "são marcos na nossa caminhada para entender o universo que vivemos". "A cada descoberta surgem novas possibilidades e, algumas vezes, a necessidade de reescrever a ciência tida como correta até então", complementa o astronauta. Revelado em 1930, Plutão foi "rebaixado" porque está em uma região repleta de objetos, o Cinturão de Kuiper.

De acordo com uma nova definição da União Astronômica Internacional, um planeta precisa ser esférico, girar em torno de um astro maior – como o Sol, por exemplo – e ter órbita livre, sem nenhum objeto em seu caminho. - Outras descobertas de 2015: Além dessas, a Nasa ainda descobriu, através do robô Curiosity, que o pôr do sol em Marte é azul e encontrou a galáxia mais luminosa do Universo – que emite uma luz equivalente a 300 trilhões de sóis. A agência norte-americana ainda divulgou uma foto "épica" da Terra, 43 anos depois da primeira imagem do "planeta azul" ter sido divulgada. Outro grande feito de 2015 foi a descoberta de um "planeta gêmeo da Terra", batizado de Kepler 452B. "Os anos no Kepler 452B têm a mesma duração que os da Terra e ele está há milhares de anos na 'zona habitável' de sua estrela. Isso significa que pode ter hospedados vida sobre sua superfície", destacou o responsável pela análise de dados do telescópio Kepler, John Grunsfeld, em julho deste ano.

Os cientistas também conseguiram chegar ao ponto mais póximo de uma das luas de Saturno, a Encelado, em uma parceria da Nasa, da Agência Espacial Europeia (ESA) e da Agência Espacial Italiana (ASI). A sonda Cassini chegou próximo ao sexto maior satélite do planeta em 15 de outubro e foi constatado que ela tem "um oceano quente embaixo da crosta de gelo". Por fim, no último dia 22 de dezembro, a empresa norte-americana SpaceX colocou 11 satélites em órbita terrestre e, pela primeira vez, conseguiu trazer de maneira intacta à Terra um módulo do foguete Falcon 9. (ANSA)

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