22 de jan. de 2016

Pequena ilha europeia ganha fama com um dos 'céus mais escuros do mundo'

A escuridão em Sark é tão densa que parece ter peso. O que torna fácil perceber estrelas cadentes. Em apenas 30 minutos, contei quatro. Além do canto distante de um corvo e as badaladas dos sinos em um igreja distante, nada mais perturba o silêncio na madrugada da pequena ilha situada no Canal da Mancha.



Com 600 habitantes, Sark pertence ao Reino Unido, mas não poderia ser mais distante da modernidade de uma cidade como Londres. Não tem carros ou iluminação artificial nas ruas. É bem menos conhecida que a vizinha Guernsey, um paraíso fiscal. A ilha tem área de apenas 3,2 km quadrados, mas conta com um algo especial: em 2011, foi apontada com um dos lugares de céu mais escuro do mundo.




Observatório simplório
A honraria veio da Internacional Dark-Sky Association, entidade que estimula esforços contra a poluição luminosa. Sark não é o único lugar a ter recebido status de céu escuro, mas seus colegas de honraria ficam em regiões remotas e quase inabitadas, e não a apenas 40 km da costa da França.

Preservar o céu é parte dos esforços comunitários em Sark. A ausência de iluminação artificial é abraçada pela população, que usa lanternas para caminhar à noite, e a proibição à circulação de carros faz com que as pessoas caminhem ou andem de bicicleta.

Até 2008, quando foi obrigada a fazer reformas políticas pela União Europeia, a ilha passou séculos como um Estado feudal. Até hoje tem como governante uma figura hereditária, o Seigneur. Por séculos ele liderou um Parlamento composto apenas pelos descendentes das 40 famílias que se estabeleceram na ilha pela primeira vez em 1565, a pedido da então soberana inglesa, a rainha Elizabeth 1ª - que viu nos colonos uma chance para expulsar os piratas do local.

As coisas mudaram tão pouco que há até bem recentemente as leis da ilha exigiam que proprietários de terra mantivessem armas para repelir uma possível invasão de piratas.

Apesar do status de seu céu escuro, foi apenas em outubro do ano passado que a ilha finalmente abriu seu primeiro observatório.

Mas em vez de contar com cúpulas high-tech, o observatório de Sark funciona em um barracão de uma fazenda. Apertado o suficiente para que no máximo seis pessoas se alternem em frente ao telescópio, comprado com o dinheiro de doações da comunidade.

Annie Dachinger, presidente da Sociedade Astronômica de Sark, explica que o interesse de turistas pelos céu de Sark tem crescido – o que representa algo interessante para uma ilha em que turismo e serviços financeiros são os principais motores da economia.

Pergunto a Dachinger o que devemos procurar quando o sol se puser – naquela noite, a previsão era de tempo bom. “Marte, por exemplo, você só vê em um céu realmente escuro, o que não é possível em uma cidade iluminada”, explica. “Podemos também ver a constelação de Orion, bem como partes da Via Láctea, Plêiades e Cassiopeia”.

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