25 de out. de 2012

No rastro dos maias em Chichén Itzá



(Diário de Grande ABC) Quem parte de carro rumo ao interior vê outro tipo de cenário descortinar-se pela janela. De repente, o clima agitado do litoral sede espaço para o silêncio da densa floresta que escondeu por muitos séculos um dos maiores tesouros arqueológicos do planeta e símbolo da cultura maia em solo mexicano: as ruínas de Chichén Itzá, situadas a 198 quilômetros de Cancun (o que dá cerca de três horas na estrada), no coração da península de Yucatán, entre Mérida e Valladolid.

O ideal é usar roupas confortáveis e tênis para evitar torções, já que algumas partes do terreno são irregulares. Também é importante usar chapéu e protetor solar para evitar queimaduras. Tomadas essas precauções, é hora de bancar o Indiana Jones para descobrir os mistérios do El Castillo, templo principal eleito em 2007 como uma das sete novas maravilhas do mundo. A mítica construção piramidal, datada de 514 a.C., guarda uma pirâmide escondida no interior em adoração a Chac Mool (deus associado aos benefícios da chuva) e um trono com um jaguar pintado de vermelho e incrustações de jade, simulando sua pele. Mas os visitantes não podem subir a escadaria que leva ao topo, a fim de manter o monumento preservado.

Além do valor arqueológico, o templo também é uma jóia da astronomia. Suas paredes representam um calendário: os degraus das quatro escadarias e da plataforma superior somam 365, número de dias do ano. Além disso, cada um dos lados alinha-se com um dos pontos cardeais, e os 52 painéis esculpidos em suas paredes fazem referência aos 52 anos do ciclo de destruição e reconstrução do mundo, segundo a tradição maia. A pirâmide foi erguida no terreno de forma a estar voltada ao polo magnético da Terra.
Os habitantes queriam desvendar o caminho dos astros para chegar ao coração dos deuses. E a pirâmide do El Castillo é atração à parte justamente por isso. Um dos espetáculos que melhor revelam a precisão do conhecimento astronômico dos maias ocorre no equinócio, em 21 de março e 22 de setembro. Para eles, essas duas datas marcam a descida de Kukulcán, a serpente emplumada. De fato, nestes dias - e somente neles - o reflexo do sol cria a imagem de uma cobra que desce lentamente pela lateral da escadaria, e que parece se movimentar de acordo com a posição do astro-rei no horizonte, atraindo mais de 40 mil visitantes ao sítio arqueológico para conferir o fenômeno.

"Já no solstício, metade da pirâmide fica no escuro e metade na luz, representando o dia e a noite nos dois hemisférios. E no dia do zênite, uma vez por ano, o sol fica exatamente a pino da pirâmide", explica o guia turístico Sérgio Ponce Villanueva.

Mas os maias não utilizavam a região do parque apenas para cerimônias religiosas e observações astronômicas. Como exímios agricultores, eles dependiam das chuvas para conseguir colheita satisfatória e saciar a sede. Por isso, a maioria dos ritos sagrados tinha o objetivo de pedir a vinda das águas. Não à toa, Chichen Itzá significa ‘a boca de água dos bruxos`ou `poço dos bruxos`.

Próxima dali está a quadra de pedra, onde os maias disputavam um jogo cujo objetivo era passar a bola por entre os anéis da parede. O esporte até parece divertido, até se descobrir que o capitão do time perdedor era decapitado em sacrifício aos deuses. As esculturas e a acústica também são interessantes, já que um simples barulho pode ser ouvido por toda a quadra.

E perto da parte central vislumbra-se o Cenote Sagrado, grande lago, cercado por paredes de pedra, que era usado em cerimônias de sacrifício. Mergulhadores encontraram restos humanos e uma fortuna de ouro e jade em seu fundo. Não por acaso, a produção da Rede Globo locou o parque em 1993 para gravar os capítulos finais da novela que atende pelo sugestivo nome de Deus nos Acuda. Ou seriam deuses?

OUTROS SÍTIOS
Embora Chichen Itzá monopolize as atenções, vestígios da cultura maia também podem ser conferidos em outros sítios arqueológicos da península de Yucatán. A própria zona hoteleira de Cancun possui o seu, batizado de El Rey e com fácil acesso - basta pegar um ônibus circular.

Outro sítio bastante conhecido é o de Coba, que foi uma importante cidade maia e chegou a abrigar 50 mil habitantes. Suas ruínas, templos e escadarias em meio à vegetação impressionam, especialmente a pirâmide principal, que tem 42 metros de altura e proporciona uma excelente vista da paisagem ao redor.

Já na Riviera Maia o destaque fica por conta de Tulum, um dos pontos mais visitados do México. Afinal, em nenhum outro lugar do país o turista encontrará ruínas de templos milenares bem de frente para o mar, formando um cenário único, cinematográfico, perfeito para fotografar os monumentos tendo o mar do Caribe como pano de fundo.

Os templos são cercados por gramados e sinalizações que explicam algumas curiosidades sobre os deuses. As ruínas mais notáveis são as do Templo de Los Frescos, com imagens esculpidas em pedra, e as de El Castillo, que possui grande escadaria e servia para cerimônias de dança. De quebra, o turista ainda pode descer a escadaria e aplacar o calor com um banho de mar. Só para não esquecer que está mesmo no Caribe.

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